Integrantes da máfia dos ingressos, investigada pela venda ilegal de entradas da Copa do Mundo, tinham o hábito de presentear e fazer pequenos favores a pessoas ligadas ao mundo do futebol. Entre elas, de acordo com investigações da Polícia Civil, aparece o atacante Neymar, camisa 10 da Seleção Brasileira, que recebeu ?encomenda? de quatro bonés personalizados quando estava em Belo Horizonte, concentrado para o jogo contra o Chile, pelas oitavas de final do Mundial. Procurada por telefone e e-mail, a assessoria do jogador não comentou o assunto até as 22h desta terça-feira.
Em 27 de junho, às vésperas do confronto, o advogado José Massih, acusado de participar do esquema, enviou torpedos ao francês Mohamadou Lamine Fofana, apontado como chefe do bando. Às 22h15, Fofana escreveu SMS, dizendo que iria comer algo. No minuto seguinte, Massih respondeu: ?Pode ir. Preciso passar no hotel. Encomenda para entregar para Neymar. Boné?. Dez minutos depois, o advogado enviou mensagem para o celular de outra pessoa: ?O Neymar está esperando essa encomenda?.
Uísque em "chuteiras"
O advogado Luiz Davanzo, que representa Massih, disse que seu cliente viajava de carro a Belo Horizonte com um amigo de Neymar. ?Eles pegaram quatro bonés em uma fábrica em São Paulo. A entrega foi feita a um segurança do hotel, porque o Neymar estava concentrado para o jogo?, disse Davanzo.
Duas semanas antes, o nome de Neymar surgiu em uma conversa em francês entre Fofana e uma pessoa não identificada. No diálogo, grampeado pela 18ª DP (Praça da Bandeira), o chefão da máfia dos ingressos foi lembrado que deveria ?enviar um e-mail de Neymar?.
O francês tinha o costume de presentear atletas e ex-atletas. Em outra escuta em francês, no dia 13 de junho, Fofana disse ter dado iPads aos jogadores Kaká, Oscar e Ronaldinho Gaúcho na Suíça, a pedido de parceiro de negócios.
Em meio à Copa, Fofana desembolsou mais de R$ 9 mil com uísques em garrafas no formato de chuteira para dar a ex-jogadores do Brasil em Copas, num evento no Rio. Entre eles, Dunga, novo técnico da seleção. ?São indícios do envolvimento da quadrilha com o mundo do futebol?, avaliou o promotor Marcos Kac, da 9ª Promotoria de Investigação Penal (PIP). A polícia também prendeu o inglês Raymond Whelan, acusado de ser o principal fornecedor de ingressos do grupo.
Negociação por ingressos na estrada
No mesmo dia em que disse ter viajado a Belo Horizonte para entregar os bonés a Neymar, o advogado José Massih trocou mensagens com Fofana e outros interessados em negociar ingressos. Às 11h20, Massih enviou um torpedo informando o endereço e o telefone de um hotel, possivelmente onde o francês ficaria hospedado.
Eles voltaram a se comunicar às 18h20, quando o francês perguntou sobre ingressos. Massih ainda negociou dois ingressos por R$ 5 mil e combinou o depósito de pagamento para o próximo dia útil. Ex-representante do meia Elano, do Flamengo, e parceiro de Fofana na venda do ex-atacante Denilson, ex-São Paulo, para o mundo árabe, há oito anos, Massih é o único entre os 12 acusados de integrar a quadrilha solto.