A presidente do Flamengo, Patricia Amorim, decidiu, enfim, agir para estancar a crise entre o departamento de finanças e o futebol. A resposta respingou em dirigentes, técnico e jogadores. Criticada em algumas situações pela postura apaziguadora, a dirigente aumentou o tom de voz para afirmar:
- Quem manda no clube sou eu.
Depois do tiroteio - de um lado jogadores e Vanderlei Luxemburgo, do outro o vice-presidente de finanças Michel Levy - Patricia também apresentou suas munições. A dirigente considerou que Levy falou bobagem ao dizer que entre os jogadores ?um ou dois marqueteiros estão fazendo barulho?. Mas também condenou a resposta do treinador:
- Se o treinador quer ser vice de finanças, e o vice de finanças quer ser treinador, a coisa não vai acabar bem ? afirmou.
Falando em dívida de R$ 350 milhões, Patricia Amorim disse ainda que no misto de presidente e torcedora gostaria de ter um time mais forte para a estreia na pré-Libertadores, dia 25, contra o Real Potosí, na Bolívia.
A dirigente criticou a forma como a cobrança foi feita por parte de jogadores e técnico, não escondeu que deve luvas e direitos de imagem para alguns atletas e revelou que foi comunicada por Vanderlei Luxemburgo sobre o problema de Ronaldinho Gaúcho na reapresentação no Ninho do Urubu, quando o camisa 10 chegou dois dias pela manhã aparentando ter virado a noite e alegou insônia para, em vez de treinar, dormir em uma das salas do Centro de Treinamento.
- Gosto de ser comunicada, mas não adianta transferir. Isso tem que ser resolvido no dia a dia entre eles ? afirmou a presidente do Flamengo.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao GLOBOESPORTE.COM por telefone.
Crise entre departamento de futebol e vice de finanças
- Acho que ele falou bobagem (sobre a declaração de Michel Levy). Mas acredito que não foi para atingir alguém. Vamos lá. Primeiro vou falar do lado ruim. Tenho a sensação de que o Michel e o Vanderlei jogam pôquer, e eu jogo xadrez. No jogo deles, a reação é mais intempestiva, tem apostas; no meu, eu penso antes de cada jogada, nas outras duas seguintes. Acho que se fala muito, tem certos limites que não são respeitados, existe um atropelo. Se o treinador quer ser vice de finanças, e o vice de finanças quer ser treinador, a coisa não vai acabar bem. Tem que saber até onde se pode falar, para que isso não tenha uma repercussão negativa no time. E o futebol também tem que saber dos limites onde pode chegar. Mas tem o lado bom, que é o compromisso de todas as partes para que a coisa aconteça, a ansiedade para a formação do time, pelas contratações. Uma ansiedade para querer realizar. Mas quando tem um problema como esse, eu apareço e que fique claro: quem manda sou eu. Conversei com Vanderlei e com Michel para que fique claro que um é o técnico, o outro é vice de finanças.
Dívida com os jogadores e crise financeira
- Não tem crise nenhuma. Um exemplo: o Santos ofereceu R$ 4 milhões para os jogadores se eles fossem campeões mundiais. Nós combinamos com os jogadores R$ 3 milhões pela vaga na Libertadores. Depois do fim do Brasileiro, ficou acertado que no dia 9 de dezembro eu pagaria salários, uma parte da premiação e metade do 13º. Isso foi combinado com os jogadores. Eles poderiam ter optado pelo pagamento das luvas, que dá um total de R$ 800 mil. Mas se fosse assim, somente uns quatro jogadores seriam contemplados. Acho mais correto pagar a parcela da premiação, pois todo departamento de futebol recebe a sua parte.
Cobranças de atrasados
- Foi a segunda vez que aconteceu esse tipo de cobrança, está ficando uma situação desconfortável (no ano passado, os jogadores também reclamaram). Todos têm meu telefone: o capitão (Ronaldinho Gaúcho), o técnico (Vanderlei), o gerente (Isaías Tinoco) e o diretor (Luiz Augusto Veloso). Então, por que não me ligaram antes? Eu iria até eles para conversar. O que não pode acontecer é querer administrar o clube de fora para dentro. Tenho compromissos, e vou cumprir. Acho covarde certas cobranças. Sou presente, mas não estou em Londrina, pois tenho outras coisas para resolver. Além disso, não treino, não faço massagem. Não sou presidente apenas do futebol.
Dívidas
- Lógico que enfrentamos dificuldades, o dinheiro sai num fluxo muito mais rápido do que entra. Em maio, vamos acabar de quitar uma dívida de R$ 12,3 milhões com a BWA, falta apenas R$ 1,6 milhão. Com uma dívida de R$ 350 milhões, os juros correm numa velocidade monstruosa. Temos como prioridades: renovar com os jogadores que estão aqui, pagar o que devemos e só depois fazer as contratações. Não posso atrapalhar o fluxo. Não escondo que está atrasado, mas só devemos um pouco aos jogadores. Costumo usar a frase de que o Flamengo vendeu falência, agora vende solução. Claro que a gente vai errar. Temos o compromisso de não deixar mais dívidas, senão o clube quebra mesmo.
Reforços
- Contratamos sete jogadores no ano passado, mas nem todos chegaram no início da temporada, casos de Airton, Junior Cesar. Não estamos fechados para negociações, mas não posso ir contra o orçamento. Quando trouxemos o Alex Silva, vendemos os gêmeos e o Wanderley. Além de trazer novos jogadores, nossa proposta não é só essa. Também existem os jogadores que saem da folha, o que reduz os gastos, casos do Fierro, do Camacho, que foi emprestado (o meia treina com o grupo em Londrina), o Fernando...O Pet também. Tenho também que procurar novos investidores. Isso ajuda a trazer novos jogadores. Eu, como torcedora, gostaria de ter um time mais forte para a estreia na Libertadores. Não desistimos de reforçar o time.
Thiago Neves
- A proposta foi muito boa. Acredito que ele vem, penso nisso todos os dias.
Problema de Ronaldinho Gaúcho na reapresentação
- Recebo e-mails, mensagens de texto do Vanderlei, algumas sobre problemas. Mas tem coisas que devem ser resolvidas no futebol. Gosto de ser comunicada, mas não adianta transferir. Isso tem que ser resolvido no dia a dia entre eles.