Convocado para a Copa do Mundo nesta quarta-feira, o atacante Fred, do Fluminense, repetiu discurso que fez antes de iniciar a disputa da Copa das Confederações no ano passado. Nas Laranjeiras, onde treinou pela manhã, o atacante acompanhou a lista de Felipão e revelou que o seu objetivo é marcar gols em todos os jogos do Mundial do Brasil.
- A expectativa é de ser o mais eficiente possível. Como centroavante a gente entra para fazer gols em todos os jogos. É muito importante também dar passe, puxar marcação, mas meu papel principal é fazer os gols mesmo. Quero fazer gol em todos os jogos, sei que meus gols vão ajudar muito a Seleção - disse o atacante, que anotou cinco gols em cinco partidas na Copa das Confederações 2013, terminando o torneio como artilheiro.
Essa será a segunda Copa do Mundo que Fred disputará. Em 2006, foi reserva da seleção brasileira no Mundial da Alemanha e fez um gol no único jogo em que participou, contra a Austrália, na primeira fase. Pelo Brasil, o centroavante tem 31 jogos e 16 gols.
- Mudou muito. Na época, era apenas um moleque. Jogava com menos responsabilidade, interiormente falando, mesmo sabendo da responsabilidade de representar o Brasil. Hoje tenho mais noção dessa experiência e da responsabilidade que vou enfrentar. A vivência, os fracassos e as conquistas me fizeram evoluir. Me sinto preparado para representar o país e disputar a Copa do Mundo. Procuro transformar este peso em confiança - disse Fred, que concedeu entrevista coletiva nas Laranjeiras logo após a convocação.
O atacante esteve presente em praticamente todas as convocações de Felipão e atuou por 895 minutos. Só ficou fora quando esteve lesionado, durante boa parte do segundo semestre de 2013. Virou homem de confiança do treinador, que antecipou sua convocação muito antes de divulgar a lista final nesta quarta-feira.
- É o auge da minha carreira, o momento que esperei a vida inteira. Lembro do meu início, das dificuldades com meu pai, ele me treinou firme para eu chegar aqui. Agora faltam poucos dias para a Copa, me sinto cada vez mais forte e mais seguro para ir em busca desta taça.
Confira abaixo outros tópicos da entrevista de Fred:
O que mudou do Fred de 2006 para o Fred de 2014?
Mudou muito. Na época, era apenas um moleque. Jogava com menos responsabilidade, interiormente falando, mesmo sabendo da responsabilidade de representar o Brasil. Hoje tenho mais noção dessa experiência e da responsabilidade que vou enfrentar. A vivência, os fracassos e as conquistas me fizeram evoluir. Me sinto preparado para representar o país e disputar a Copa do Mundo. Procuro transformar este peso em confiança
Tem algo que te preocupa para a disputa da Copa? Falo em relação às questões físicas...
Passei momentos considerados normais dentro do meu staff. Tanto na fisioterapia, na parte física e na parte técnica. A evolução foi gradativa. Por ser o único considerado titular a atuar no Brasil, as atenções são maiores. Alguns jogos no começo do ano foram encarados como preparação. O que me preocupava era ter força maior em uma perna em relação à outra. Não era interessante falar na época. Quem estava por trás sabia o que iria ocorrer. Todo mundo falava que ia demorar. Após, as coisas melhoraram. Teve um período que estava bem, mas os gols não saiam. Agora mudou. O time está bem, os gols saem. Não tem nada que me preocupa
Como será a preparação agora?
Felipão havia dito que eu seria convocado, mas mesmo assim existe a expectativa. Graças a Deus deu tudo certo. Hoje é especial. É um dia histórico. Passa um filme na minha cabeça. Me lembro dos momentos em que treinei com meu pai, que me preparou para meu primeiro teste. Sai de casa aos 9 anos, deixei de ser criança para realizar o sonho, fiquei fora do meu país e voltei pelo Fluminense. Olho para trás e vi que valeu a pena. Deus me deu essa bênção. Enxergo que valeu a pela. Tenho de me concentrar no dia a dia no Fluminense. Evoluir diariamente e isso já começa no domingo. Só assim estarei me preparando para a Copa
Importância do Flu na convocação?
Recebi uma linda placa no vestiário do Cristóvão. Isso representa muito. Esse momento mágico é da torcida também. Muito do que eu passo, praticamente tudo, se deve ao Fluminense.
Se for artilheiro e campeão, o mercado de fora do Brasil abre para você?
Qualquer bom desempenho, no maior evento do futebol, a Copa, te valoriza. Tenho um ano e meio de contrato. Tem de ver se é interessante ao clube e à Unimed renovar o meu contrato. Se há algum momento bom para o clube fazer algo, esse momento pode ser agora. Mas nada impede de que ficar também desde que haja acerto entre as três partes. Mas pode ser um momento bom para o Flu fazer uma boa grana
O que você representa na Seleção?
