Governo federal tenta mostrar que 0 a 0 é vitória no balanço da Copa no BR

Segundo as previsões do governo, o ganho real pode ser maior.

Dilma Rousseff e Joseph Blatter | Reprodução/Internet
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Após afirmar, durante os protestos de junho, que o governo federal não estava colocando verba pública de forma direta na construção de estádios, o Planalto ensaia, agora, apostar em um discurso que mostre que os investimentos feitos para a organização do evento serão compensados pelo dinheiro que será gasto por turistas. A conta, portanto, ficaria no 0 a 0.

Um estudo divulgado no fim do ano pela Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) mostra que brasileiros e estrangeiros que estiverem passeando durante o Mundial vão gastar R$ 25,2 bilhões em 30 dias de torneio. O valor é quase igual ao investimento previsto para todas as obras da Copa, entre estádios, mobilidade e infraestrutura: R$ 25,9 bilhões, segundo o Portal da Transparência.

Políticos da base governista acreditam que a estratégia de mostrar que o país pode ganhar com a Copa praticamente tudo o que foi investido por União, estados e municípios pode ajudar a fazer perder força os protestos contra a utilização de dinheiro público na Copa previstos para acontecer ao longo do ano.

A pesquisa da Embratur foi feita cruzando dados do gasto médio de turistas de eventos no Brasil no último ano e do dinheiro deixado na África do Sul pelos estrangeiros que assistiram à última edição da Copa do Mundo, em 2010. Os economistas concluíram que os brasileiros irão gastar R$ 18,3 bilhões em suas viagens, enquanto os estrangeiros devem desembolsar R$ 6,8 bilhões.

Segundo as previsões do governo, o ganho real pode ser maior. "O valor total mobilizado na economia a partir das atividades do turismo é muito maior e inclui todo o impacto indireto na cadeia produtiva: o restaurante vai demandar mais verduras do feirante; o vendedor ambulante vai demandar mais gelo; o dono do hotel vai contratar mais bebidas do distribuidor", disse o presidente da Embratur, Flávio Dino.

Nem todos os economistas, porém, pensam assim. Estudos realizados em cidades que receberam grandes eventos esportivos mostram que pouca coisa mudou nas sedes das últimas quatro copas, excluindo-se a construção de novos estádios, a festa gerada pelos jogos e um incremento pontual no turismo.

Ao longo da semana, o governo federal aproveitou uma série de eventos para criar uma agenda positiva em volta do assunto Copa. A presidente Dilma inaugurou a Arena das Dunas, visitou Joseph Blatter na Suíça, conversou no Twitter com jogadores de futebol, e garantiu, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, que o país está pronto para sediar o evento.

Autor do pedido de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar possíveis irregularidades no uso de dinheiro público na organização da Copa, o deputado Izalci Lucas Ferreira (PSDB-DF) acredita que a estratégia do governo surtirá pouco efeito. "É só propaganda. Acredito que os protestos vão voltar com tudo esse ano", afirma.

Opositor de Dilma, Ferreira pretende voltar a propor a CPI em agosto. A investigação tinha o número suficiente de assinaturas para ter início em julho do ano passado. Na última hora, segundo o deputado, três senadores retiraram o apoio à proposta, inviabilizando sua instalação. "Não tenho dúvida que a Copa vai acontecer. Vamos dar um jeitinho. Mas minha preocupação é que não há controle nos gastos. E o contribuinte vai pagando tudo."

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