Mais de seis anos se passaram desde a madrugada em que Salvador Cabañas levou um tiro na cabeça e por pouco não morreu. O episódio que aconteceu em uma discoteca no México e quase lhe custou a vida hoje faz do ex-atacante paraguaio um homem sereno, sem desejo de vingança. Decepções com família e amigos, segundo ele, rendem mais tristeza que o disparo do dia 25 de janeiro de 2010.
"Ele [atirador] está perdoado faz muito tempo. Não há outra forma de viver em paz. Se eu pensasse 24h por dia em vingança não seria feliz. Tive mais culpa que meu agressor, já que estava às 5h da manhã em uma discoteca. Não era o certo para um jogador de elite. Ainda me pergunto por que fiz isso", lamenta ele ao jornal ABC, numa análise pouco provável para quem estava no auge da carreira.
Cabañas era nome importante da seleção do Paraguai às vésperas da Copa do Mundo de 2010 e uma estrela do América (MEX). Ganhava cerca de US$ 2 milhões por ano. O Manchester United queria contratá-lo, conta ele. Mas uma bala na cabeça mudou tudo.
O disparo foi à queima-roupa pelo narcotraficante José Jorge Garza. Levado para o hospital, o ex-atacante passou por uma cirurgia de alto risco. De acordo com ele, o sucesso do procedimento foi um milagre, a ponto de os próprios médicos, em algum momento, recomendarem aos pais que providenciassem o enterro de Cabañas.
"Fiquei várias horas em coma. Não podia falar nem me mover, mas escutei como os médicos diziam aos meus pais que eles fossem preparando meu enterro", recorda.
O enterro não aconteceu. Cabañas passou por três meses intensos de reabilitação. Foi nesse momento que o maior golpe aconteceu, na análise do paraguaio. Esposa, empresário e advogado, segundo ele, roubaram tudo que ele tinha com assinaturas falsificadas. Alguns tios também colaboraram no golpe, ele revela.
"Sacaram da minha conta US$ 12 milhões. Tiraram de mim uma mansão em Assunção e outras duas casas em Acapulco e Cancún. Também me roubaram joias valiosas. Para ser sincero, doeu mais ser roubado por gente que me amava do que o tiro que levei na cabeça", resume.
Hoje com 36 anos e a bala alojada na cabeça, Cabañas gerencia um complexo esportivo no Paraguai que leva seu nome e recebe crianças de diferentes idades. Sonho que ele divide com outro: o de ser treinador. Atualmente ele comanda um time da quarta divisão. "Só quero reconquistar o que é meu e ficar em paz", finaliza o ex-atacante.