Nem Fred, nem Jô. Tampouco Luis Fabiano ou Alan Kardec. Não há centroavantes que atuam fora do país. Na primeira lista do técnico Dunga para a seleção brasileira, não há aquele tradicional camisa 9, que fica na área, à espera da primeira oportunidade para marcar. Um Romário, um Adriano, até mesmo um Ronaldo. A divulgação dos convocados escancarou uma deficiência que tem sido notada há alguns anos. O futebol do país está carente de goleadores natos. Entre os 22 atletas escolhidos para enfrentar Colômbia e Equador, em setembro, há só três atacantes: Neymar, Hulk e Diego Tardelli. Eles até podem fazer a função de centroavante, embora não sejam suas especialidades.
O mesmo acontece com Ricardo Goulart, artilheiro do Campeonato Brasileiro com nove gols pelo Cruzeiro, mas elogiado por Dunga pela forma como exerce a função de meia. Tardelli, por exemplo, já disse que não gosta de jogar de costas para o gol. Sem um especialista, Dunga se apega à necessidade de modernizar taticamente a seleção brasileira. Para ele, é preciso se desapegar aos números. - Atacante é aquele que chega à frente para fazer o gol. Pode ser o 10, o 5... Nós dissemos que precisamos modernizar o futebol, mas ficamos presos a números - afirmou o treinador.Parece detalhe, mas a ausência do centroavante, talvez, seja a mudança mais radical em relação à gestão do antecessor Luiz Felipe Scolari. Ele sempre teve um típico camisa 9. Por 45 minutos, testou Luis Fabiano, que não agradou e foi substituído por Fred.
O jogador do Fluminense se firmou e chegou à Copa do Mundo ao lado de Jô, mas, antes, ainda tiveram chances Leandro Damião, Alexandre Pato e até Diego Costa, que preferiu defender a seleção espanhola. Quem vinha esboçando abdicar do centroavante era Mano Menezes. Nos últimos jogos antes de sua demissão, no fim de 2012, Neymar atuava como “falso 9”, expressão criada para definir um atleta que fica mais próximo do gol, mas não tem características físicas ou técnicas da posição e, em vez de ficar de costas para o goleiro adversário, se movimenta mais, abre espaços.- Temos a chance de jogar com o 9 fixo, o falso 9 ou mesmo sem o 9, com atacantes abertos pelas pontas. Para se ter uma ideia clara, o Müller (atacante da Alemanha) jogou os primeiros jogos como referência, depois pelo lado da área.
Temos jogadores nesse grupo que podem fazer essa função. Enfrentar Colômbia e Equador, nos dias 5 e 9 de setembro, sem um centroavante de origem, não significa que Dunga já decidiu por essa formação, como ele mesmo disse. Há jogadores que estão na mira da comissão técnica e podem ganhar chances ainda neste ano. Em sua primeira passagem, o técnico abusou das experiências no setor: Vagner Love, Ricardo Oliveira, Afonso Alves... Até chegar em Luis Fabiano, titular na Copa de 2010. Seus reservas, porém, também não eram exatamente centroavantes: Nilmar e Grafite. Depois dos amistosos de setembro, o Brasil vai enfrentar Argentina e Japão em outubro, ambos na Ásia, e a Turquia no mês seguinte. Ainda há possibilidade de mais uma partida em novembro.