Na força, no muque! Cresce a prática pelo fisiculturismo no Piauí, revela Federação

Em Teresina, o esporte está tomando fôlego com a realização de campeonatos e com a visibilidade que os atletas do esporte

Júnior começou a fazer musculação como atividade física | Moisés Saba
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O fisiculturismo, ou ainda ?culturismo?, é o esporte que busca desenvolver os músculos do corpo através de exercícios e de uma alimentação bastante regrada. Em Teresina, o esporte está tomando fôlego com a realização de campeonatos e com a visibilidade que os atletas deste esporte estão adquirindo por aqui.

De acordo com Vicente Ferreira de Sousa Neto, presidente da Federação Piauiense de Fisiculturismo e Fitness (FPFF), o esporte está crescendo no Brasil após o Arnold Classic Brasil, que tem como estrela o ator Arnold Schwarzenegger: ?Agora está crescendo, estava meio parado, mas depois dessas duas edições do Arnold Classic o Brasil deu uma acordada?, diz. O Piauí também acordou, pois hoje o número de atletas, dentre homens e mulheres, cresceu bastante: ?Hoje temos mais de 40 atletas, dentre homens e mulheres?, complementa.

Atletas como Géssica Negreiros, de 23 anos, e Júnior Uchôa, de 21. Ambos possuem uma rotina de treinos muito intensa, que se divide em duas fases, a off-season e a pre-contest. ?A primeira tem mais calorias, que é quando o atleta está fora de temporada, já a segunda, que é na pré-competição, é regrada e possui bem menos calorias?, diz Júnior. Géssica está na fase pre-contest, pois está se preparando para o Campeonato Maranhanese, em São Luis ? MA: ?Estou em uma dieta restrita, comendo bem pouco, fazendo três treinos. São dois aeróbicos e um de musculação?, diz a atleta. Géssica vai competir na categoria ?bikini?.

Todo atleta tem suas motivações para entrar num esporte. A de Géssica foi uma aposta: ?Eu já malhei algumas vezes, mas nunca levei a sério. Até que surgiu uma 0 aposta do meu namorado. Ele disse que eu não duraria 3 meses indo direta pra academia, sem faltar. Deu que já tem quase 3 anos?, diz. ?Aí comecei a competir, quando um amigo disse que meu shape tava bom, e me chamou pra entrar na equipe que estou atualmente?. A dedicação de Géssica lhe rendeu o 1º lugar na categoria Figure I, no Campeonato Estreantes NABBA, em Teresina.

Já Júnior foi pelo sobrepeso: ?Comecei a malhar com 16 anos, mas não era nada sério. Com 18 e 19 anos passei a levar mais a sério, e o incentivo para isso foi o Campeonato Piauiense de 2013?. E o que era apenas um incentivo se transformou em uma vitória, pois nesta mesma competição Júnior alcançou o 1º lugar na categoria ?sênior?. Depois, ainda este ano, o atleta foi vice-campeão de uma competição em Pernambuco.

Os critérios de avaliação de uma competição de fisiculturismo são diversos, mas de acordo com Júnior eles variam de competição para competição, através das súmulas dos campeonatos. ?Enquanto uns valorizam mais a performance e a apresentação do competidor, outras são mais técnicas e analisa a simetria, densidade e definição muscular?, diz. Isto é, além de ter um bom físico, é necessário que os competidores também tenham uma boa desenvoltura durante as disputas. ?O fisiculturismo é um esporte, um estilo de vida e não deixa de ser uma arte?, afirma Júnior Uchôa.

?Ninguém pergunta como está teu treino ou tua dieta... Pergunta o que tu estás tomando?

Não há consenso quanto ao uso de anabolizantes. Para Vicente Neto, esse estereótipo deve ser afastado dos praticantes do fisiculturismo, mas Géssica Negreiros e Júnior Uchôa acreditam que o uso deste tipo de substância deve ser analisado de forma detalhada, e encarado com cuidado e acompanhamento profissional.

