Foram oito anos de saudade acumulada até Paulinho Castelo, atacante reserva do Comercial-PI, rever o pai e encerrar assim uma noite de sonhos no Pacaembu. Na quarta-feira em que sua equipe foi eliminada da Copa do Brasil, pelo Palmeiras, após derrota por 5 a 1, o caçula do time piauiense não teve nenhuma razão para lamentar. Pelo contrário, inclusive.
Afinal, em seu primeiro ano como jogador profissional, Paulinho Castelo, 22 anos, já deixou a modesta Campo Maior, com 46 mil habitantes, para atuar em um estádio que já recebeu jogos da Copa do Mundo. "Foi uma grande experiência. Você vê o Kleber e o Valdívia de perto, é uma emoção maior. São jogadores de alto nível, consegui realizar meu sonho", conta o atacante.
Além da questão profissional, a viagem a São Paulo certamente irá marcar a vida de Paulinho Castelo. Foi a primeira vez em mais de duas décadas de vida que ele entrou em um avião. E quem se esquece do primeiro voo? "Não ficamos cansados, chegamos bem. Na verdade foi até melhor do que andar de ônibus", diz sorrindo. "Achei bem legal, não deu medo. Foi tranquilo. É tudo diferente para nós".
Mas o grande momento da noite ainda estava por vir. Foram oito anos de distância entre Paulinho e seu José Francisco, o pai que deixou Castelo do Piauí, cidade onde residia com o caçula e outros quatro filhos, há mais de oito anos. Nos vestiários do Pacaembu, o promissor jogador do Comercial se reencontrou com aquele que foi seu maior incentivador para tentar a sorte no futebol.
"A gente sempre foi bastante apegado, né? Desde criança. Meu pai era goleiro, então me levava para o campo de futebol. Sempre me incentivou para que me tornasse um jogador", conta Paulinho, cujo maior sonho é se consolidar como atleta profissional. Para o pai, a possibilidade de vê-lo enfrentar o Palmeiras foi motivo de grande orgulho.
"Ele era o meu caçulinha e, mesmo até hoje, nos falamos quase todos os dias", conta seu José, orgulhoso de Paulinho. Afinal, quando ele partiu do Piauí para tentar a sorte em São Paulo, o filho era apenas um pré-adolescente sem qualquer perspectiva no futebol. "Vim para cá, conheci outra mulher e acabei ficando", explica ele, acompanhado de Geceni, grávida daquele que será o sexto fruto de seu Zé Francisco.
Para o lamento de Paulinho Castelo, sua experiência no Pacaembu durou apenas quatro minutos, tempo que lhe ofereceu o treinador Aníbal Lemos nos últimos instantes do confronto. Ainda assim, foram marcantes: "quando soube que meu pai estava me vendo lá em cima, deu mais uma energia. Me deu mais vontade de entrar em campo", diz. "Consegui entrar. Acho até que entrei bem, mas não deu para ter reação nenhuma", analisa apesar da participação meteórica.
Na manhã desta quinta-feira, Paulinho e toda a delegação do Comercial embarca de volta para Campo Maior. De tão rápida, a viagem sequer permitiu aos jogadores conhecer um pouco da metrópole São Paulo. Mesmo assim, o caçula leva recordações: "tiramos fotos porque é diferente do Piauí e você tem que aproveitar o momento. É uma oportunidade e não é todo dia que ela bate na porta", explica. Antes do jogo, o hino nacional atrasou pois atletas do rival do Palmeiras fotogravam o túnel de acesso ao gramado.
Paulinho Castelo retorna para o Piauí com a sensação do dever cumprido, apesar do revés e da eliminação. "A gente sabia da dificuldade de enfrentar o Palmeiras, então não fizemos feio. Pelo contrário, bonito. Jogamos pau a pau, não teve pancada e todos estão de parabéns", conta ele.
De fato, o Comercial-PI resistiu por uma hora de jogo no 0 a 0 até ter dois homens expulsos e sofrer cinco gols. Nada que possa tornar menos inesquecível a noite de Paulinho, que só espera não demorar mais oito anos para rever seu Zé Francisco.