Governo pede cuidado a brasileiros que querem ir à Copa

Mestre Bamba é baiano e dissemina a capoeira pela Rússia.

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Moscou é uma cidade com seus bairros distribuídos geograficamente em círculos. Quanto mais distante do centro, maior é a chance de haver discriminação, racismo, assédio e outros problemas. É um exemplo, em menor escala, do que ainda acontece na Rússia como um todo. Para o torcedor brasileiro que pensa em ir ao país na Copa, a recomendação do Ministério das Relações Exteriores (MRE) é “viajar com grau moderado de cautela”.

Na lista de recomendações do MRE, no tópico Xenofobia e Discriminação, o órgão avisa que “ataques contra minorias são uma dura realidade do país, mas raramente evoluem para violência física. Casos de skinheads e outras gangues organizadas podem ser mais graves”.

Durante a partida entre Camarões e Chile, domingo, a Fifa alertou para que os torcedores não cometessem atos discriminatórios nas arquibancadas. Fora do estádio, um grupo de camaroneses reclamava de abuso de autoridade na saída do jogo, durante a revista para o acesso à estação do metrô.

Mestre Bamba é baiano e dissemina a capoeira pela Rússia. Ele relata que já presenciou casos de discriminação e racismo, sobretudo em certos bairros da capital russa.

— Em determinados locais, os negros têm que andar a mil, do contrário, podem morrer. Ninguém quer andar a pé ou de metrô, preferem os carros, porque não querem correr riscos. Em Moscou, quem tem pele escura anda junto — disse Bamba.

Já o professor Tony usa o uniforme da capoeira como escudo:

— Vestindo-o jamais sofri racismo.

Os guias da cidade, distribuídos gratuitamente nos aeroportos, pontos turísticos e hotéis, advertem (traduzido do inglês): “Evite atrair a atenção não falando alto em sua língua natal ou andando nas ruas se você bebeu. Se você é africano, árabe, descendente de asiáticos ou tem a pele escura, tenha cuidado, particularmente à noite”.

Quando cita a possibilidade de assédio sexual, o MRE recomenda que “as mulheres devem evitar andar sozinhas pelo país, especialmente durante a noite e/ou em áreas isoladas”. Na questão da segurança pública, o ministério ressalta: mulheres desacompanhadas também são aconselhadas a não permanecer próximas a grupos de homens nesses lugares (bares).

E completa os alertas mais graves ressaltando o cuidado ao ingerir bebidas alcoólicas ou drogas, porque, “em alguns casos, cidadãos podem ser propositalmente drogados para serem roubados, assediados ou estuprados”.

Para a moscovita Ksenia Eremeeva, diretora-executiva da seleção de nado sincronizado, e que já viveu no Brasil por 12 anos, alguns tópicos são exagerados. Ela faz a sua própria advertência.

— A Rússia é racista, eu não posso negar. Negros e indianos são incomuns por aqui. Há um tempo, eles eram atacados por skinheads. Isso mudou com a nova regra — disse Eremeeva, que também toma cuidados quando está distante do burburinho da capital. — Eu fui a uma cidade a 300km de Moscou e tinha medo, porque não há policiamento. E olha que eu sou russa! Mas aqui na capital as mulheres podem andar sossegadas.

A regra à qual Eremeeva se refere foi implementada pelo governo para conter investidas de grupos de skinheads durante a Copa das Confederações e do Mundial de 2018. Antes, eles pagavam uma multa e eram liberados. Agora, são detidos por três dias até um julgamento, que pode ampliar a pena ou dar a liberdade.

— Antes, eu falava com qualquer skinhead. Agora, eles mandam fotos de crianças. Eu pergunto “o que é isso?”, e eles respondem que não podem deixá-las sem pais, que serão presos. Eles não querem problemas neste período. E o governo tem medo que algum ato, seja discriminatório ou de violência, manche os eventos — explicou o russo Grigory Telingater, jornalista do “Championat.com” e colaborador da “ESPN Brasil”.

‘Favelas podem ser desconfortáveis’

Em relação ao racismo, Telingater lembra que o trabalho de conscientização da torcida começou antes da Copa das Confederações, em um amistoso entre Rússia e Bélgica, em março, em Sochi, quando travesseiros com a palavra “gentlefan” (cavalheiro) foram distribuídos para os torcedores, num clamor por polidez.

— Sou oposição ao governo, mas concordo que estão tentando melhorar o problema da discriminação. E o Vladimir Putin precisa de um Mundial perfeito, de uma imagem boa. Mas existem racismo e machismo, sim. São pessoas que têm absurdos na cabeça, como em todo o mundo. Alguns bairros podem não ser tão confortáveis para as mulheres. Não quero comparar com o Brasil, mas as favelas também podem ser lugares desconfortáveis para certas pessoas — disse Telingater.

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