Ao encarar o espelho, Jade Barbosa gosta da imagem que vê refletida. Não enxerga primeiro a beleza que ele teima em mostrar. Vai além. Diz que a Jade que hoje fita seus olhos é uma mulher forte e menos vulnerável do que em outros tempos. Tem orgulho dela. Aos 21 anos, depois de tantos obstáculos na vida e na ginástica, acredita estar pronta para servir de espelho para a nova geração. Gosta da responsabilidade de ser uma das mais velhas da equipe nacional. E quer transferir conhecimento no ciclo olímpico que pode marcar a sua despedida, nos Jogos do Rio, em 2016.
- Hoje eu estou muito mais velha, calejada. Não é qualquer coisa que me prejudica ou para qual afrouxo.
Já vivi muitos momentos bons e ruins. Tenho uma experiência vasta. Acho que com isso a gente só fica mais forte. E é bom ter essa força para as Olimpíadas. Fico feliz também de ter me tornado uma mulher, embora não saiba se possa chamar assim porque muitos veem a gente da ginástica sempre como uma pequena, mas estou mais forte e não vulnerável como era. As pessoas ainda me veem chorando, mas não sabem que é um mecanismo de defesa. Eu choro durante um treino, por exemplo, para passar a dor, para que ela vá embora. Minha psicóloga falou que quando me virem chorar é para me deixarem assim, por dois minutos, porque depois passa. Meus técnicos nem ligam mais quando isso acontece - riu.
No meio do ano passado, as lágrimas demoraram a sumir do rosto de Jade. No finalzinho da preparação para os Jogos de Londres, não aceitou assinar o termo em que se comprometia a usar os uniformes com os patrocinadores da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e foi cortada da seleção. No dia seguinte, apesar de ter revisto a posição, não conseguiu comover os dirigentes.
A página parece virada, ao menos para ela. Jade só consegue pensar em 2016. Até lá, nada de Cirque du Soleil ou de estudar numa universidade americana. Os convites, feitos durante sua viagem de férias, vão ter que esperar. Nos 16 dias que passou pelos Estados Unidos, não teve como ficar longe do ginásio. Precisava se manter em atividade depois de tomar conhecimento que em março já tem competição. Se estará entre as convocadas para a etapa da Copa do Mundo, são outros quinhentos.
Motivada, ela está. Parte do fôlego novo veio das jovens ginastas americanas, que não tiravam os olhos da dona da medalha de bronze do individual geral no Mundial de Stuttgart, em 2007, e do salto na edição de Roterdã, em 2010.
- Foi muito legal ver que elas sabiam quem eu era.