O Aeroporto Senador Petrônio Portella e o Terminal Rodoviário Governador Lucídio Portella mostram muito mais que a influência de certos sobrenomes em Teresina. Hoje, estes espaços públicos de mobilidade externa são, na verdade, o recorte de dois antigos abismos sociais que hoje caminham em direções opostas, mas tentando guinar rumo ao progresso a partir de reformas.
Se antes a rodoviária e o aeroporto de Teresina eram opostos sociais, econômicos e estruturais, onde a rodoviária amargava o esquecimento com estrutura parca e deficitária, hoje é o aeroporto que vive situação semelhante: pequeno demais para a demanda de passageiros, poucas esteiras de bagagens e um serviço ainda um tanto fragilizado marcam o serviço do local de pouso e decolagem.
“Não acho admissível que após tantos anos só tenhamos dois portões de embarque funcionando, porque tem uns ali que é só de enfeite”, atesta a universitária Larissa Marques.
Enquanto isso, o Terminal Rodoviário Governador Lucídio Portella experimenta ares de dignidade. Após uma parceria público-privada (PPP) entre Governo do Estado do Piauí e uma empreiteira baiana, serão investidos R$ 94,2 milhões no equipamento público. Parte do orçamento já foi aplicado, e o que antes eram escadas rolantes paradas com bancos e banheiros quebrados, além de muita sujeira, hoje é um espaço, de certa forma, mais civilizado.
Os banheiros foram reformados, a escada rolante para levar bagagens ao outro pavimento foi consertada e a rodoviária agora é limpa com mais frequência. Essas cenas são exemplos de “luxos” que os frequentadores da rodoviária não tinham há 10 anos ou antes das primeiras intervenções da PPP, em 2017.
Por outro lado, o impasse da vez é o Aeroporto Senador Petrônio Portella. Funcionando de forma parcial, por conta de uma reforma questionável que rendeu goteiras no check-in, e a queda do alambrado da fachada após uma chuva, os gestores piauienses ainda deixaram a estrutura de fora do último leilão ocorrido em São Paulo, na última sexta-feira (15).
O leilão buscava a privatização de 12 aeroportos brasileiros, com um valor estipulado em R$ 2,1 bilhões, chegando, após as negociações, a R$ 2,377 bilhões. O Aeroporto Senador Petrônio Portella, que pertencia ao bloco da região Nordeste, não foi contemplado.
Após o fim do processo na última sexta-feira, 15 de março, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, sinalizou que a União apresentará nesta segunda-feira, 18 de março, o edital de chamamento para a sexta rodada de concessão de aeroportos, dentre os quais se inclui o Aeroporto Senador Petrônio Portella, em Teresina. A previsão é que o leilão ocorra em agosto de 2020. O aeroporto de Teresina está no terceiro lote, denominado Eixo Central, junto com os terminais de passageiros de Goiânia, de São Luís e Imperatriz, no Maranhão; de Palmas, no Tocantins; e de Petrolina, em Pernambuco.
Um abismo de extremos
“Acho o aeroporto de Teresina uma vergonha. Todo mundo comenta. Nunca fui em um aeroporto pior que o nosso. A rodoviária está melhor”, conta Cláudia Marques, representante comercial que usa constantemente ambos os serviços.
A representante viaja constantemente a Fortaleza e conta que, muitas vezes, prefere ir de ônibus. “Se não tiver uma passagem de promoção, é melhor ir de ônibus. Demora mais, mas até os ônibus são mais confortáveis que os aviões velhos que colocam à nossa disposição nessas linhas frequentes”, acrescenta.
Já Manoel Neto, que precisa visitar a família em Cariri, conta que acompanhou o desenvolvimento da rodoviária. “Eu comecei a morar aqui para fazer faculdade, até que passei em um concurso. Quando eu vinha aqui, há uns sete anos, tinha que levar a mala no muque. Agora está melhor, sim, mas muito precisa melhorar”, atesta.