Tenho noção disso, especialmente às crianças. As que jogam na comunidade, em campo de terra. Foi o que eu vivi. O povo brasileiro sai sempre de situação complicadas, vive o futebol assim, um esporte nosso. Foi em Teófilo que vi Romário e Bebeto fazendo gols na Copa em 94. Tenho certeza de que os meus gols vão inspirar muitas crianças pelo Brasil
Que outros centroavantes te preocupam?
A nossa caminhada até a final não será nada fácil. Na primeira fase, teremos adversários equilibrados. Assim como, se a gente passar, nas outras fases. Tem de secar todo mundo. Na Copa, estarão os melhores. Vou fazer o meu, o máximo de gols, para ajudar a Seleção
E como fica o Diego Cavalieri, que não foi convocado?
Assistimos juntos. A expectativa dele era muito grande pois fez parte da Copa das Confederações. Ele sabe das qualidades dele e estava esperançoso. Ele é novo, sabe das qualidades dele. Sabe que agora não deu. A concorrência era grande. Tem longo percurso para chegar na Seleção. Dei abraço nele de motivação. Vida que segue. Lógico que vai levar um tempo. É um baque. Mas
Esperança em ser artilheiro?
Questão de artilharia é difícil, porque Copa reúne os melhores do mundo e teria que secar todo mundo. Espero fazer meu trabalho, marcar os gols e buscar o título
Sentirá falta de Ibra na Copa?
Sim, ele é um grande jogador. Tem força e técnica. É brigador, tem um estilo de jogo que admiro bastante. A Seleção da Suécia, infelizmente, não irá participar. O povo da Suécia pode ligar a televisão para ver uma grande Copa. Tomara que eles possam torcer para o Brasil
Foi difícil dormir esta noite?
Ontem, eu estava bastante ansioso. Hoje também. Levantei até um pouco mais cedo. Acordei sem alarme e sem nada, o pensamento estava na Seleção. Estava ansioso também pelo Diegão ser chamado. Mesmo o Felipão ter falado, havia expectativa. Nome por nome e como sou centroavante... demorei a ver meu nome lá. Mas graças a Deus isso deu certo
Único titular atuando no Brasil...
Vejo de forma boa. Nas ruas, torcedores rivais passam apoio. O povo está muito unido. Está esperançoso de estar no caminho certo. Vamos buscar o hexa
Por qual motivo ficou fora em 2010?
O caminho que trilhei até 2010, após a de 2006, não foi legal. Deixei para tentar algo muito tarde. Isso me fez evoluir. É ruim aprender assim. No final de 2010, coloquei na minha cabeça que estaria na Copa do Brasil. Tive de mudar muitas coisas ruins, mas valeu a pena
Como foi a conversa com seu pai?
Meu pai é uma referência para mim. Quando falo da família, fico emocionado. Então, vou falar rápido. Ele me criou com muito esforço e dificuldade. Depois que perdi a minha mãe, tive muitas dificuldades. Foi preciso nos afastar. O futebol uniu muito meu pai e eu. Ele foi meu primeiro treinador, meu primeiro corneteiro, quem primeiro cobrava resultado, foi ele quem cuidou de mim contra contratos abusivos de empresários. Valeu a pena. Ele é boleirão para caramba, sempre que posso levo ele aos jogos para viver os momentos comigo
A fé te ajudou?
Consegui encontrar meu equilíbrio espiritual, a coisa mais importante de tudo. Sei que Deus quer me abençoar. Muitas vezes não estive preparado para recebê-las. Então, agora, estou me preparando. Não só no campo como na vida pessoal. Tenho filhos, sobrinhos. É preciso passar bons exemplos e ter um lado espiritual que me dê tranquilidade. Isso ajuda muito
O que o cidadão Fred, que vive a realidade no Brasil, pensa dos gastos da Copa no país?
Sou a favor da Copa, mas sem gasto não esclarecido. Tem de ser feito da forma correta. A Copa fez a gente ter estádios novos, como aconteceu na Alemanha. Como cidadão, o que mais importa, gostaria muito que os governantes investissem mais em educação, segurança e saúde, o que o povo realmente precisa. Vejo algumas pessoas falando que não vão torcer. Tem de torcer e cobrar para as coisas serem feitas da melhor forma possível
O que teve de mudar?
São coisas que só a experiência mostra. Tem coisas que acontecem por acidente, coisas que tem de acontecer. Mudei a postura inteira. Vim da França para o Rio, solteiro, e acabei descuidando muito da minha vida pessoal, o que reflete na vida profissional. Tenho 30 anos. Enxergo futebol desta forma: tenho cinco ano para aproveitar ao máximo o que o futebol pode me dar. Hoje, o futebol é a coisa mais importante da minha vida. Se o treino é pela manhã, não saio para jantar. Tenho de acordar cedo. Abri mão de muita coisa. Começo a descansar cedo, às 22h. Eu dou conselho a muita gente, e imagina se eu falo e não faço? Se eu tivesse feito isso antes, o meu caminho poderia ter sido mais vitorioso. Viver longe da minha filha me atormentava. A vida nos mostra que não se pode desistir. Deus foi muito bom comigo. Recuperei muita coisa