Renato Gaúcho detona atacantes brasileiros: Deviam sentir vergonha

Em entrevista, ele abriu o verbo.

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Sem trabalhar desde abril de 2014, quando foi demitido do Fluminense, Renato Gaúcho construiu um patrimônio que lhe garante um bom padrão de vida mesmo no desemprego, ainda que seu condomínio custe R$ 9 mil. Mas a saudade do futebol é maior do que as mágoas que leva do mundo da bola e do Brasil. Crítico, o treinador critica os atacantes do País, superados este ano na artilharia do Brasileiro por um veterano, Ricardo Oliveira, de 35 anos.

Por que você está há tanto tempo desempregado?

Recentemente, recebi um convite de um clube de fora do Brasil para ganhar mais de 100 mil dólares por mês. Não vou. Não preciso, não vou ficar longe da minha filha. Não curto a ideia. Já tive proposta de Dubai... Eu não quero.

Sente saudade do trabalho?

Sinto, mas graças a Deus não preciso do futebol para viver. É muito difícil ser treinador no Brasil. Todo mundo quer resultado da noite para o dia. E isso é impossível.

Por que não precisa? Economizou o suficiente nos tempos de jogador?

Digamos que não fui nada burro na minha época de jogador. Eu dava 30% para a família, ficava com 20% para mim e guardava 50%. Hoje, os caras querem gastar 95% e guardar 5%. Não dá. O jogador ganha um bom salário durante dez ou 12 anos somente. Eu sempre digo isso aos meus jogadores. Aconselho, explico...

Mas consegue manter um bom padrão de vida?

O meu padrão eu consigo manter, sim. E olha que minhas contas são altas. Pra você ter uma ideia, pago aqui R$ 9 mil de condomínio. Mas, fora isso, quase não gasto dinheiro. Não rasgo dinheiro, não sou malandro, mas não sou otário.

Você não quer sair do Rio?

Isso não existe. Nunca fiz essa exigência. Já fui pra Bahia, Paraná, Sul... O que eu não quero é sair do Brasil. E não vou trabalhar em cinco clubes num ano. Não posso ir para um time que esteja com a corda no pescoço. Que resultado eu vou ter? Um exemplo: Jorginho fez um ótimo trabalho e não conseguiu livrar o Vasco... Era quase impossível (evitar o rebaixamento). No fim, o técnico corre o risco de pagar o pato mesmo sendo o menos culpado. A verdade é que a profissão de treinador é muito estressante.

Volta a trabalhar em 2016?

Volto, com certeza. Para dizer a verdade, já tive umas conversas. Não posso falar.

Guarda mágoa do Fluminense, seu último clube, por ter sido demitido?

Eu tinha sido vice-campeão brasileiro no Grêmio e não fiquei lá porque não quis. Quando cheguei no Fluminense, alguns jogadores estavam voltando de contusão, como Bruno, Carlinhos, Diguinho, Valencia, Fred... Levei o Filé (fisioterapeuta) para o Fluminense e botei os caras para jogar. Aos poucos, a coisa começou a engrenar, mas o presidente (Peter Siemsen) me mandou embora por causa de uma briga dele que não era minha.

Você se refere à briga com o Celso Barros, patrocinador?

Pergunta pro presidente. Apenas acho que o Peter deveria analisar melhor quem o aconselha. A verdade é que depois veio o Cristóvão. Ele perdeu a Sul-Americana, a Copa do Brasil, foi mal no Brasileiro. E não foi mandado embora naquele ano. Mas nessa vida a gente tem que se acostumar. Estou vacinado. Não caí de paraquedas no futebol. Eu te digo que o futebol é a atividade que mais emprega incompetentes que não entendem do assunto. É como você me botar num banco como gerente. Em uma semana, o banco quebra. As coisas não andam no futebol. O problema é que no futebol tem muita gente com o poder da caneta.

Você não foi à festa dos 20 anos do gol de barriga, em junho, por não ter ambiente no clube?

