O Flamengo busca contra-atacar Ronaldinho Gaúcho nos tribunais. O duelo vale R$ 30 milhões e pode se arrastar por anos. Isso porque o craque, hoje no Atlético-MG, cobra R$ 40 milhões na Justiça do Trabalho, entre valores não quitados da sua passagem pela Gávea e também um processo por danos morais. O clube, contudo. provisiona em seu orçamento somente R$ 10 milhões, montante que considera de fato dever ao jogador.
A estimativa - além de o Flamengo não levar em conta uma possível multa rescisória por acreditar que o contrato foi rompido pelo atleta - se deve também a uma estratégia inusitada para rebater os danos morais alegados pelo atleta: buscar demonstrar em um valor real que a instituição também teve a sua imagem prejudicada por desvios de conduta do ex-camisa 10.
Ainda em 2012, na gestão de Patrícia Amorim, o Flamengo também iniciou uma ação por danos morais contra R10. No ano seguinte, o clube conseguiu uma vitória importante nos tribunais nesse processo: a autorização da Justiça para contratar técnicos especializados e conduzir um trabalho minucioso de perícia, buscando todas as inserções negativas geradas por desvios de conduta de Ronaldinho Gaúcho. Não há, por enquanto, audiência marcada para o julgamento dessa ação em primeira instância, visto que o trabalho dos assistentes técnicos contratados para executar o levantamento ainda pode se prolongar até o fim de 2014.
Apesar de a ação correr em sigilo e os dirigentes não poderem falar muito a respeito, as informações foram confirmadas por pessoas que têm conhecimento dos autos. O caso tem tratamento especial. É o único da área trabalhista para o qual um escritório foi contratado para atuar especificamente na ação. Marcos Motta e Bichara Neto são os responsáveis pela resposta à ação por danos morais. O clube não se pronuncia sobre a estratégia e os detalhes do caso são guardados com cautela, apesar de o escritório de Gislaine Nunes, que conduz a ação por parte do jogador, já ter tomado conhecimento da medida autorizada de forma oficial.
O objetivo não é somente fazer um apanhado de inserções negativas na mídia. Na surdina, o clube avalia também outros fatores e detalhes documentados em relatórios internos do departamento de futebol. Com o valor do dano causado por Ronaldinho isso em mãos, o Flamengo calculará o valor da cobrança que fará na Justiça.
Entre os casos polêmicos amplamente noticiados pela mídia, há problemas a serem contornados por ambas as partes. No caso do Flamengo, a confusão mais notória foi a entrevista coletiva na qual o clube anunciou ter um exame apontando álcool no organismo do jogador antes de um treinamento. O departamento médico do clube negou a existência do exame e, além de uma crise interna, a questão teria sido o motivo mais forte para a decisão de Ronaldinho de entrar com a ação por danos morais.
Contra o jogador, além dos relatórios internos com alguns detalhes de sua rotina, mas de conteúdo sigiloso, pesam notórias indisciplinas como o fato de ter sido flagrado com uma mulher na concentração do time em Londrina, no Paraná, em 2012, quando o Flamengo fazia sua pré-temporada e se preparava para viajar para a Bolívia, onde enfrentaria o Real Potosí pela pré-Libertadores. Outros casos, como o confusão criada por Assis, irmão e empresário do jogador, na loja oficial da antiga fornecedora de material, Olympikus, também devem constar no levantamento.
Engana-se, contudo, quem pensa que um acordo está completamente descartado. Para o Flamengo, até mesmo estrategicamente, é ruim falar em saída amigável em um momento no qual ainda produz as suas provas para sustentar sua ação contra o craque e, no mínimo, ganhar poder de barganha para um eventual acerto. Contudo, o clube não admite gastar muito mais do que os R$ 10 milhões que considera de fato dever a Ronaldinho em obrigações atrasadas. Dessa forma, ainda que possível, a distância entre o que o jogador quer para um acordo e o que o clube oferece é grande. A Justiça decidirá se a estratégia do Flamengo se tornará de fato um argumento sólido para entrar na balança.