Olimpíadas de Londres bate recorde de audiência e de qualidade

Emissora oficial do COI mobilizou 5.500 pessoas para colocar o torcedor de sofá “dentro” dos Jogos.

|
Siga-nos no Seguir MeioNews no Google News

No Parque Olímpico de Londres, não foram só o estádio, o centro aquático e o velódromo que impressionaram os visitantes pela grandiosidade - uma das construções do local é capaz de abrigar cinco jumbos. A delegação britânica foi a maior dos Jogos, com quase 550 atletas, mas uma equipe dez vezes maior também entrou em ação nas pistas, piscinas e quadras, participando de todas as provas, do começo ao fim. Graças a esse time de 5.500 câmeras, técnicos e produtores e à construção do maior estúdio temporário de televisão do planeta, a Olimpíada de Londres terminou com mais um recorde: foi o evento esportivo mais visto na história, tanto em número de espectadores (calcula-se que 4,3 bilhões tenham visto pelo menos parte dos Jogos) como em horas de transmissão.

Pela primeira vez, todas as competições de todas as 26 modalidades foram exibidas com imagens em alta definição. Também foi a primeira edição da Olimpíada com transmissão ao vivo em 3D. Essas tecnologias, no entanto, não estão disponíveis a todos. Por isso, talvez a grande marca das transmissões de TV na trigésima edição dos Jogos da Era Moderna tenha sido sua espantosa qualidade. As câmeras do show olímpico correram lado a lado com Usain Bolt nos 100 metros rasos, nadaram nas mesmas braçadas que Michael Phelps sob a água e até mergulharam com Tom Daley na plataforma de 10 metros nos saltos ornamentais, sempre com imagens irretocáveis. O espetáculo continuará a partir desta semana, com o início dos Jogos Paralímpicos, na quarta-feira - a promessa é de uma nova série de transmissões de tirar o fôlego. E isso tudo só é possível porque o Comitê Olímpico Internacional (COI) pode fazer o que qualquer chefe de delegação adoraria imitar: escolher os melhores em cada área, de qualquer país que seja, para montar seu time para os Jogos.

Em sua Olimpíada anterior, em 1948, Londres fez história ao realizar a primeira transmissão ao vivo e em sinal aberto. As imagens chegaram a meio milhão de pessoas, todas no país dos Jogos. Desde então, o evento passou a ser exibido para todo o planeta. Seria impossível abrir espaço nas arenas para que cada país que recebe as imagens produzisse o próprio sinal. Decidiu-se, portanto, entregar a responsabilidade a apenas uma emissora, que repassaria as imagens a cada canal que comprasse direitos de exibição. Essa emissora costumava ser do país-sede, mas Londres foi palco de uma mudança. Pela primeira vez, a fornecedora exclusiva de imagens nos Jogos foi a Olympic Broadcasting Services, a OBS, subsidiária do próprio COI. Na edição passada, em Pequim-2008, ela já existia, mas fez a transmissão em parceria com os chineses. Desta vez, a OBS, que tem sede em Madri, assumiu por a missão por completo. O que não significa que outras emissoras não tenham participado do trabalho: a OBS absorveu equipes estrangeiras com altíssimo grau de especialização em modalidades que são tradicionais em seus países de origem. A britânica BBC, por exemplo, tinha equipes envolvidas na transmissão de futebol, tênis e remo. No judô, esporte criado no Japão, a tarefa ficou com a japonesa Fuji. A chinesa CCTV participou da cobertura do tênis de mesa, da ginástica e do badminton. Mas que não se pense que essas equipes só chegam a Londres para fazer o serviço às vésperas do evento. Assim como os atletas, os profissionais da OBS e de seus parceiros passam anos planejando e treinando cada detalhe das pouco mais de duas semanas de transmissão olímpica.

É através desse trabalho meticuloso que surgem ideias como a de acompanhar o salto da plataforma de 10 metros no centro aquático, soltando uma câmera com peso num trilho vertical - e dando ao telespectador em casa uma noção mais precisa da distância da queda e da dificuldade da prova. Para conseguir efeitos como esse, não é obrigatório gastar fortunas em máquinas mirabolantes. A câmera dos saltos ornamentais era operada por apenas uma pessoa, que simplesmente puxava o equipamento até o topo do trilho e soltava um cabo na hora em que o atleta pulava. O grande diferencial do trabalho era a qualidade de sua execução. Como são especialistas, os técnicos da OBS têm todo o repertório necessário para capturar com perfeição cada detalhe das competições. Mas também ajuda muito, é claro, o fato de todos trabalharem com equipamentos de última geração. Foram usadas na transmissão olímpica cerca de 1.000 câmeras de alta definição. O arsenal era necessário por causa da enorme quantidade de eventos simultâneos na Olimpíada. A OBS chegou a fornecer 24 sinais ao mesmo tempo às emissoras nacionais detentoras dos direitos de transmissão, e cada uma decidia o que mostrar ao seu público. No total, foram mais de 5.000 horas de imagens olímpicas em alta definição. Graças a 33 câmeras especiais, todas fabricadas pela Panasonic, patrocinadora oficial dos Jogos, Londres-2012 foi também a primeira Olimpíada exibida ao vivo em 3D, com cerca de 230 horas de transmissões (nas cerimônias de abertura e encerramento, atletismo, ginástica e natação).

Para o espanhol Manolo Romero, presidente da OBS, as imagens em 3D foram a grande novidade da Olimpíada, ainda que tenham sido vistas por relativamente pouca gente. "Acreditamos que essa produção em 3D transformará os Jogos deste ano num dos mais significativos da história das transmissões olímpicas", afirmou ele. Outra inovação que não chegou a todas as casas foi a exibição das competições em formato Super Hi-Vision, a próxima geração de tecnologia de imagem e som. Com uma qualidade 16 vezes superior à do HD comum, ela promete revolucionar as transmissões esportivas, pois é a que mais se aproxima de transmitir ao telespectador a sensação de estar no local do evento. Essa experiência, no entanto, foi para pouquíssimos: as imagens experimentais foram exibidas em oito telas de cinema espalhadas pela Grã-Bretanha e uma instalada dentro do International Broadcast Centre (IBC), o gigantesco estúdio de TV do Parque Olímpico. Enquanto essa tecnologia não chega ao telespectador comum, a empresa olímpica de TV inova de outras formas, seja pelo reforço no uso da "super câmera lenta", conhecida como HSSM (que foi usada em escala bem maior do que em Pequim-2008), seja pela criação de mecanismos que permitam ao torcedor de sofá assistir às provas por novos ângulos (antes de Londres, nunca foram utilizadas tantas câmeras suspensas por cabos, por exemplo). De acordo com Romero, da OBS, a emissora tem uma obsessão: "Queremos absorver todas as novas tecnologias para transmitir a vibração das competições a quem está assistindo em casa". Falando como qualquer atleta que já sonha com a próxima Olimpíada, ele prevê que no Rio de Janeiro, em 2016, novas marcas serão alcançadas. "É isso o que nos motiva a cada edição dos Jogos: acreditar que é possível fazer melhor."

Veja Também
Tópicos
SEÇÕES