Eu fiz a campanha, fotos para a Adidas, vesti a camisa... Mas eu sou profissional. Não posso ficar ligado ao Fluminense. Daqui a pouco, dirigentes de outros clubes vão dizer: “Não chama o Renato porque ele é Fluminense”. Sou Grêmio e nem assim fico amarrado ao Grêmio. Esse foi o motivo. Foi para as pessoas não dizerem que sou tricolor. Sou profissional. Festa??? Então, manda o Fluminense me dar dez anos de contrato!

Treinaria o Internacional?

Não, em respeito ao Grêmio.

Tem acompanhado a falta de união dos clubes do Rio e a proposta de uma nova Liga?

Olha, garanto que não cheguei a esse estágio, mas tem horas em que você perde a vontade de trabalhar por causa de tanta merda que acontece. Estou te falando... Cheguei ao Fluminense depois de ser vice-campeão, fazia um bom trabalho no clube, mas por causa de política eu me fodi.

E no gramado? Sente falta de bons goleadores?

Os atacantes do futebol brasileiro deviam sentir vergonha por um jogador de 35 anos ter sido o artilheiro do campeonato. Acho o Ricardo Oliveira um baita jogador, mas os mais jovens não podem perder para um cara de trinta e tantos anos. Fiquei dez anos na seleção brasileira. E havia cinco craques por posição. Hoje em dia, a gente tem o Neymar como melhor jogador... Uma seleção não pode depender de um jogador apenas. Nenhuma seleção do mundo pode depender de um jogador.

Não acha que, no Fluminense, você defendeu demais o Walter, um atacante que atua acima do peso?

Mas o Waltinho perdeu 12 quilos comigo. O Celso (Barros) me perguntou se eu queria o Walter no time. Peguei o telefone, liguei pra ele e perguntei: “Quer vir? Mas tem isso, isso e isso...” Ele aceitou. Ele sabe jogar bola. É inteligente, faz gol, tem força. Se eu assumisse um time agora, tentaria levá-lo. Botei o Walter para seguir o programa de uma nutricionista. Ele continuou a comer, mas comia coisas boas, saudáveis. Parou de comer aqueles (biscoitos) Trakinas que gostava. Com o Cristóvão, ele não se entendeu e acabou perdendo a motivação.

Os 7 a 1 foram merecidos?

Pelo que o Brasil jogou, o resultado foi merecido. Fiquei me beliscando porque não acreditava naquilo. E vou dizer: os alemães tiraram o pé do acelerador.

Como tem acompanhado a situação da CBF, com um presidente preso nos Estados Unidos e outro investigado?

Olha o nível do futebol brasileiro! Olha quem dirige... Há quantos anos está acontecendo isso na CBF? Só que lá nos Estados Unidos o pessoal não brinca em serviço, não.

Está satisfeito com o país?

Sou brasileiro, mas estou com nojo do país. Estou com nojo... O cara que rouba galinha ali na esquina vai preso. Mas o que rouba milhões escapa. Nada acontece. Vai deixar roubar? Tudo bem, deixa roubar. Mas pega o cara depois. Hoje, penso em coisas que jamais pensei para a minha filha. Talvez seja melhor ela morar fora. Já toquei nesse assunto com ela. Estamos avaliando aos poucos essa possibilidade. Não sei em que país. Mas com certeza seria na Europa.

É eleitor do Romário?

Sou.

Sua filha, Carol, está trabalhando como modelo?

Ela cursa jornalismo. Gravamos um comercial para a Pepsi e outro que vai ao ar agora em janeiro. Ainda é segredo, não posso contar nada, mas você vai ver em breve... Ela ganha o dinheirinho dela, mas eu não vejo (risos). Já ela vê o meu dinheiro a toda hora. Viajou quatro vezes esse ano com o dinheiro do otário aqui (risos).

É a favor impeachment da presidente Dilma?

Votei no Aécio, todo mundo está insatisfeito, mas não é assim... Se provarem algo, ela tem que sair. Fora isso, não tem nada a ver.

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