Técnica recorda os abusos no judô japonês, e vê outra realidade no Brasil

E se depender da única integrante nipônica na comissão técnica brasileira, as controvérsias têm prazo para acabar.

Yuko lamentou os escândalos que envolveram o judô no Japão | CBJ/Divulgação
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Escândalos sexuais, agressões físicas e bullying. O judô japonês está atravessando o momento mais conturbado da sua história com uma série de casos que vieram a público nos últimos meses. E se depender da única integrante nipônica na comissão técnica brasileira, as controvérsias têm prazo para acabar. Em entrevista ao UOL Esporte, a treinadora Yuko Fujii lamentou as polêmicas que assolaram o judô mais tradicional do mundo e admitiu que os métodos excessivos eram comuns em sua época de atleta.

"Isso começou a acontecer há muito tempo. Mas as pessoas não viam esses abusos como um problema. Agora se tornou algo grande. O problema é que a sociedade do judô no Japão é muito pequena e tudo é muito fechado. Então, muita coisa que acontecia ficava lá dentro", comentou Fujii, que está trabalhando com a seleção verde-amarela há cinco meses.

No começo do ano, o técnico da seleção feminina do Japão Ryuji Sonoda foi acusado de agressão física por nada menos do que 15 atletas diferentes em cartas anônimas entregues ao comitê olímpico do país. Segundo as judocas, elas apanhavam com espadas de bambu (também conhecidas como "Shinai"), levavam tapas na cara, chutes e eram empurradas no peito pelo treinador. Pouco depois do caso se tornar público, ele renunciou ao cargo.

"Quando treinava lá, não achava que as coisas que aconteciam eram erradas. Nós não tínhamos essa percepção. Era algo que tínhamos que cumprir. Esse é um problema em qualquer sociedade fechada. Fui sortuda, nunca apanhei do meu técnico. Já vi acontecer com outros, mas não comigo", completou a nova técnica da seleção brasileira.

As agressões físicas foram apenas uma parte dos escândalos que estremeceram o judô japonês nos últimos meses. Em maio, o diretor da federação japonesa Jiro Fukuda admitiu ter abusado de uma atleta da seleção e abandonou sua posição após forte pressão de outra ex-judoca que tornou o caso público - a medalhista de prata nas Olimpíadas de Barcelona-92 Noriko Mizoguchi.

O ex-dirigente de 76 anos disse que tentou abraçar e beijar uma lutadora à força em um elevador do metrô de Tóquio, em 2011, mas não revelou o nome da atleta. O caso dominou as manchetes dos principais jornais no país.

Em outra polêmica do judô nipônico, o bicampeão olímpico Masato Uchishiba foi condenado a cinco anos de prisão após ter sido acusado de estupro por uma atleta treinada por ele. O antigo arquirrival de João Derly era considerado um dos ícones da modalidade até o evento vir a público.

Já o caso mais recente de todos aconteceu na semana passada, quando o atual campeão mundial Shohei Ono foi suspenso pela federação japonesa por três meses. Ele foi acusado de praticar bullying e agredir membros da seleção júnior ao lado de 11 companheiros. De acordo com a denúncia, os jovens judocas eram alvos de tapas e chutes dos mais velhos.

Contratada no começo do ano para melhorar a parte técnica dos atletas brasileiros, a japonesa Yuko Fujii disse que a realidade do judô verde-amarelo é completamente diferente. A treinadora elogiou a postura dos lutadores e disse que a visão da modalidade no país está frente da maioria das outras seleções.

"O Brasil já produz atletas com técnica e com muita paixão pelo esporte, um desejo de ganhar acima do normal. Gostam de treinar e melhorar, trabalham duro. É tudo o que precisamos. Estou aqui para fazer ajustes técnicos e voltar ao básico mesmo. Não vim praticar o estilo japonês, mas sim levá-los de volta ao começo do judô, onde a filosofia e respeito contam muito", concluiu Fujii, que também trabalhou na seleção inglesa por alguns anos antes de vir para o Brasil.

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