Um jovem jogador entra na área com a bola, tenta cortar o defensor e cai na área após o contato com a perna do zagueiro. Um árbitro manda o lance continuar enquanto o atleta reclama no gramado. A cena ocorreu em um dos campos na sede da Fifa em Zurique e faz parte dos treinamentos para os juízes da Copa-2014.
O objetivo deste movimento é identificar a diferença entre uma falta de fato e uma simulação de pênalti. Para isso, jogadores do Grashopper, time de Zurique, treinam as jogadas em que sofrem uma entrada real de adversário ou em que caem fingindo serem atingidos. Cabe aos 52 candidatos a apitar no Mundial aprender a diferenciar qual o caso em cada lance.
"Precisaríamos ter mais fair play no futebol. Mas é difícil. Então, pedimos para eles [os jogadores] dobrarem o joelho para simular e os árbitros treinarem. Às vezes, é difícil identificar o tipo de contato das pernas. Por isso que o atleta ganha com um mergulho", explicou o chefe de arbitragem da Fifa, Massimo Buzacca.
A questão é que os instrutores da entidade admitem que as circunstâncias e o ambiente da partida interferem na decisão tomada pelos árbitros. Um jogador que faz dez simulações, por exemplo, quando de fato for derrubado na área tem boas chances de ver o juiz ignorar o pênalti, exemplificou Buzacca.
O ambiente da torcida e do próprio país também influenciam nas decisões. Um árbitro criado em um país onde a cultura é de marcar qualquer tipo de falta tende a ser mais rigoroso. O instrutor da Fifa Jorge Larrionda explicou que não quer um "árbitro robô, máquina" que não sabe se adaptar às circunstâncias.
"Evidentemente, o futebol não é o mesmo em todo o mundo. Mas tem que uniformizar a arbitragem. O árbitro tem que ter uma leitura de jogo. Tem que se adaptar a isso [simulação], ao estilo de jogo", contou Larrionda.
Nem Larrionda, nem Buzacca quiseram falar especificamente sobre as supostas simulações de Neymar ou o estilo de excessiva marcação de faltas do futebol brasileiro. Mas ambos deixaram claro que o objetivo do juiz deve ser reduzir o número de faltas apitadas em uma partida. Resta saber como, em 2014, vão convencer um público como o brasileiro que costuma assistir a jogos com mais de 40 faltas por jogo em média.