Apesar de ainda não ter chegado nem à casa dos 30 anos, o atacante Robin Van Persie já possui alguns fios de cabelo brancos. Geralmente indesejáveis aos homens pela ligação à velhice, no caso do holandês, que tem 28, os fios são um sinal de força e de que o tempo lhe fez bem. Há oito anos com o Arsenal, nunca o jogador havia alcançado números tão expressivos como os da última temporada. Atualmente reina solitariamente no clube londrino, sendo capitão, camisa 10 e artilheiro. Na seleção holandesa, entretanto, divide a atenção com outras estrelas. Porém, há uma incômoda semelhança entre as duas equipes: a ausência de títulos. A chegada da Euro poderá mudar o panorama.
Encarando o jejum de frente
A seleção holandesa tem uma geração de encher os olhos: Van Persie, Robben, Sneijder, Huntelaar, Van der Vaart... O problema é que o bom futebol não é transformado em conquistas. Em 2010, a maior parte do elenco que jogará a Eurocopa esteve perto de vencer o primeiro título mundial da história do país. Mas a Espanha os superou na decisão, no que foi o terceiro vice-campeonato holandês na história das Copas.
Hora de chamar a responsabilidade
Na seleção, Van Persie sabe que não possui a liderança e o prestígio do Arsenal. É preciso dividir as responsabilidades e os holofotes com as outras estrelas. Contudo, nunca antes o atacante teve para si a expectativa que há para a Eurocopa. Na Inglaterra, foi eleito o melhor jogador da temporada pelos rivais, terminando o Campeonato Inglês como artilheiro, com 30 gols marcados.
Na Holanda, já há uma comparação que aumenta a importância do atacante para a equipe. De acordo com Tonny Bruins Slot, que trabalha na comissão técnica do Ajax, Van Persie terá a função que Johan Cruyff, o jogador mais importante da história do futebol holandês, teve na Copa do Mundo de 1974, em que os holandeses encantaram o mundo no que ficou conhecido como "futebol total".
- Johan sempre começou os jogos como o atacante do time, e depois passava para um jogo mais direto, criando espaços para pontas como Rob Rensenbrink e John Rep, e meias como Wim van Hanegem e Johan Neeskens. Isso indiretamente levou ao futebol total jogado na Copa de 1974. Van Persie pode ter um papel similar na Euro e parece que o técnico pretende utilizá-lo.
Com o Arsenal, Van Persie conquistou dois títulos como coadjuvante: a Supercopa da Inglaterra, em 2004, e a Supercopa da Inglaterra, em 2005. Desde então, o clube tem amargurado um longo período sem troféus, o que fez com que jogadores importantes como Fàbregas e Nasri abandonassem o barco com o discurso de que estavam buscando equipes mais competitivas.
- Todo jogador, todo time, quer ganhar títulos. Você luta por isso, mas se não acontecer é preciso aceitar. Ao fim da temporada, você tem que se perguntar: "Fizemos tudo o que podíamos?". Eu acho que sim. Depois você tem que se perguntar como você joga e acho que o Arsenal pode ficar orgulhoso da maneira como joga. Eu acho que o Arsenal do início do século XXI vai passar para a história como um time que trouxe classe e estilo de volta ao futebol. A Alemanha Ocidental ganhou a Copa de 1974, mas o que todos lembram é o futebol bonito da Holanda. Por isso não estou preocupado - garantiu em entrevista à revista "Four Four Two".
Curiosidades
Van Persie é fã de tênis de mesa e faz questão de desafiar qualquer pessoa que visite sua casa. Desde criança, sempre foi contestador, sendo expulso constantemente das salas de aula. No Feyenoord, clube em que iniciou a carreira, teve problemas com os jogadores mais experientes e com o técnico Bert van Marwijk, que atualmente, por ironia do destino, comanda a seleção holandesa.
- Eu fui o primeiro a jogar duro com ele. Ele nunca tinha ouvido críticas antes. Eu torço para que Van Persie um dia entenda que foi algo bom para ele. Eu fiz o possível para trazê-lo de volta à realidade - disse Van Marwijk.