Em 20 anos de carreira como profissional, Roberto Carlos, hoje com 36 anos e no Corinthians, tem um currículo de dar inveja. Conquistou Copa do Mundo, Copa América, Mundial de Clubes, Liga dos Campeões, Campeonato Espanhol, Campeonato Brasileiro, entre outros tantos títulos. Mas ele ainda não está satisfeito. De volta ao Brasil após 13 anos na Europa, o lateral-esquerdo sonha com a Taça Libertadores e, acreditem, mais uma Copa.
Sem ser convocado pela seleção brasileira desde o fracasso na Copa do Mundo de 2006 (ele foi um dos mais criticados por estar arrumando a meia no momento do gol de Henry, da França, nas quartas de final), Roberto Carlos sabe que esse retorno não é fácil, mas está confiante. E mais: quer levar junto dele outro jogador bastante criticado no Mundial da Alemanha, o amigo e companheiro de Timão Ronaldo.
- Eu cheguei aqui para dar um ânimo a mais ao Ronaldo. Para que ele se concentre mais, para que não tenha mais lesões, para que mantenha o peso e para ele se divertir cada dia mais. Eu quero motivar o Ronaldo para, quem sabe, voltarmos juntos à seleção brasileira ? declarou o novo camisa 6 da equipe alvinegra.
Se voltar à seleção brasileira é uma incógnita para os dois, outro retorno é praticamente certo: ao Santiago Bernabéu. Isso porque está previsto para o mês de agosto um amistoso do Timão com o Real Madrid, ex-clube deles. Esse acerto, aliás, é visto por Roberto Carlos como o seu primeiro golaço pelo clube paulista.
- Conseguir isso já de cara, junto com o Ronaldo, desculpe as palavras, mas é do c..., é f... ? vibrou o lateral-esquerdo, um dos maiores ídolos da história do Real Madrid.
Confira abaixo a íntegra da entrevista exclusiva que o pentacampeão deu ao GLOBOESPORTE.COM em Itu, local da pré-temporada do clube alvinegro.
GLOBOESPORTE.COM - Em sua apresentação no Corinthians, você disse que o Ronaldo é como se fosse um irmão. Quando e como começou essa amizade?
Roberto Carlos - ?Nossa amizade já existe há muitos anos. Eu o conheço desde que ele jogava no Cruzeiro. E logo depois nós chegamos praticamente juntos à seleção brasileira. A partir daí eu pude participar da maioria dos momentos importantes da vida dele. Tanto que ele sempre diz nas entrevistas que nós passamos mais tempo juntos do que com as nossas próprias famílias?.
Vocês sempre dividiram quarto nas concentrações da seleção e do Real?
?Sempre, sempre... Na seleção brasileira nós sempre estávamos no mesmo quarto, dividindo tudo, as nossas experiências, conversando sobre a vida. No Real, a concentração era em quarto individual, mas nós estávamos sempre ligando um para o outro e combinando de tomar café juntos ou então de ver televisão?.
E o que você pode nos contar de curioso desses anos de concentração?
?São tantas coisas. Nós falamos tanta besteira um para o outro. Mas o que chama atenção é que ele gosta de um tipo de música diferente do que eu gosto. Ele curte música eletrônica e eu sou mais do sertanejo e do pagode. Então tem muita discussão no quarto, porque o Ronaldo é briguento, quer que tudo seja do jeito dele. Mas o importante é que temos uma amizade muito boa e verdadeira. Ah, não posso deixar de falar que na minha casa em Madri eu tinha uma discoteca e fiz um espaço de música eletrônica para ele, mas ele nunca teve coragem de fazer o mesmo por mim (risos)?.
Se na música não há entrosamento, dentro de campo isso não é problema, né? Afinal, você foi quem mais deu assistências para o Ronaldo no Real...
?É verdade. Eu não sei ao certo quantas assistências eu dei, mas participei de muitos gols do Ronaldo no Real Madrid. Nós temos muita sintonia. Só de olhar já sabemos o que o outro vai fazer. Ele é maravilhoso. Muito bom trabalhar com ele?.
