Bruno Schmidt, 33 anos, é um atleta de talento e currículo inquestionáveis. O campeão olímpico tem na técnica apurada e na leitura de jogo suas principais qualidades. Já Evandro, 30, preenche todas as características do jogador moderno de vôlei de praia: boa estatura (2,10m de altura), saque potente e vigor físico.
Há um ano e meio, quando decidiram formar parceria, uma expectativa enorme se criou em torno da dupla. Não era para menos, já que estávamos falando de dois dos principais atletas do Circuito Mundial. Expectativa esta que foi amplificada após Bruno e Evandro vencerem a etapa de Fortaleza (CE), do Circuito Nacional, logo em seu primeiro torneio juntos.
O principal objetivo traçado para a temporada 2019 também foi cumprido: a vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Com tantas boas notícias, fica difícil imaginar que a dupla tenha enfrentado dificuldades neste percurso. Mas foi exatamente o que aconteceu com Bruno e Evandro.
“As pessoas acabam não tendo noção, mas fomos a única dupla do cenário mundial que, a uma semana do início da corrida olímpica, precisou mudar a posição de um jogador. Apesar dos 2,10m de altura, o Evandro nunca havia jogado o tempo inteiro no bloqueio. Ele revezava ou ficava no fundo, como foi no Rio 2016. Tivemos que mudar sua posição, o ‘joguei na fogueira’ praticamente”, explica Bruno Schmidt, que trocou o Espírito Santo pelo Rio de Janeiro para treinar com Evandro.
“O Circuito Mundial foi estressante no ano passado. Víamos o potencial da equipe, o potencial individual do Evandro, mas queríamos que tudo acontecesse para ontem. Tivemos que ajustar muitos detalhes em pouco tempo, sem tempo suficiente para construir a equipe”, complementa.
As lesões também perseguiram Bruno durante o ano de 2019, obrigando-o a competir – e a somar pontos na corrida olímpica – longe das condições físicas ideais. O atleta chegou a jogar as últimas duas etapas do Circuito Mundial com um estiramento na coxa. Nesse sentido, a interrupção nos treinos causada pela pandemia pode ser considerada positiva para o atleta. Mas o mesmo não se aplicou a Evandro, que sofreu com a falta de rotina no início do confinamento.
“A parada forçada foi algo triste. Dormia às 2h da manhã, acordava às 7h, assistia meus jogos antigos. Estava entrando numa paranoia dentro de casa, não aguentava mais ficar no meu apartamento. Minha esposa me controlava, eu conversava com a psicóloga, mas tinha saudades da praia, de estar com a minha segunda família”, explica Evandro, referindo-se ao parceiro e à comissão técnica.
Os treinos em dupla foram retomados no fim de julho, na praia do Leblon. Mas Evandro, que sofria com a distância das areias, voltou antes às atividades, em outro ponto da Zona Sul do Rio de Janeiro.
“Ele vinha treinando sozinho na EsEFEx, ali na Urca. Íamos lá três vezes por semana, cumprindo todos os protocolos, e fazendo um trabalho específico de bloqueio, já que ele vem ocupando esta nova função na equipe”, conta Ednilson Costa, o Ed, treinador de Evandro há dez anos, que se mostrou animado com este primeiro mês de treinamentos da parceria.
“As impressões são boas tanto na maturidade do Evandro em relação ao bloqueio como na presença de um Bruno mais leve e descansado. Ele ganhou umas ‘férias’ que não tinha há tempos, pode sanar as pequenas lesões e voltou com ainda mais motivação. Está com fome de bola”, completa o treinador.
Bruno sabe bem o que significa representar seu país nos Jogos Olímpicos, fora a responsabilidade e a pressão envolvidas. Por isso, tem plena consciência que esse descanso pode fazer a diferença lá na frente. Com a energia renovada, ele pretende usar o tempo de treino até Tóquio para melhorar o entrosamento da dupla.
“Considero o Evandro uma máquina, um jogador de potencial estrondoso. Ele tem muita vontade e sabe ouvir o outro. Isso só ajuda minha maneira de jogar. Falo baixo, mas falo bastante no decorrer dos jogos. Tem os que gostam de vibrar, mas eu prefiro conversar com o meu parceiro e ajustar o time. E isso tem sido legal, principalmente nos treinos”, diz.
Evandro, por sua vez, não reclama. Muito pelo contrário. Ele procura incorporar ao seu jogo cada orientação transmitida por Bruno, tamanha sua admiração pelo parceiro.
“Essa cumplicidade entre nós vem antes de jogarmos juntos. Tanto é que sempre tive o sonho de jogar com o Bruno. Vejo o quanto ele é aguerrido e batalhador. Quero que ele faça o menor esforço possível. Tenho a meta de ajudá-lo a ser bicampeão olímpico.”
Para cumprir este objetivo, eles ainda têm um longo caminho pela frente. Até o fim do ano, disputam cinco etapas do Circuito Nacional, sendo a primeira entre os dias 24 e 27 de setembro, no Centro de Desenvolvimento de Voleibol, em Saquarema (RJ). Neste momento, a dupla não prioriza a conquista de bons resultados, mas o aprimoramento físico e tático. Já em 2021, com a retomada do Circuito Mundial, a busca por uma melhor colocação no ranking se torna fundamental, já que os mais bem classificados serão cabeças-de-chave nos Jogos de Tóquio.