A barriga aumentou, a barba está recheada de fios brancos, a passada sobre o ringue é lenta e a memória às vezes falha, mas Maguila segue Maguila: polêmico, engraçado, caricato. Mesmo tropeçando no português, se posiciona sobre tudo, ora às gargalhadas, ora frisando a testa mostrando seriedade.
Longe do esporte, afastado dos holofotes, Maguila leva uma vida tranquila. Depois de largar o boxe foi comentarista de TV, secretário municipal de esporte e humorista. Recentemente lançou um CD de samba e candidatou-se a deputado federal por São Paulo. Tudo agora é passado. O ex-boxeador, primeiro brasileiro campeão mundial dos pesos pesados, leva uma vida de aposentado.
Um dos poucos compromissos é dar palestras, que quase sempre viram um show de humor pelo seu jeito engraçado de falar. Também sai de casa para ver o projeto coordenado por sua mulher, a advogada Irani Pinheiro. Lá, ele calça botas e luvas para treinar.
O estilo durão só não o permite aceitar o Mal de Alzheimer, doença diagnosticada ano passado. Maguila, 53 anos, não aceita ter ?Mal de Azar?, como se refere. Até duas semanas atrás negava-se até a tomar os medicamentos.
Em entrevista ao LANCENET!, ele fala sobre a saúde, critica o UFC, ignora Anderson Silva, fala da carreira de cantor e admite que concorreu a deputado porque ganhou dinheiro do partido. Ah! Comenta até a gordura de Adriano, que não deu certo no seu Corinthians.
Você foi candidato a deputado federal. Ainda tem pretensões políticas?
Deixa eu explicar. O partido me deu R$ 50 mil para eu sair candidato. Mas nunca tive pretensão em ser político, nem quero ser político. Primeiro porque não tenho dom para isso, não sei fazer política. Mas deram dinheiro. Aceitei.
Você fez campanha? Porque você teve 2.951 votos...
Não. Sabe o que fiz? Ficava na padaria lá perto de casa tomando uísque com Red Bull, mais nada. Minha campanha foi essa. Acho feio ficar pedindo as coisas para os outros. Quem quer as coisas tem que
trabalhar.
E sua carreira de músico, como está? (Maguila lançou CD de samba em 2009).
Gravei um CD com um samba da hora, viu. Inclusive tem uma música inédita que é Vida de Campeão. Eu discuti com o Raul Gil. Ele começou a me dar muita ordem, me mandar (o filho de Raul Gil era empresário de Maguila). Eu disse: ?Já fui muito mandado. Hoje não aceito mais ser mandado.?
Você ainda canta?
Não, hoje não. Se aparecer alguém legal para me empresariar, aceito. Mas estou muito velho para ficar tomando dura.
O que você faz hoje?
Estou dando palestra. Viajo o Brasil inteiro. Conto minha vida. Minha vida já é uma palestra, com sofrimento grande. Conto quando cheguei do Nordeste, como comecei no boxe...
O que você está achando do momento do boxe no Brasil?
Modéstia à parte, não tô vendo ninguém aparecer. Mas deve ter muito talento por aí. Não tenho visto muito. Ninguém divulga. Só tenho visto falar desse UFC.
Você acompanha o UFC?
Não, não acompanho. Vi uma vez só para nunca mais ver. Para mim, aquilo é briga de rua. O cara joga o outro no chão e bate até sangrar. Se o juiz não separar, mata o cara. Eu não gosto de assistir. É briga de rua, não tem técnica alguma. Não assisto. Não por desprezar. É por que eu não gosto de violência. Não gosto de ver tirar sangue do outro, de arregaçar o outro. Naquilo deixam bater até matar o cara.
O UFC está provocando a queda do boxe?
Nada a ver. Não está influenciando. Porque no UFC você vai na rua, paga um cara qualquer e coloca para lutar, sem técnica. O boxe você tem que ficar três anos no amador. Para passar ao profissional, leva um tempo. Esse UCF não. Você pega um cara na rua e pergunta se quer lutar por dinheiro. O cara tá com fome vai lá e luta. Acaba morrendo. Não tem preparo físico nem psicológico.
Mas o MMA mistura várias artes marciais, inclusive o boxe.
Nada disso. É tudo mentira. O boxe não bate assim (faz sentido de soco para o chão), não dá cotovelada. O boxe não tem essa violência.
Você conhece o Anderson Silva?
Conheço de nome, só. Nunca encontrei com ele. É um universo muito diferente do meu. Dizem que ele é o destaque, o campeão. E nem me interessa encontrar. Porque para mim não é esporte. É uma briga de rua. E briga de rua não me interessa. Modéstia à parte, eu gosto é de técnica. Não gosto de violência. Chute na cara não é esporte para mim. Aquilo é assassinato. Dizem que o boxe é violento. E aquilo?
Como você está lidando com o Mal de Alzheimer?
Não tem nada de Mal de Azar (Mal de Alzheimer). Minha mãe morreu com 89 anos com Mal de Azar. E todas as irmãs dela têm Mal de Azar. Vai morrer tudo com isso. O médico falou que os filhos da minha mãe são propícios a ter, mas não que eu tenha. Só depois dos 60 anos pode dar esse problema. Eu estou bem, graças a Deus. Eu tenho é muita safadeza (risos).
Faz 12 anos que você parou de lutar. Você é reconhecido nas ruas?
Onde eu chego é uma festa, todo mundo me reconhece. Querem fazer foto, querem autógrafo. Prefiro foto porque sou ruim para escrever. Estudei só três anos. Só aprendi a fazer Maguila, mas faço bonito (pede papel para escrever o nome). É um desenho bonito. Só aprendi a fazer isso aí. Minha mulher ensinou.
Muitos ex-atletas reclamam da falta de reconhecimento. Você sente isso?
É que às vezes o cara foi meia-boca, não foi campeão do mundo igual a eu (sic). Os meia-bocas não têm reconhecimento mesmo. Os únicos que têm reconhecimento no boxe foram Éder Jofre, Miguel de Oliveira, Adilson Maguila e o Popó. Num país tão grande, só tem quadro boxeadores em destaque. De mim, todo mundo gosta.
Quais são seu planos?
Quero viver essa vida, não fazendo nada. Está muito bom. É a vida que pedi a Deus. Vida de aposentado. É o que sempre quis: receber todo mês sem trabalhar (gargalhadas).