Então quer dizer que se você estivesse no Corinthians em 2009 o Ronaldo teria alcançado a meta de 30 gols que tinha? (o atacante fez 23)
?(Risos) Pode ser, pode ser... Mas foi uma pena aquela fratura que ele teve (no dia 26 de julho, no clássico contra o Palmeiras, Ronaldo quebrou a mão esquerda). Mas este ano eu posso garantir que ele estará mais forte. Eu cheguei aqui para dar um ânimo a mais ao Ronaldo. Para que ele se concentre mais, para que não tenha mais lesões, para que mantenha o peso e para ele se divertir cada dia mais. Eu quero motivar o Ronaldo para, quem sabe, voltarmos juntos à seleção brasileira?.
Você realmente acredita que ainda é possível mudanças nesse sentido na equipe formada pelo Dunga? Ele parece ter o grupo fechado...
?Acredito que ele tenha uma base formada, mas nos próximos meses (a convocação final sai em maio) muita coisa pode acontecer. Jogador pode se machucar, estar mais cansado... Não que eu esteja desejando mal, de jeito nenhum, mas são coisas que acontecem no futebol. E esse negócio de grupo fechado não existe nesse momento. O grupo só estará fechado quando estiverem todos no avião indo para África do Sul. Por isso, agora, estão todos brigando por uma vaga, um espaço?.
O Dunga já tem seus homens de confiança para o ataque da seleção brasileira, mas a lateral esquerda ainda passa por testes. Você acha que está com mais chances do que o Ronaldo?
?Não. Tenho certeza que neste ano o Ronaldo voltará a ser artilheiro, a fazer muitos gols, e eu vou correr pela esquerda, chutar de longe, voltar para marcar... Vamos fazer o que todos os jogadores que buscam uma vaga fazem: mostrar trabalho. Aí se o Dunga achar que é uma boa voltarmos, tudo bem. Caso contrário eu vou ficar em casa assistindo à Copa do Mundo e curtindo os meus filhos?.
Você acha que é possível encontrar outro lateral que fique tanto tempo (17 anos, contando a base) na seleção brasileira como você ficou?
Vocês querem saber um novo Roberto Carlos ou um novo lateral? (risos) Brincadeira. Mas é muito difícil atualmente um jogador ficar tanto tempo assim. Na minha época era mais fácil. Montamos um grupo que ganhou tudo. Hoje pode até conseguir um que atue em uma Copa do Mundo, mas duas seguidas acho difícil.
Em agosto, depois da Copa e da Libertadores, vocês farão um amistoso contra o Real Madrid. Um jogo que você ajudou a marcar. Você está feliz?
?Muito. Eu construí uma história impressionante no Real Madrid. É motivo de felicidade também poder colocar um time como o Corinthians, que é uma das principais referências no Brasil, para jogar contra a melhor equipe do mundo. Conseguir isso já de cara, junto com o Ronaldo, desculpe as palavras, mas é do c..., é f... E o Corinthians não vai só para Espanha, vai para os Estados Unidos, para o México, para onde for convidado. É uma equipe com atletas de boa imagem e precisa explorar isso?.
Aproximadamente 6 mil pessoas estiveram na sua apresentação no Parque São Jorge. Qual foi a sua sensação diante da Fiel?
?A minha chegada ao Fenerbahçe, na Turquia, também foi maravilhosa. No dia seguinte já tinham vendido mais de 40 mil camisas. Mas aqui no Corinthians tudo é diferente. Lá no Fener, a torcida me via como um ídolo que veio do Real Madrid, aqui o torcedor corintiano me vê como um jogador que está chegando para ajudar na Libertadores e para ir mais longe com o grupo. Isso é mais gostoso?.
Você também negociou com o Santos. Por que não deu certo?
Estava falando do Santos, porque nós não queríamos dizer que estava tudo certo com o Corinthians. Mas já tinha acertado com o Corinthians há tempos.
E você pretende realmente encerrar a carreira no Corinthians?
Sim. É esse o meu desejo.