Com agradecimentos e tentando transparecer tranquilidade, a presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, se pronunciou no fim da tarde desta sexta-feira a respeito da saída de Zico do comando do futebol do clube, em entrevista coletiva concedida na Gávea. O ex-diretor executivo anunciou seu desligamento do comando do futebol do clube através de seu site, na madrugada desta sexta. Na conversa, a mandatária - que estava acompanhada de toda sua diretoria - saiu em defesa do Galinho, mas evitou críticas diretas ao presidente do Conselho Fiscal, Leonardo Ribeiro - pivô da crise que acabou na saída de Zico - e agradeceu pelo trabalho realizado nos últimos quatro meses. Ela falou sobre a ida do ex-dirigente ao Ninho do Urubu para se despedir dos jogadores.
- Conversei com jogadores e comissão técnica, pedi ao Zico que fique tranquilo quanto à gratidão que tenho pelo trabalho, pelos momentos proporcionados por ele como jogador e como dirigente. A dedicação dele foi comovente e é bastante difícil para mim essa separação. Realizei o sonho de trazer o Zico de volta. Mas disse para que ele não desistisse da ideia. Ele plantou uma semente.
Sobre a origem da crise que acabou na saída do Galinho, ela evitou se posicionar contra o Conselho Fiscal, mas lamentou a maneira como as denúncias de irregularidade na parceira entre o Fla e o CFZ foram tratadas.
- O Conselho Fiscal está em seu papel. Não questiono isso. Para o bem do Flamengo, para a democracia, é importante que haja esse controle. Podemos questionar a forma, determinadas vezes poderiam não ser tão exacerbadas, até porque as coisas foram esclarecidas. Não vou me posicionar a favor de um ou de outro. Estou aqui a favor do Flamengo, da instituição, que tem regulamentos. E eu me comprometi com esses regulamentos.
À véspera do clássico contra o Botafogo, pelo Campeonato Brasileiro, ela preferiu deixar o anúncio de quem assumirá os cargos vagos no departamento de futebol rubro-negro para a próxima semana - além de Zico, o vice presidente de futebol, Vinícius França, pediu demissão. Só o gerente Isaías Tinoco permanece.
- Vamos discutir mais para frente. A prioridade é o jogo de amanhã. Nos reuniremos essa semana e acreditamos que nesta segunda-feira estaremos com os nomes todos.
Sobre a situação do técnico Silas, a presidente também preferiu deixar qualquer definição para depois da rodada, mas ficou claro que a situação do treinador continua delicada. Ela garante que não teve contato direto com Vanderlei Luxemburgo, apontado como favorito ao cargo, mas não negou que o clube já o tenha procurado.
- Vamos esperar o jogo.
Perguntada sobre a reação de Zico ao episódio, Patrícia preferiu não criticar a postura do ídolo e reclamou da maneira como o assunto foi tratado.
- Cada um reage de uma forma. Eu reajo estando aqui, enfrentando de peito aberto. E gosto desse desafio. Não estou aqui para julgar a postura do Zico. Estou aqui para agradecer. Gostaria que ele tivesse ficado mais. Todas as condições foram dadas. Quanto a esse assunto, página virada. No fórum adequado as coisas foram esclarecidas. Seguimos em frente com o propósito de dar transparência às nossas ações. O fórum seria dentro do Flamengo, mas as coisas saíram para voltar depois. Estamos todos no mesmo prédio, se marcarmos uma reunião, em 10, 25 minutos está tudo resolvido. Mas as coisas saem primeiro em um meio de comunicação para depois serem resolvidas aqui dentro.
"Não tinha e nem tem irregularidade"
Patrícia reforçou que, apesar do clima de crise gerado pela saída de Zico, as denúncias foram investigadas e devidamente esclarecidas, sem que qualquer irregularidade fosse comprovada.
- Existiam dúvidas e foram esclarecidas. Com o diretor executivo de base, comigo, com o Helio Ferraz, com o presidente e vice do Conselho Fiscal. Se eles se sentiram atendidos, é porque não tinha e nem tem irregularidade.
A presidente revelou detalhes sobre o pedido de demissão de Zico, que a informou de sua decisão atraves de uma mensagem de texto enviada pelo telefone celular.
- Eu estava em casa, assistindo ao debate dos presidenciáveis, e por volta de 00:28 recebi um "SMS" no telefone, do Zico dizendo que só tinha chegado em casa aquela hora, que o neto tinha nascido, que estava muito feliz, queria ter saído de lá e conversado pessoalmente, mas que ia publicar no site dele um pedido de demissão. Falava só sobre isso e agradecia pela confiança. Imediatamente, tentei contato telefônico com ele, não consegui, respondi com outra mensagem de texto, dizendo que respeitava, mas que seria importante que nós conversássemos. Não tive retorno. De manhã, às 11h09m, ele me telefonou, estava bastante emocionado. Disse que os problemas, o desgaste emocional com o Conselho Fiscal, tinha abalado a família dele e e que ele preferia se desligar.