O Ministério Público do Piauí, por meio da 54ª Promotoria de Justiça de Teresina, expediu na última sexta-feira, 11 de junho, parecer favorável ao pedido de interdição da academia “Fundo de Quintal”, local onde foi realizada a luta clandestina que resultou na morte de Jonas de Andrade Carvalho Filho, em abril deste ano. O pedido foi feito pela Polícia Civil. O parecer foi elaborado e assinado pela promotora de Justiça Gianny Vieira de Carvalho.
No documento, a representante do Ministério Público explica que no inquérito policial ficou constatado que o evento não possuía nenhuma autorização para sua realização. Os organizadores, segundo informações prestadas à Polícia Civil, ainda tentaram obter algum tipo de apoio da Federação Piauiense de Boxe Amador e Profissional. Porém, a entidade informou sobre a impossibilidade de apoiar a iniciativa em função da pandemia da Covid-19 e dos decretos estaduais, que restringiam a realização de eventos com aglomeração de pessoas em todo o estado.
Apesar da negativa da entidade e das orientações das autoridades sanitárias para conter a disseminação do novo coronavírus, os organizadores promoveram a luta.
“Entende este Órgão Ministerial, portanto, que a Autoridade Policial logrou êxito em expor os motivos ensejadores do pedido em comento, visto, resta claro, o total desrespeito dos organizadores do evento esportivo perante o Decreto Estadual, como também para com a vida humana”, explica a promotora de Justiça Gianny Carvalho.
Assim, o Ministério Público Estadual, por meio da 54ª PJ, opinou pelo deferimento do pedido de interdição da academia “Fundo de Quintal”, em caráter de urgência, a fim evitar-se prejuízos e danos a terceiros, com fundamento no artigo 268 do Código Penal e no Decreto Estadual n° 19.582/2021.
Entenda o caso
Um homem identificado como Jonas de Andrade Carvalho Filho, de 34 anos, morreu durante uma luta de boxe na noite de sábado (24 de abril de 2021) na Academia Fundo de Quintal, no bairro Itaperu, zona Norte de Teresina. O lutador sofreu vários golpes na região da cabeça e veio a óbito após sofrer uma parada cardíaca no hospital do Buenos Aires.
A organização do evento conversou com exclusividade com o meionorte.com e explicou que o evento não era clandestino. Além disso, no momento estavam presentes árbitros e paramédicos para caso ocorresse algum incidente, como aconteceu. No entanto, pelo Decreto nº 19.582, de 18 de abril de 2021, vigente desde a última segunda-feira (19 de abril de 2021) até este domingo (25 de abril de 2021), é proibido qualquer tipo de evento, desde espaços públicos ou privados, que promovam aglomerações.
A reportagem obteve acesso às imagens do momento em que o lutador é atendido ainda no ringue e é levado às pressas ao hospital. Pelos vídeos é possível perceber uma aglomeração no local, em detrimento aos protocolos sanitários previstos contra a Covid-19.
A organização explicou que choveu durante a luta e muitas pessoas precisaram se abrigar em um local mais fechado perto do ringue.
A Federação Piauiense de Boxe Amador e Profissional (FEPIBAP) se manifestou informando que não apoiou o evento e que repudia qualquer organização que faça uso do nome da federação de maneira clandestina.
Segundo o professor Marcos Oliveira, presidente da FEPIBAP, a federação não tem nenhum vínculo com o evento pois jamais compactuaria com o descumprimento de leis municipais e estaduais quanto a proibição de aglomerações em eventos esportivos.
"É lamentável o que aconteceu, onde um atleta veio a óbito após uma luta clandestina. Quero deixar claro que a federação não tem nada relacionado com o evento. Quando a federação organiza ou apoia um evento, tem que ser tudo dentro das regras das maiores entidades do boxe mundial, uma delas é o Conselho Nacional de Boxe (CNB), da qual somos filiados aqui no Piauí", diz Marcos.