Francisco Solimar Marques tem 49 anos de idade e há 10 anos sofre com problemas renais. Ele, que mora na cidade de Porto - há cerca de 200km ao Norte de Teresina - vem duas vezes por semana à capital para a realização de hemodiálise (processo artificial de filtragem do sangue). Igual a Francisco Solimar, mais 400 pessoas estão na lista de espera por um transplante de rim, no Piauí.
Segundo especialistas, com o passar do tempo, os pacientes que realizam hemodiálise vão ficando cada vez mais debilitados e as chances de sobreviver após três anos realizando esse procedimento são quase nulas.
Mas, entre aqueles que estão na fila, a esperança de que o transplante chegará antes do prazo estipulado pelos médicos para uma vida relativamente saudável e normal, nunca acaba.
?Minha vida mudou muito desde que comecei a fazer hemodiálise. Não trabalhei mais, tem dias que eu fico abatido e fraco, mas acredito que eu vou conseguir fazer o transplante?, disse Francisco Solimar.
Uma prova de que nem tudo está perdido para aqueles que fazem parte da longa lista de quem espera por um transplante de rim no Estado é a aposentada Francisca Maria do Nascimento, de 56 anos.
Ela conta que fez hemodiálise por um ano até que conseguiu fazer a cirurgia. ?Minha vida era muito complicada quando fazia hemodiálise. Hoje tudo é diferente. Já tem 11 anos que realizei o transplante, mas ainda preciso vir ao médico de três em três meses e ter alguns cuidados, mas a minha qualidade de vida melhorou muito?, disse. Francisca.
O nefrologista Avelar Alves da Silva explica que a hemodiálise é extremamente necessária àquelas pessoas que estão com os rins sem funcionar, pois é através dela que são realizadas as funções antes desempenhadas pelos rins.
?Quando esses órgãos não funcionam, o sangue não é filtrado. As pessoas retém líquidos, já que param de urinar.
Mas tudo isso é solucionado com a realização de hemodiálise, que filtra o sangue e elimina o excesso de líquidos do corpo?, afirmou.
É conhecido atualmente que cerca de um em cada 10 adultos é portador de doença renal crônica. A maioria destas pessoas não sabe que tem a doença porque ela não costuma ocasionar sintomas, a não ser em fases muito avançadas.
Em muitos casos, o diagnóstico precoce e o tratamento logo no início podem ajudar a prevenir a progressão da doença, inclusive com a necessidade de tratamento com hemodiálise ou transplante de rim.
Controle de hipertensão e diabetes amenizam problemas renais
O caminho certo a ser seguido para não se chegar ao ponto de precisar sobreviver com a hemodiálise é prevenir os problemas renais. Segundo o Avelar Alves da Silva, dentre as várias medidas de prevenção estão o tratamento a doenças como hipertensão e diabetes.
?Existem casos em que algumas doenças são genéticas, mas existem outros que podem ser prevenidos por meio de alguns cuidados, como a realização de exames periódicos, visita a médicos especialistas no assunto, avaliação do rim e principalmente o tratamento a doenças como diabetes e hipertensão, que são duas das principais causas do agravamento de problemas renais.
Elas levam os pacientes a perderem o rim e ficarem dependentes da hemodiálise?, explicou.
Outra lembrança importante é que a doença renal em suas fases iniciais tem um tratamento simples e eficaz, principalmente a base de dieta, medicações para tratamento de pressão alta e diabetes - quando estas doenças estiverem presentes - e remédios para reduzir a eliminação de proteínas pelos rins.
21 transplantes foram feitos em 2012
A fila de espera por um transplante possui cerca de 400 pessoas, mas até agora, apenas 21 procedimentos desse tipo foram realizados no Piauí, nesse primeiro semestre de 2012.
A expectativa, no entanto, é que esse quadro passe por uma melhoria a partir de agora, com a chegada de novas tecnologias para identificação da morte encefálica de forma mais rápida.
Das 21 doações, 14 foram de doadores vivos e sete de cadáveres. ?Nós não havíamos realizado nenhum transplante de rim de doadores cadáveres no primeiro semestre desse ano, até o mês de junho, quando o Hospital de Urgência de Teresina adquiriu um aparelho que auxilia no diagnóstico da morte encefálica em tempo hábil.
Com isso, é possível se conseguir adquirir um órgão em condições de doação, pois com a demora que tínhamos antes era fácil perder estes órgãos?, disse a assistente social da Central de Transplantes do Hospital Getúlio Vargas, Rosa Carmelita Alencar.
Hoje, três hospitais de Teresina estão credenciados a realizar o transplante de rins. Segundo Rosa, o que falta agora é conscientização das famílias da importância da doação. ?As pessoas precisam saber que ao autorizarem a doação de seus familiares que tiveram morte encefálica elas estarão ajudando a salvar uma vida e acabar com a angústia do paciente que está na fila de espera e de toda a sua família?, disse.