Cortada da seleção brasileira de vôlei que irá aos Jogos de Londres-2012, Mari escolheu a dedo o figurino: uma camisa com a bandeira da Grã-Bretanha. Tranquila, sentou-se à beira da piscina do prédio onde mora, no Leblon, no Rio de Janeiro, e falou pela primeira vez sobre a dispensa do grupo que vai lutar pelo bicampeonato olímpico. Lamentou a decisão do técnico José Roberto Guimarães, que ainda tem mais dois cortes a fazer.
- Foi uma surpresa para todas as meninas. Mas isso tudo passava pela minha cabeça. Respeito a opção dele, mas ainda acho que poderia ajudar. Tanto na ponta quanto na saída. Ainda tinha muita lenha para queimar. E não concordei com esse corte. Estava me recuperando bem e poderia dar muito mais. Ele antecipou meu corte por saber que era algo polêmico, mas vejo que ele está numa situação delicada, que é o de cortar o mal pela raiz. Não estou 100% recuperada, mas são dores que não me impedem de jogar. Nas Olimpíadas isso não importaria.
Mari recebeu a notícia em Saquarema, na última terça-feira. Zé Roberto, no caminho da lavanderia para o quarto, disse que iria cortá-la por questões técnicas.
- Ele disse que, por isso, iríamos nos separar. Falei que respeitava a decisão dele, mas disse que iria embora. Depois do corte da Fabiola, eu esperava qualquer coisa - declarou Mari, que disse ter vestido a camisa com a bandeira britânica por acaso.
Mari foi uma das principais jogadoras na conquista do ouro olímpico nos Jogos de Pequim, em 2008. A ponteira, no entanto, não vinha atravessando uma boa fase. Durante a última Superliga, ela recebeu muitas críticas por suas atuações pelo Rio de Janeiro. Na apresentação à seleção brasileira, foi diagnosticada com uma tendinite no ombro direito, somada a duas outras lesões, na região lombar e no joelho esquerdo. Os problemas fizeram com que a jogadora ficasse fora do Pré-Olímpico Sul-Americano, quando a seleção garantiu a vaga para os Jogos de Londres.
Mari voltou à equipe para disputar o Grand Prix. Fora de ritmo, ela passou a ser escalada como oposto, posição na qual não atuava desde o início da carreira. A ideia de Zé Roberto era que a jogadora ficasse mais livre em quadra, sem a obrigação de defender. Porém, ela não vingou na posição e viu as suas chances de ir Londres acabarem depois do corte da última terça.
- Acho que 2008 foi o auge. Não só meu, como de todo o grupo. Aquele time encaixou bem, a Fofão fez a diferença, e o nosso preparo físico sobrou. Em 2004 fiz uma boa Olimpíada e acabei sendo culpada por erro de todo o grupo. Logo na minha primeira Olimpíada. Ainda tenho 28 anos e muita coisa pela frente. E agora quero me dedicar ao meu novo time, o Fenerbahçe. Não sei falar agora sobre futuro na seleção. Tenho que pensar - disse Mari
Em 2004, acabei sendo culpada por erro de todo o grupo. Logo na minha primeira Olimpíada"
Mari
Antes de Mari, Zé Roberto já havia cortado a levantadoras Fabíola e a central Juciely. O grupo atual que está em Saquarema conta com 14 jogadoras. O técnico ainda vai anunciar a dispensa de mais duas atletas. Natália e Sassá, que se recuperam de lesão, também podem ser cortadas. Zé disse, porém, que ainda vai esperar Natália até a data-limite.
- Ele falou uma vez que a Natália seria essencial para uma vitória, mas acho que todas as jogadoras são essenciais. Ela até me ligou para me dar apoio. Se ele acha que ela vai se recuperar, responsabilidade dele. Mas a Natalia pode surpreender e se superar.
Apesar do susto de ter sido cortada, Mari garante que vai torcer pela seleção.
- Vou torcer sim. E isso (o corte) não vai interferir em nada. O grupo é unido e não existe briga entre as meninas. Vai ser mais difícil para a nossa equipe, mas temos todas as condições de brigar pelo título. Estou usando essa camisa (com a bandeira britânica) por acaso, mas vale como torcida para elas - encerrou.