Hoje acontece a final do Mundial de futebol e, a essa altura do campeonato, muita gente deve saber quem é o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus). Talvez ele não seja tão conhecido por esse nome, mas quando se fala em Fuleco, muita gente lembra dele. Isso porque o tatu-bola foi escolhido como mascote da Copa do Mundo de Futebol 2014.
Batizado com o nome de Fuleco, mistura das palavras futebol e ecologia, a ideia de ter o animal como símbolo da Copa no Brasil foi uma iniciativa da Associação Caatinga, instituição sem fins lucrativos que tem objetivo de promover a conservação da caatinga para garantir a permanência de todas suas formas de vida.
A partir disso, um Plano de Ação (PAN) para Conservação do Tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), que é o tipo de tatu mais ameaçado do Brasil, foi organizado pelo Instituto Chico Mendes (ICmBIO). Pesquisadores de universidades, institutos de pesquisa, polícia ambiental, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e representantes do terceiro setor se reuniram na cidade de Crateús, no Ceará, para desenvolver uma matriz de planejamento de ações e metas a serem cumpridas até 2019.
A Universidade Federal do Piauí, em especial o Campus de Bom Jesus, está locado em uma área de potencial ocorrência do tatu-bola, por isso, a professora do curso de Medicina Veterinária, Lilian Catenacci, participou do encontro. Segundo ela, a escolha do tatu-bola para mascote da Copa não foi por acaso. Outras espécies concorreram, mas o alerta para a caatinga fez com que a Associação Caatinga - Ong com ações na caatinga do Ceará e do Piauí, lutasse para que o tatu fosse o escolhido.
?A espécie está ameaçada de extinção, segundo a lista de espécies ameaçadas do IBAMA, e se não fizermos nada, dentro em breve não haverá mais tempo. Ela estará extinta?, alerta a professora. O Plano de Ação para Conservação do Tatu-bola (PAN) é composto por um objetivo geral, seis objetivos específicos e 38 ações. A coordenação caberá ao Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade do Cerrado e Caatinga (CECAT); a coordenação executiva à Associação Caatinga, e a supervisão à Coordenação Geral de Manejo para Conservação (CGESP).
?A parte fantástica do PAN é a oportunidade de juntar pesquisadores, educadores, ambientalistas e o terceiro setor de forma conjunta. Todos trabalham por um só ideal, colocando suas dificuldades e como podemos superá-las juntas.
Temos cinco anos para mudar a realidade desta espécie e 24 meses para apresentar nossos primeiros resultados?, afirma Lilian.
Ação humana ainda é a maior ameaça para espécie no Piauí
O tatu-bola é uma espécie-bandeira para caatinga. Lilian Catenacci explica que eles são da mesma maneira que existem outros animais emblemáticos que são utilizados para proteger e fazer as pessoas pensarem sobre um local ou ambiente específico, como por exemplo, o mico-leão-dourado para a mata atlântica e as tartarugas marinhas e os golfinhos para o mar.
Mas há uma diferença importante quando se refere ao tatu-bola. ?O que está fazendo com que esta espécie acabe é praticamente 100% a ação humana. Isso porque as principais ameaças para esta espécie são: desmatamento, caça ilegal (que não tem nada de subsistência) e pouco conhecimento científico da espécie?, lamenta.
Além destes, existe ainda o fator da caça negativa, que é a transmissão de doenças sérias para o ser humano. A professora coloca que mais do que conservar a espécie, parar de caçá-lo significa menor risco do ser humano ficar doente.
?São inúmeros os casos de pessoas que morreram após contato com os tatus. É fundamental mantê-los na natureza, pois lá existe um equilíbrio e interferir caçando só trará prejuízos ao homem?, destaca Lilian ao frisar que isso não é conversa de ambientalista chata. ?Vejam os casos de febre amarela, de leishmaniose... eles aumentam muito os casos em humanos logo após desmatamento para monocultivos ou produção de carvão?, diz.
UFPI de Bom Jesus desenvolve ações para conservação da espécie
A UFPI, assim como qualquer fazendeiro, assentado, acampado ou agricultor familiar tem uma importância-chave na conservação desta espécie. Ela ocorre praticamente na caatinga e em poucos locais do cerrado. No Piauí, só há registro confirmado em dois Parques Nacionais: Serra da Capivara e Serra das Confusões. Mas a professora Lilian Catenacci afirma que esta espécie tem potencial para viver fora dos parques, no entanto, é necessário ajuda de todos para que o mínimo de mata continue onde está e que a caça diminua.
Os campi de Bom Jesus, Floriano e Picos, que abrigam áreas potenciais para o tatu podem, além disso, auxiliar nas pesquisas para ampliação do registro e distribuição desta espécie, além de ações de sensibilização de pessoas perante a conservação da caatinga e consequente conservação do tatu-bola.
?Na UFPI de Bom Jesus tem um grupo de estudo bem atuante chamado Grupo de Estudo em Biodiversidade (GBIO).
Nossas ações são em campo e exclusivas na caatinga, como por exemplo, realização de levantamento de fauna, além de um extenso trabalho de educação ambiental nas escolas do município?, declara Lilian ao falar da participação do campus na conservação da espécie.
No PAN estão inseridos alunos deste grupo com função tanto para pesquisa (investigação da ocorrência da espécie na região do Sul do Piauí), como para atividades educativas em parceria com o Centro de Pesquisa e Conservação do Tatu-bola, localizado na sede da Associação Caatinga, em Crateús-CE. Ainda neste ano será aplicado um questionário em todas as escolas de Bom Jesus para averiguar a possibilidade de encontrarmos o tatu-bola no município de Bom Jesus.
Fora o GBIO, um outro importante grupo - Grupo de Estudos de Animais Selvagens do Brasil - também iniciará uma pesquisa revisando todos os museus didáticos e científicos possíveis para enviar informações sobre a possível ocorrência do tatu-bola em local ainda não conhecido. Esta pesquisa será integrada com um grupo de especialistas que atuam em parceria com o (Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (Sisbio) e demais instituições públicas.(A.D.)