A fórmula que tanto deu títulos ao Grêmio no passado parece ter virado trauma para a equipe no presente. Foi no sistema de mata-mata que o clube conquistou duas Libertadores, dois Campeonatos Brasileiros e quatro Copas do Brasil. Nos últimos anos, no entanto, reside justamente ali o maior problema. Sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, o Grêmio foi eliminado em todos os sete torneios que disputou com esse formato. Sequer chegou a uma final - o máximo foi uma decisão de turno. Pouco para quem almejava conquistar títulos e que investiu pesado na montagem de um time forte para 2013.
Nesta quinta-feira, o Grêmio deu adeus ao seu principal projeto da temporada. Contra o Santa Fé, viu ficar em Bogotá a vaga para as quartas de final da Libertadores. Mesmo com a vantagem dos 2 a 1 e com uma preparação intensa na altitude, perdeu por 1 a 0 e deixou a classificação para os colombianos.
Em prol da competição sul-americana, a equipe de Luxa ainda abdicou de atenção na disputa do Campeonato Gaúcho deste ano. Ao priorizar o torneio continental, acabou eliminada dos dois turnos do estadual. Sequer chegou a uma final. Com um time reserva, perdeu para o Inter nas quartas de final da Taça Piratini. Na semifinal da Farroupilha, deixou o Juventude avançar na disputa de pênaltis - empatou por 1 a 1 no tempo normal.
Os resultados negativos neste ano, somados aos insucessos de 2012, fazem balançar a permanência de Luxemburgo no comando técnico gremista. Após o jogo contra o Santa Fé, o presidente Fábio Koff não garantiu o treinador e disse apenas que aguardará o retorno da delegação para "sentar e conversar", o que deve acontecer neste final de semana.
Dentre os pontos positivos a se valorizar do trabalho do carioca está a boa posição conquistada no último Brasileirão. Chegou ao terceiro lugar, com 71 pontos - um apenas atrás do Atlético-MG. Com a campanha, garantiu vaga para a disputa da Libertadores, um dos objetivos do ano. O único, por sinal, alcançado.
Estreia com eliminação
Ao ser anunciado como novo treinador, em 21 de fevereiro de 2012, Vanderlei Luxemburgo era apresentado como um multicampeão, pronto para levar o Grêmio novamente aos anos de glória. Em sua estreia, cinco dias depois, já começou com o pé esquerdo. Viu o Grêmio ser eliminado pelo Caxias também nos pênaltis pela semifinal do primeiro turno do Gauchão. No returno, repetiu o carma: perdeu para o Inter na final por 2 a 1, marcando com fracasso os primeiros meses de Luxa no comando do Tricolor.
Quem deu o tom das derrotas, ainda que somente no primeiro turno, foi o atacante Kleber, que viu decepção e necessidade de amadurecimento do grupo:
- Decepcionamos o torcedor, a gente deve desculpas, precisamos melhorar, temos potencial para isso. Precisamos amadurecer algumas coisas, temos um grupo bom, muito qualificado, mas precisamos ter mais catimba, mais inteligência, segurar a bola - analisou, após o confronto no estádio Centenário.
Derrota em casa para o Palmeiras
Em junho, o drama voltou a se repetir. Enfrentaria um Palmeiras cheio de problemas pela semifinal da Copa do Brasil. O resultado? Mesmo em crise, o time do ídolo gremista Felipão conseguiu tirar o de Vanderlei Luxemburgo na competição, em um duelo de técnicos tão comum na década de 90 e que, diferentemente de 2012, trazia mais felicidade aos gaúchos.
Sem conseguir se impor em casa e criar oportunidades, o Grêmio deixou o Verdão marcar logo dois gols em um intervalo de quatro minutos no confronto de ida, deixando a missão para São Paulo quase impossível.
Um dos tentos, aliás, foi marcado por Barcos, que pouco conseguiu criar neste ano com a camisa azul, preta e branca. O 1 a 1 da volta - gols de Fernando e Valdívia - impossibilitaram os gaúchos de seguirem adiante na competição.
Após o duelo na Arena Barueri, as reclamações acabaram focadas na arbitragem. Miralles, hoje no Santos, chegou a afirmar que a classificação se perdeu em Porto Alegre. No dia seguinte à eliminação, o discurso era a busca por uma vaga na Libertadores, mudando o foco da perda de um possível pentacampeonato.
- A Libertadores é a meta essencial. Na minha ótica, o Grêmio tem que estar sempre entre os quatro ou cinco primeiros do Brasileiro. Às vezes, não dá para ganhar o título. O jejum é grande, sim, mas não passamos vergonha neste período - analisou o presidente Paulo Odone sem citar o rebaixamento à Série B em 2004.
Preparação intensa e virada na Colômbia
Em busca de uma melhor adaptação à altitude de 2,6 mil metros de Bogotá, o Grêmio viajou dias antes para treinar e reconhecer o ambiente da capital colombiana. No estádio El Campín, colocaria à prova a vantagem conquistada em Porto Alegre em busca da classificação para a próxima fase da competição sul-americana.
Esse até poderia ser o cenário do duelo contra o Independiente Santa Fé, mas era contra o Millonarios que o Tricolor vivia sua quarta eliminação da Era Luxa. Contra os colombianos, o clube teria sua última chance para levantar uma taça no último ano de existência do estádio Olímpico, que daria lugar à Arena a partir de dezembro. Tudo em vão.
Após abrir o placar com Werley e garantir um agregado de 2 a 0 - vencera em Porto Alegre por 1 a 0 -, viu o time da casa avançar no segundo tempo, enquanto o Grêmio, visivelmente cansado, apenas se defendia. Cosme e Rentería, duas vezes, marcaram os gols da virada, que veio somente aos 47 minutos do segundo tempo. Com isso, a equipe de Luxa voltou a repetir a sina de ser derrotada nos momentos finais das partidas, igualmente como fez no decorrer do ano.
Mesmo assim, o discurso do comandante seguia sendo mesmo de todo o ano: apesar dos resultados negativos, a equipe estava seguindo o caminho certo.
- Sempre faltaram algumas coisas. Por quê? Porque montamos um time no decorrer dos campeonatos. Isso não é depreciar, mas é falar a verdade. Estamos no caminho certo - disse.
Na ocasião, Luxemburgo permaneceu em Porto Alegre para 2013. Resta saber se sua sétima eliminação em 15 meses de Grêmio o seguirá mantendo no comando do time.