O que você faria com um punhado de caixas de remédio vazias, restos de embalagens de produtos diversos e outros materiais fora de uso? Certamente jogaria fora, não é mesmo? O arquiteto Marcello Dante de Almeida Nunes teve uma ideia diferente. Amante da aviação e colecionador de maquetes de aeronaves (o escritório tem as paredes completamente tomadas por miniaturas de aviões e helicópteros dos mais diversos tipos e épocas), ele percebeu que poderia expor suas aeronaves de uma forma bem diferente das tradicionais prateleiras.
Foi aí que surgiu a ideia de construir, utilizando materiais simples, a maquete de um aeroporto internacional, de forma altamente detalhada. Um dos primeiros passos foi definir a adoção da escala de 1/200 (na qual um centímetro na maquete equivale a 200 na estrutura real). Marcello fez esta escolha pelo fato de que a maioria dos aviões comerciais de sua coleção está nesta mesma escala, o que facilitaria o objetivo final do trabalho: observar o panorama de um grande aeroporto.
A maquete ocupa, hoje, uma área de 2,13 metros de comprimento por 1,60 metros de largura, o que corresponde, na escala, a 430,00 m x 310,00 m (aproximadamente 13,5 hectares). Isso significa que o arquiteto teve que apoiá-la sobre duas mesas de tamanho pequeno e mais um balcão divisor de ambientes, para que fosse criada uma plataforma ampla o suficiente a 80 centímetros do piso da sala. Isso foi possível adotando como base para toda a infra-estrutura um papelão grosso de 4 mm de espessura.
O espaço do escritório do arquiteto, no centro de Teresina, não permitiu que fossem reproduzidas as pistas de pouso e de taxiamento do aeroporto, mas todo o restante está representado. Dante pensou em vários detalhes, que vão desde os amplos pátios até as pistas de acesso aos terminais doméstico e internacional. Até mesmo um restaurante panorâmico foi contemplado na maquete do sítio aeroportuário. O restaurante, aliás, foi pensado para girar, dando uma volta completa em torno de seu próprio eixo no período de uma hora, fornecendo visão ampla para todo o complexo aeroportuário.
O aeroporto ostenta miniaturas de algumas das aeronaves mais modernas e amplamente utilizadas por grandes companhias aéreas no mundo inteiro, como os Boeings 737-800, 777-300, 787 Dreamliner e 757-200, além dos Airbus A330 e o enorme A380, que vai demandar modificações na estrutura. Por ser a maior aeronave de passageiros do mundo e contar com dois pisos em sua fuselagem, o A380 exige um sistema especial de fingers (pontes de embarque), que em breve será também reproduzido na maquete de Marcello.
A qualquer momento em que o arquiteto quer observar em detalhes como ficariam dois aviões de tamanhos distintos no aeroporto fictício da maquete, basta apanhar os modelos na prateleira, posicioná-los e voilá, os aviões estarão lado a lado, como que prontos para receber seus passageiros e partir para suas jornadas.
Compromisso com a história
O aeroporto oferece ainda uma praça com aeronaves históricas, batizada com o nome do pai de Marcello, o professor Vespasiano J. Rubim Nunes. Neste espaço é possível admirar aeronaves antigas como o P-51 Mustang (caça da Segunda Guerra Mundial), o Douglas DC-3 (considerado o maior clássico da história da aviação), o Antonov AN-2 e o Boeing 737-200, entre outros.
Por falar em história, o próprio nome do aeroporto também tem papel educativo. O complexo foi batizado de Heinz-Wolfgang Schnaufer International Airport, em homenagem ao piloto da Luftwaffe (força aérea alemã) na Segunda Guerra Mundial, conhecido por ser o ás com o maior número de vitórias noturnas na história dos combates aéreos, com 121 aeronaves inimigas abatidas.
A tarefa de explicar todas as etapas de construção da maquete pode parecer cansativa mas, para Dante, trata-se de um deleite. Como todo amante do modelismo, ele é atento aos detalhes, e faz questão de demonstrar toda a minúcia que um trabalho como este exige. Para o arquiteto, o maquete vem cumprindo seu papel.
“A mensagem que queremos passar para todos é de entusiasmo e grande alegria para com o setor da aviação no mundo. Construir uma maquete de aeroporto de forma caseira é um prazer somente igualado com a recepção dos amigos e todos os interessados na área. A tarefa é árdua mas muito gratificante. Um exercício de criatividade”.
Dois meses de trabalho e de muita criatividade
A parte mais interessante de todo o trabalho é o uso de materiais normalmente descartáveis. O teto dos terminais de passageiros foi feito a partir de estruturas plásticas de proteção de lâmpadas fluorescentes. O edifício comercial do aeroporto foi concebido a partir de um antigo depósito de fitas VHS. A seção contra incêndio foi feita com uma caixinha de papelão.
“Utilizamos um pouco de tudo aquilo que se joga no lixo: artefatos descartáveis de plástico como tampinhas diversas, prendedores de sacolas, varetas de churrasco, caixas plásticas de embalagens das próprias miniaturas de aeronaves, papelões de diversas espessuras, papéis camurça em cores diversas, papel cartão preto, caixas de remédios, peças velhas de carros resgatadas em oficinas mecânicas, partes de mesas e luminárias, borrachas moldadas com estilete, árvores e vegetais plásticos usados em aquários, adaptados à escala do projeto, etc, etc. Algumas coisas tivemos que comprar pela internet, apropriadas para maquetes tais como figuras humanas e veículos (carros e ônibus)”, explicou Marcello Dante.
Todas as marcações foram feitas em tinta nankim (malhas de pisos, portas, janela ) e todos os objetos e edificações foram pintados com tinta acrílica a pincel, hidrocor ou spray.
O resultado é impressionante. O aeroporto parece ter vida própria. No terminal de carga, os pallets estão devidamente posicionados perto das aeronaves cargueiras, que dão a fiel impressão de estarem prontas para mais uma missão. Há veículos nas vias de acesso ao terminal. Foram necessários mais de dois meses de trabalho árduo para que o aeroporto pudesse chegar ao estágio atual.
“Além de comparar os tamanhos das diferentes aeronaves, a maquete traz ainda a possibilidade de se discutir acaloradamente os principais assuntos relacionados com a complexidade dessa mega-estrutura que representa um Aeroporto Internacional, com todos os seus serviços prestados à coletividade e implicações de ordem social e ambiental”, diz Marcello Dante.