A jogadora brasileira Raquel Löff, que atuava pelo Prometey SC, da Ucrânia, publicou um vídeo em sua conta nas redes sociais onde fazia um apelo para ser resgatada e retornar ao Brasil depois do cancelamento da Superliga ucraniana. Sua história chamou a atenção, e ela conseguiu um voo para voltar ao país nesta segunda-feira. Mas há outros brasileiros vivendo situação parecida com o que ela viveu. Um deles é o ponteiro Leonardo Felipe Amâncio, de 29 anos, que defendeu nessa temporada o Thahlan Sports Club, da Arábia Saudita. Informações site GloboEsportes.com
Motivado pela história de Raquel, ele correu atrás da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) para pedir auxílio. Com a pandemia do coronavírus, a Liga Saudita de Vôlei foi cancelada faltando quatro jogos para acabar. O contrato por lá é por temporada, e Leonardo ficou sem vínculo com o Thahlan, que disputa a segunda divisão do país.
Mesmo assim, ao menos por enquanto, o clube manteve a residência do jogador e fornece sua alimentação: um motorista da equipe recebe a lista do ponteiro, faz suas compras e entrega a ele. Diante da incerteza, o brasileiro quer voltar para casa, bem como outros compatriotas que moram no país, que tem regras bem duras de isolamento e quarentena.
- Estou ansioso, porque o governo saudita é diferente de todos os países. Cada dia que passa, as medidas são mais restritivas. Tem cidade que já tem toque de recolher a partir das 15h e, se você sai, toma uma multa de (valor equivalente a) 12 mil reais. Pelo fato do Covid-19, faltando quatro jogos para acabar a temporada, o campeonato foi cancelado. Os aeroportos estão falando que vão abrir só em junho. Os europeus foram repatriados para França, Inglaterra, e a Embaixada não se moveu para nos colocar nesses voos. De Paris para Guarulhos estão operando normalmente. Há brasileiros aqui sem lugares para dormir. Há hotéis sendo fechados pelo governo. Não tem porque ficar aqui se a Liga foi cancelada.
Leonardo é o único estrangeiro em sua equipe devido à uma regra na segunda divisão da Liga Saudita de Vôlei. Na primeira divisão, o limite é de dois atletas de fora do país. Contudo, ele relata que há outros brasileiros querendo voltar para o país de origem em meio à pandemia. O jogador reclama que buscou a Embaixada e o Itamaraty, mas que as respostas são sempre evasivas.
- A gente não teve respaldo da Embaixada se iriam conseguir voo para repatriar a gente ou quando iam reabrir o aeroporto novamente. Entrei em contato com a Embaixada e Itamaraty tem 22 dias. Temos um grupo dos brasileiros aqui. A Embaixada sempre responde que estão tentando viabilizar isso, mas nada muda. Eu, graças a Deus, estou comendo bem, porque o clube está me ajudando. Mas há outros que vivem uma situação complicada. Nós não temos previsão alguma de voltar ao Brasil.
O ponteiro explica que tudo aconteceu muito rápido. No dia 14 de março, sua equipe atuou em Damã, uma cidade perto da capital Riad. Quando eles retornavam, o governo fez um pronunciamento na TV e anunciou que todos os voos internacionais estavam suspensos e que algumas cidades entrariam em isolamento de 15 dias. No dia 21 de março, os governantes decidiram colocar 80 por cento das cidades do país. A Arábia Saudita tem 2.523 casos confirmados e 38 mortes no momento.
TEMPORADA
Essa foi a primeira temporada de Leonardo fora do Brasil. Ele começou a carreira no projeto Viva Vôlei em Uberaba, Minas Gerais, atuou no Araxá Esporte Clube, passou pelo Sada Betim, São José do Rio Preto e São José dos Campos, onde estreou na categoria adulta. Depois disso, sua carreira foi suspensa devido à uma cirurgia no estômago para curar uma úlcera. Foram dois anos e meio parado.
Ele voltou a jogar em Conceição do Mato Dentro e, em seguida, recebeu um convite para jogar vôlei de praia. Foram três etapas no Circuito Brasileiro. Mas, por ser apaixonado pelo vôlei de quadra, correu atrás de empresários e se ofereceu para atuar. Seus vídeos foram parar na Arábia Saudita, e ele acabou sendo contratado pelo Thahlan Sports Club.
Depois do fim do contrato, dois clubes do país o procuraram, mas a previsão do início da nova temporada por lá é só em outubro (e ainda há chance de adiamento). Nos meses até lá, a ideia de Leonardo era ficar no Brasil. Ele tem passagem comprada para dia 10 de abril, mas os voos estão suspensos, e ele faz um apelo à Embaixada e ao Itamaraty para conseguir retornar.