Géssica reconhece que as pessoas usam de forma errada, mas que cada um sabe o que é melhor para si: ?Acho que tem muita gente fazendo o uso deles de forma incorreta, com finalidades mais errôneas ainda. Mas também penso que cada pessoa tem que estar ciente do que o ela faz com o seu corpo e do que ela põe no seu corpo. Assim como álcool e cigarro são drogas, ainda que liberadas, muita gente faz uso e abuso delas?, diz Géssica Negreiros. Júnior concorda com Géssica: ?Em nível profissional, existem categorias que não dá para chegar sem o uso de anabolizantes?, afirma Júnior Uchôa.

De acordo com Géssica, a mídia trata os anabolizantes de forma incorreta: ?Quando se trata de anabolizante, a mídia cai em cima para dizer que é errado, que é isso, e que é aquilo, sabe... Eu acredito no livre arbítrio. Se a pessoa decidir usar anabolizante, que saiba como usar e como fazer o procedimento, porque pra quem faz o uso deles sem ter conhecimento, tem grande chance de não conseguir chegar onde se esperava ou até mesmo ocorrerem coisas muito piores?, diz Géssica Negreiros.

Sobre o preconceito de que todo fisiculturista usa anabolizantes, Vicente acredita que isso não passa de um estereótipo: ?Teve algumas pesquisas que mostraram que o maior número de usuários de anabolizante são ciclistas.

O problema do fisiculturista é que ele traz o esporte no corpo, daí esse preconceito?, afirma Vicente Neto. ?Ninguém pergunta como tá teu treino, tua dieta... Perguntam o que tá tomando?, diz.

Para Vicente Neto, ?o uso de anabolizantes não faz um fisiculturista campeão?. O presidente da FPFF acredita que a fisiologia conta mais: ?Aptidão física e uma boa genética. O biotipo favorece aptidões para esportes como o fisiculturismo?, relata. Para ele, quem entende do assunto sabe ?no olho? quem tem essa aptidão genética. Mas para além dessas aptidões e do uso de anabolizantes, a disciplina e o compromisso com a alimentação e a academia é que contam mais.

Esporte caro: Atletas gastam de 5 a 10

mil reais e saem dos campeonatos com um troféu e suplementos

?Leva um determinado tempo para ganhar massa muscular. São [em média] três meses de volume e mais três meses de definição muscular. Durante todo esse período, o fisiculturista faz alimentação bem regrada: clara de ovo, atum, peito de frango, peixe... Além dessa alimentação caseira, ainda tem as suplementações, de aminoácidos, glutaminas, etc. Um verdadeiro coquetel de suplementos. Ele [fisiculturista] tem que descansar, não pode ser um cara de balada?, diz o presidente da FPFF.

Mas fora todo esse cuidado com os exercícios e certas privações, os gastos com alimentação, academia, suplementos alimentares e até mesmo a tinta especial que os atletas utilizam no corpo durante as apresentações tira muitas pessoas que almejam seguir o esporte de campo: ?O que dificulta o número de atletas crescer é a alimentação, porque é um esporte que a alimentação é muito cara?, afirma Vicente Neto.

O presidente da FPFF foi crítico com relação à situação do esporte amador no Brasil: ?Os atletas gastam de 5 a 10 mil reais para se preparar e saem dos campeonatos com um troféu e suplementos. O esporte amador no Brasil é assim.

Em todos os lugares o esporte que mais se destaca é o futebol, mas em Teresina até ele vai mal das pernas. Imagine os outros?, diz.

Para exemplificar, Júnior Uchôa afirma que gasta, em média, 200 reais de peito de frango por semana, o que soma 800 reais por mês. E no seu caso, que tem a pele muito branca, é necessário o uso de uma tinta especial que ressalta as definições dos músculos: ?Ela custa em média 150 reais?, afirma.

Com tantos gastos, a saída para continuar nas competições são os patrocínios, mas esses também não são fáceis de conseguir: ?Alguns atletas ainda conseguem ir por alguma empresa, mas o patrocínio as pessoas conseguem mais pela amizade?, conclui Vicente Neto.

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