"Ainda tem gente que acha que time é tudo igual". Ao lado de uma montagem de fotos com torcedoras do Bahia e do Grêmio, a frase viralizou pelo WhatsApp e resultou no desabafo de Edna Matos, de 53 anos, contra o racismo e o machismo. Fã dos jogos em estádio, a baiana descobriu que uma foto com sua filha, as duas negras, havia sido comparada com a de cinco jovens brancas no Facebook da Prefeitura de Salvador. O órgão havia denunciado a discriminação, cujo autor permanece no anonimato.
— Primeiro, eu fiquei meio sem entender. Depois, percebi que não era nada engraçado. O sentimento é o mesmo de todas as vezes, por mais que a gente já tenha passado por isso. Senti raiva, depois fiquei triste. Fiquei na dúvida se responderia ou não, mas vi que, além da minha consciência, eu tinha a responsabilidade de responder. Tive o cuidado de não dar ibope para o racismo, quis valorizar minha foto com minha filha — explicou Edna.
Em sua conta no Facebook, Edna ressaltou o orgulho de sua identidade e de fazer parte de uma torcida que carrega e respeita "a beleza das cores do manto e da pele" de seus apoiadores. "Somos NEGRAS, MULHERES e BELAS (nesta ordem de importância). Poderosas! Donas da porra toda, como se diz aqui na Bahia, inclusive do estádio, que naquela hora era só nosso", frisou a diretora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, no campus de Santo Antônio de Jesus.
Sua filha, Dandara Matos, viu a postagem primeiro, mas não revelou à parente nem reagiu nas redes sociais, como normalmente faria. Segundo Edna, a filha argumentou que a mãe saberia responder com mais sabedoria. As duas agora tentam encontrar a origem da postagem para avaliar a entrada de um processo judicial. Como é uma reprodução do WhatsApp, não há identificação do autor da montagem nem se sabe se ele é gremista.
— Isso é crime e precisa ser combatido. O sentimento que mais incomoda é o de impotência. É diferente de quando alguém te agride pessoalmente. Você tem condição de se defender neste caso. Na internet, não tem — lamentou.