A Linha 17-Ouro do Metrô de São Paulo, um monotrilho que fará a ligação entre o aeroporto de Congonhas e a rede de trens metropolitanos da capital paulista, a única obra de responsabilidade do governo do Estado de São Paulo que consta na Matriz de Responsabilidades da Copa do Mundo de 2014, não irá ficar pronta a tempo do Mundial de futebol, de acordo com informação do gabinete do governo estadual passada na última segunda-feira.
Assim, o Estado de São Paulo admite uma realidade revelada há sete meses, a de que o governo não seria capaz de cumprir o compromisso que tomou para si em janeiro de 2010, ao assinar a Matriz de Responsabilidades, documento firmado por União, Estados e cidades-sedes que traz as obras que seriam executadas para o torneio de 2014.
Orçada em R$ 3,1 bilhões, sendo R$ 1,082 bilhão em recursos federais de uma linha especial da Caixa Econômica Federal criada exclusivamente para financiar obras essenciais para a Copa, a linha terá 17,7 quilômetros de extensão e 18 estações. Haverá conexões com as linhas 1-Azul (Estação Jabaquara), 4-Amarela (Estação São Paulo-Morumbi) e 5-Lilás (Estação Água Espraiada), bem como à Linha 9-Esmeralda da CPTM (Estação Morumbi).
Quando o Estado assinou o compromisso constante da Matriz, a previsão era entregar a obra toda a tempo da Copa do Mundo. Já quando o governo de São Paulo assinou o contrato com o consórcio vencedor da licitação para construir o monotrilho (formado pelas empreiteiras Andrade Gutierrez, CR Almeida, Scomi Engineering e MPE), em julho de 2011, o Estado já trabalhava com prazos diferentes dos iniciais.
À época, a previsão passou a ser entregar dois terços da obra até meados de 2014. O terceiro trecho passou a ter previsão de entrega para meados de 2015. Já em novembro do ano passado o Estado passou a dizer que, a tempo para a Copa do Mundo, apenas pouco mais de um terço da linha, ou 7,7 quilômetros dos 17,7 quilômetros previstos, estariam prontos.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Transportes Metropolitanos informou que a redução do compromisso paulista para a Copa acontecia porque, quando a Matriz de Responsabilidades fora assinada, esperava-se que o estádio a ser utilizado para a Copa do Mundo seria o Morumbi, destino final da Linha 17-Ouro. Agora que o estádio será no bairro de Itaquera (zona Leste), o projeto deixara de ser prioridade.
"Com a mudança do estádio da zona sul para a zona leste, o trecho estratégico da Linha-17 para a Copa do Mundo passou a ser a ligação do Aeroporto de Congonhas com a rede metroferroviária, passando por uma importante zona hoteleira. Este trecho estará pronto até a Copa", informou, há um ano, a pasta estadual.
Em abril deste ano, porém, o contrato firmado entre o governo do Estado de São Paulo e o consórcio responsável pela construção da Linha-17 do Metrô determina que a obra tem que ser entregue até o dia 27 de junho de 2014, ou seja, 15 dias após o início da Copa do Mundo de 2014.
Depois que a reportagem foi publicada, a Secretaria de Estado de Transportes Metropolitanos enviou uma nota à redação, afirmando que, "apesar de o referido contrato determinar que a obra tem que ser entregue até o dia 27 de junho de 2014, a secretaria trabalha para entregar a primeira fase da Linha-17 até o dia 31 de maio de 2014".
No dia 7 deste mês, porém, o governador Geraldo Alckmin rendeu-se à realidade. Durante visita ao canteiro de obras do monotrilho, na avenida Jornalista Roberto Marinho, ele afirmou: "A obra será entregue no segundo semestre." E justificou: "Não é uma obra para a Copa do Mundo, mas para a cidade".
A reportagem, então, voltou a procurar a Secretaria de Estado de Transporte Metropolitanos, que manteve o discurso de abril de 2012, embora atenuado: "O Metrô irá fazer o máximo esforço para entregar a obra a tempo da Copa do Mundo". A reportagem, então, entrou em contato com o gabinete do governador. A assessoria do órgão informou, então, que o que o governador havia dito estava correto: não haverá monotrilho antes da Copa.
Com a confirmação oficial, a obra corre o risco de perder o financiamento federal, de mais de R$ 1 bilhão, já que a linha da Caixa tem condições especiais específicas para obras da Copa. No fim deste mês, será publicada uma atualização da Matriz de Responsabilidades. O Ministério das Cidades, responsável pelo financiamento das obras de mobilidade urbana da Copa,foi procurado pela reportagem, para que informasse se monotrilho paulista deixaria de constar na Matriz. A resposta da pasta foi a que segue:
"A Matriz de Responsabilidades, sob coordenação do Grupo Executivo da Copa (Gecopa), passa por revisões periódicas, podendo envolver a inclusão ou a exclusão de empreendimentos, obedecendo aos critérios estabelecidos pelo Gecopa para esta revisão. Uma nova revisão da Matriz está em fase final de consolidação." O que isso significa, só esperando até o final do mês para saber.