Fluminense e Vasco reabrem o Maracanã para clubes cariocas neste domingo. Os rivais se enfrentam, às 18h30, pela 8ª rodada do Campeonato Brasileiro, diante de um clima de tensão originado pela inversão dos lados das torcidas na nova arena. Após dias de debate e discussão entre dirigentes, o evento vai contar com protestos na parte externa e um autêntico ?esquema de guerra? idealizado pela Polícia Militar para garantir a segurança do espetáculo.
A preocupação das autoridades com a reabertura do Maracanã para clubes é admitida publicamente. A polêmica teve início na assinatura do contrato de 35 anos entre Fluminense e o consórcio que administra a arena. O Tricolor teve a prioridade para escolher fixar sua torcida e instalações no lado historicamente utilizado pelos cruzmaltinos - o acesso da rampa da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
O Vasco assumiu o posicionamento em um dos principais estádios do mundo no ano de 1951. O clube de São Januário teve o direito a escolher o lado em que desejava que sua torcida ficasse por ter conquistado o primeiro título carioca da Era Maracanã. Com a taça de 1950, erguida diante do América, o Cruzmaltino optou pelo lado direito das cabines de rádio. Por ter a maior torcida, o Flamengo escolheu o lado esquerdo e também fixou um espaço no estádio.
O Botafogo passou a ficar ao lado direito, com exceção dos clássicos contra o Vasco. Já o Fluminense optou pelo lado esquerdo, menos nos duelos contra o Flamengo. As rampas eram usadas de forma mista, mas foram separadas definitivamente na década de 90, quando a rixa entre as torcidas organizadas cresceu consideravelmente no Rio de Janeiro.
O argumento da tradição histórica foi utilizado pelos cartolas vascaínos para tentar convencer a diretoria tricolor a promover a mudança. O Fluminense não foi sensibilizado e optou pela manutenção do acordo com o consórcio. A partir daí, as torcidas organizadas do Vasco e dirigentes iniciaram uma espécie de boicote ao clássico e expressaram a revolta através de entrevistas e redes sociais.
O presidente Roberto Dinamite chegou a afirmar que não iria ao estádio se fosse torcedor e tentou alterar a carga vascaína para apenas 10% dos bilhetes. Sem sucesso, o Cruzmaltino já avisou que usará o papel de mandante e levará o confronto pelo segundo turno para Brasília. A atitude é uma retaliação clara pela postura tricolor.
O consórcio responsável pela administração do Maracanã finalizou nesta sexta-feira a instalação de quatro grades para delimitar as áreas dos clubes nos jogos e separar as torcidas de Vasco e Fluminense no clássico entre os rivais, domingo, às 18h30, pela 8ª rodada do Campeonato Brasileiro. A prática não acontece em eventos organizados pela Fifa, mas é considerada comum nos estádios durante competições dirigidas pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol). As divisórias serão retiradas apenas para a Copa do Mundo de 2014. A torcida tricolor ficará ao lado direito das cabines de rádio pela primeira vez na história do confronto, fato que gerou tensão entre os clubes.
Apesar da confusão nas bilheterias e a revolta do Vasco, o Maracanã deve receber público próximo da lotação na reabertura. As torcidas organizadas da agremiação de São Januário planejam um protesto contra a situação e prometem fixar acampamento próximo à rampa da Uerj. Inclusive, elas terão o apoio da Frente Nacional de Torcedores no processo. A ideia é questionar os gastos com as obras do estádio e a quebra da tradição de mais de 60 anos.
Outro protesto, denominado ?Ato por um Maracanã público e popular?, está marcado para começar às 15h. Os organizadores pretendem promover um sepultamento simbólico do estádio em frente ao Bellini e também devem contar com o apoio dos torcedores. As manifestações agendadas e as insatisfações das torcidas ligaram o alerta do Ministério Público.
A 4ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva e Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Capital expediu recomendação às organizadas do Vasco para que não promovam atos de violência durante o jogo. A promotora de Justiça, Glícia Pessanha Viana Crispim, ressaltou a necessidade do cumprimento do termo de ajustamento de conduta celebrado em junho de 2011 com as torcidas organizadas dos grandes clubes do Estado do Rio de Janeiro e do Estatuto do Torcedor, sob pena de banimento.
VASCO USA PATROCÍNIOS PARA REPATRIAR CAETANO E AUMENTA RIXA COM FLU
Repatriar Rodrigo Caetano é um desejo antigo do Vasco e ganhou força nos bastidores de São Januário nas últimas semanas. Fazendo valer os acertos com dois novos patrocinadores, o Cruzmaltino estuda o caso e planeja formalizar uma proposta para contar com os serviços do diretor executivo em 2014. O episódio aumenta a rixa entre os clubes após uma semana tumultuada por conta da inversão dos lados das torcidas no clássico de domingo, às 18h30, no Maracanã, pela 8ª rodada do Campeonato Brasileiro. O profissional deixou o Cruzmaltino em dezembro de 2011 após divergências com o presidente Roberto Dinamite. O assédio do Tricolor já existia, mas ele desembarcou nas Laranjeiras apenas no início de 2012. A meta do Vasco é remontar a estrutura do futebol e colocar a dupla Rodrigo Caetano e Ricardo Gomes no comando do departamento.
Temendo atos de violência durante os protestos, a Polícia Militar montou um autêntico ?esquema de guerra? para garantir a segurança do espetáculo. Serão 250 policiais na parte interna, 400 pelas ruas de acesso, 600 seguranças particulares, além de 30 viaturas, helicópteros e agentes de batalhões especiais. As vias próximas ao estádio terão o fluxo interrompido e as torcidas contarão com a escolta da PM. A meta do Gepe (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios) é zerar a violência.
Dentro do estádio, os torcedores estão liberados para assistir o jogo em pé, tirar a camisa, utilizar bandeiras com mastro, bandeirões e instrumentos musicais. As organizadas ficarão atrás dos gols, no segundo nível das arquibancadas. As bandeiras, que tradicionalmente eram penduradas na beira da arquibancada, só ficarão atrás das balizas e terão no máximo dez metros de comprimento. Além disso, cada torcida poderá levar no máximo seis delas.
Com a logística definida, o Maracanã está pronto para receber novamente os clubes cariocas, que durante mais de 60 anos construíram a história do estádio com momentos inesquecíveis e títulos. Uma nova fase começa neste domingo. O estádio mudou, mas a paixão do torcedor está de volta, algo que andava em falta no Rio de Janeiro.