Kaká partiu para o Brasil de férias de Natal sem ter cumprido o principal objetivo ao fim do ano que marcou sua volta ao Milan: fazer o centésimo gol com a camisa rubro-negra e vencer o clássico contra o Internazionale. O meia foi titular no dérbi de domingo, teve boa atuação, mas não brilhou aos olhos Luiz Felipe Scolari. Na arquibancada do Giuseppe Meazza, o técnico da seleção brasileira observou a movimentação do camisa 22, mas confessou ter dúvidas sobre a sua convocação para a Copa do Mundo do próximo ano.
- Vim aqui para ver os brasileiros. Acho que foram mais ou menos. O Kaká? Foi mais ou menos também, não foi uma grande apresentação, mas também não foi ruim. Não sei se vou convocar. Vamos esperar, vamos ver, ainda faltam seis meses para a Copa - afirmou Felipão na garagem do estádio.
O técnico brasileiro assistiu ao jogo acompanhado pelo empresário português Jorge Mendes. Não quis se alongar nos comentários sobre Kaká, tampouco sobre os outros dois brasileiros em campo: o zagueiro Juan, ex-Internacional, e o lateral-direito Jonathan, ex-Cruzeiro e Santos, ambos do Internazionale, mas diz ter ficado satisfeito com a viagem, apesar do jogo muito fechado dos dois times de Milão.
- São clássicos, e muitas vezes não se veem grandes apresentações, são jogos muito disputados. Eu vim ver os brasileiros, os sistemas táticos e a forma que eles organizam as equipes. Vi aquilo que queria - esclareceu o selecionador.
Os jornais italianos também avaliaram a atuação de Kaká como mais ou menos. O brasileiros ganhou notas que foram de 5,5 a 6,0. Destacaram a intensa movimentação no primeiro tempo, a queda de rendimento no segundo e a busca constante por soluções simples e objetivas. Lembraram também do único chute a gol que deu, aos 11 minutos, obrigando o goleiro Handanovic a dar rebote.
O camisa 22 entrou em campo determinado a fazer o centésimo gol pelo Milan na sua volta ao clássico de Milão. Foi capitão do time no lugar do suspenso Montolivo e desempenhou a função de "segundo centroavante" no primeiro tempo, atrás de Balotelli. O time rubro-negro entrou melhor em campo com o brasileiro, posicionado mais pelo lado esquerdo e se envolvendo muito nas ações ofensivas.
A vontade de balançar a rede era tanta que o camisa 22 rompeu a defesa do Inter com vários chutes e tabelas com Balotelli. Mas, como o italiano era o atacante mais avançado e cobrador oficial das faltas do time, foi o jogador que teve as melhores chances para marcar.
No segundo tempo, o brasileiro diminuiu um pouco o ritmo, como todo o time do Milan, e o Inter se aproveitou. O técnico Walter Mazzarri retirou os veteranos Cambiasso e Zanetti, e os nerazzurri cresceram no jogo. Kaká passou a jogar como armador, e Matri se juntou a Balotelli no ataque. A troca não funcionou e foi, uma vez mais, a demonstração de que o camisa 22 pode ser mais útil ao time se jogar em uma posição avançada, atrás do centroavante, como fez em 2007, quando apoiava Inzaghi no ataque rubro-negro e se consagrou como melhor jogador do mundo.
Nos últimos 30 minutos de jogo, o Kaká do primeiro tempo não parecia o mesmo. Garra não faltava ao brasileiro, mas o evidente cansaço do meio de campo do Milan não permitiu a ele armar o jogo dos visitantes. O Inter aproveitou o mau momento dos rivais para fazer o gol que decidiu o clássico, quando os rubro-negros se limitavam aos contra-ataques.
Com Scolari na arquibancada, Kaká recuperou o fôlego nos últimos minutos e fez suas últimas investidas. Além de ajudar a defesa, deu algumas arrancadas pela esquerda e conseguiu a falta que originou a última chance para o Milan empatar o jogo, mas o placar não mudou.
Cabisbaixo ao fim do ano da recuperação
Ao apito final, o brasileiro abandonou o campo cabisbaixo. A vitória e o centésimo gol pelo milan, os principais objetivos de domingo que estavam mais ao seu alcance, não foram alcançados. Na zona mista, passou sem fazer declarações para os jornalistas, talvez pensativo em relação à reação de Felipão a sua atuação. Deu apenas alguns autógrafos.
O Milan tem poucos motivos para festejar este Natal. O time de Allegri ocupa a 13ª posição da Serie A e está apenas cinco pontos acima da zona de rebaixamento. Um risco que os rubro-negros não podem correr.
Mas nem tudo são más notícias para Kaká. O meia recuperou aquilo que não tinha em Madri: protagonismo e carinho da torcida. Voltou ao Milan no dia 2 de setembro, disputou 15 partidas, balançou as redes quatro vezes e foi determinante para a classificação do time às oitavas de final da Liga dos Campeões. Tem de novo orgulho e a idolatria dos rubro-negros. Reconhecimento que vem de seus pares, como o goleiro brasileiro Gabriel, reserva de Abbiati.
- Nós todos sabemos do potencial dele. Ele fez um excelente jogo. Não fez o gol, mas jogou bem, correu. Sabíamos que o Felipão estava aqui. Fico muito feliz pelo Kaká, que está jogando muito bem. A gente vê nos treinamentos e nos jogos o quanto ele tem crescido, o quanto que ele está bem fisicamente. Se ele tiver oportunidade, todos vamos ficar contentes, porque, além de ser um grande jogador, é um grande amigo - afirmou Gabriel.
Até os torcedores rivais do Inter se renderam ao camisa 22 adversário durante o clássico.
- Kaká é muito bom. Neste momento, ele e Balotelli são os únicos bons jogadores do time do Milan. Se marcar o gol número 100, acho que até eu canto a sua música - comentou, sorrindo, um torcedor do Inter no intervalo da partida.