Chuteiras na sacola, armário vazio e vida que segue. Paolo Guerrero tem nesta sexta-feira (10), seu último dia como funcionário do Flamengo. As idas mais recentes ao Ninho do Urubu não tiveram a companhia dos flashes e holofotes que marcaram sua passagem de três anos pelo clube. Dores causadas por um edema na coxa direita fecharam as cortinas vermelha e preta para o peruano antes do previsto.
Há 12 dias, idas ao departamento médico em período integral representaram o ato final de uma relação tão intensa quanto desgastada. Se fossem um casal, poderíamos dizer que Flamengo e Paolo se gostam, mas não se amam mais. Nenhum dos lados cedeu na negociação durante um ano conturbado e o divórcio é praticamente consensual.
Aos rubro-negros, restam Uribe, Lincoln e Henrique Dourado. Ao peruano, um futuro colorado em Porto Alegre. Três anos, no entanto, é muito tempo. E Guerrero, à sua maneira, marcou sua passagem pelo Flamengo.
A última impressão...
Se não chegou a ser ídolo pelos resultados ou performance em campo, Guerrero deixou sua marca no Flamengo pelo que representou para a gestão Bandeira de Mello e por seu prestígio internacional.
Primeira contratação de impacto de um clube com novas diretrizes, ganhou de imediato o apoio praticamente irrestrito do torcedor, que durou até sua aparição final, há 12 dias, diante do Sport. A última página dessa história, entretanto, ficou marcada por baixo rendimento, mistério e "sumiço".
Entre o cumprimento dos primeiros seis meses de punição impostos pela Fifa, nova suspensão e liberação pelo Tribunal Suíço, foram sete partidas em 2018, 387 minutos em campo e apenas um gol.
Apesar do frisson que continuou causando nos torcedores, Guerrero apresentou falta de ritmo natural nos três jogos antes da Copa do Mundo e baixo rendimento técnico na volta da Rússia. Titular contra São Paulo, Botafogo e Santos, foi peça nula até perder lugar para Uribe no 4 a 1 sobre o Sport. Em campo nos 16 minutos finais, nada fez e chegou ao sexto jogo pelo Brasileirão, limite para que pudesse se transferir para outro clube.
Desde a saída do gramado do Maracanã naquele 29 de julho, não foi mais visto publicamente com a camisa do Flamengo. Queixou-se de dores na coxa direita, desfalcou a equipe nos três jogos seguintes e se despede nesta sexta-feira.
As últimas duas semanas de Flamengo foram de solidão no departamento médico, com tratamento em período integral, de acordo com informação do clube. Agora, é hora de recolher os pertences, guardar as chuteiras e seguir outro rumo.
Cabo de guerra sem vencedor
Dizer que Flamengo e Guerrero tiveram um fim de relação traumático seria exagero, mas a impressão que fica é de que um não sentirá muita saudade do outro a partir do amanhecer de sábado. O longo período de negociação para renovação de contrato, que teve início ainda durante a suspensão por doping, foi marcado por posicionamentos inflexíveis de parte a parte.
Prestes a completar 35 anos, o peruano bateu o pé no desejo por um contrato de três anos, sem redução salarial e ainda fez questionamentos sobre os vencimentos interrompidos após o 91º dia de suspensão.
Antes de dar o aval para a negociação com o Inter, chegou a procurar Eduardo Bandeira de Mello acenando com a possibilidade de dois anos e meio. Nada que convencesse o Flamengo.
Entusiasta de Paolo, o presidente foi voto vencido em uma diretoria que esticou a corda até oferecer extensão por um ano e meio com o mesmo salário - a proposta inicial era até o fim de 2018 e correntes levantaram a ideia de redução salarial. Guerrero nunca sequer cogitou aceitar a proposta.
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Os últimos meses de relacionamento foram muito mais protocolares, com diplomacia de ambos os lados, já cientes de que o divórcio era iminente.
Sai o preto, fica o vermelho
Destino de Paolo Guerrero pelos próximos três anos, o Internacional foi um adversário marcante na passagem pelo Flamengo. Em cinco duelos, foram duas vitórias para cada lado e um empate. Os triunfos rubro-negros, porém, aconteceram em momentos especiais para o peruano.
Foi contra o Colorado que Guerrero estreou e marcou o primeiro gol com a camisa do Flamengo, em 9 de julho de 2015, no Beira-Rio. Os gaúchos também eram os adversários na volta aos gramados após a suspensão de seis meses por doping, quando foi aclamado por um Maracanã lotado e jogou 31 minutos no 2 a 0 da quarta rodada do Brasileiro, em 6 de junho de 2018.