Muito verde, água em abundância e paisagens espetaculares. Um pequeno pedaço de paraíso localizado no coração da caatinga, na Zona Rural de São João do Piauí, cidade a quase 500 quilômetros de Teresina.
Do acesso pela PI-141, são aproximadamente dois quilômetros de estrada carroçal até o assentamento Marrecas, onde moram famílias que sobrevivem da agricultura em perímetros irrigados.
A região produz uva, banana, acerola, coco, além de legumes e hortaliças, que são comercializados para o restante do Piauí e estados vizinhos.
E apesar dos bons resultados com a produção de alimentos orgânicos, os assentados buscam alternativas para incrementar a renda e melhorar a qualidade de vida das famílias. A aposta é o turismo rural.
“Nós estamos em uma época de pandemia, que veio para matar ou quebrar o cidadão. Mas melhor estar quebrado do que estar morto. Estamos nos virando. Estamos no campo, e nesta crise, o que sustenta a cidade é o campo. Nós fizemos o projeto com o PA, com a CONAB, mas é insuficiente para a demanda dos produtores”, conta a agricultora Maria de Lourdes, uma das pioneiras no assentamento.
Ela conta que já iniciou os investimentos para tornar o agroturismo realidade no Marrecas.
“Aqui nós já temos uma piscina, se você quiser conhecer o parreiral, aqui você será bem acolhido. Temos um grande potencial em São João. Aqui tem paisagens lindas, a gente tem uma passagem molhada, várias lagoas dentro do assentamento”, diz.
Além da melhoria e sinalização das estradas de acesso ao Marrecas, os assentados querem incentivos. Um dos problemas, ela diz, é relacionado à energia.
Eles querem isenção nas taxas de energia e apoio para a construção de miniusinas fotovoltaicas, que ajudariam a reduzir os custos de produção.
Os produtores querem também autonomia para comercialização dos produtos. “O que mata a gente são os atravessadores. Queremos ter nossa autonomia e nós precisamos de ajuda na forma de comercializar esses produtos”
Também para o agroturismo, dona Maria de Lourdes aposta na história do assentamento, que está diretamente ligada ao Movimento Sem Terra no estado do Piauí.
“Nós temos uma história muito bonita e muitos estudantes querem conhecer a história do MST no Piauí. E o berço do MST no Piauí é marrecas. A gente está sempre tendo aqui visita de alunos universitários. A gente quer apresentar nossa história, mas também queremos que eles deixem aqui um meio de continuarmos essa história e melhorar a renda familiar”, relata.
Amante da vida no campo, dona Maria de Lourdes sabe, que hoje faz inveja para quem precisa encarar a rotina maçante da vida na cidade. E reconhece o privilégio que é viver cercada da natureza.
“Antigamente as pessoas tinham a maior vergonha de dizer: eu sou da roça. Hoje, quem está morando no campo tem uma diferença grande. Quem está morando na cidade tem o maior sonho de ter uma casinha dessa, de ter uma piscina dessa, e nós temos esse privilégio”, pontua.