A Banda do Vale do Gavião é feita por uma juventude inspiradora. São 20 jovens que usam a música como trampolim para um futuro próspero. Ao som de trompetes, clarinetes e outros metais, a meninada encanta quem passa pela sede da Associação dos Moradores local, que apoia a iniciativa.
Em uma região marcada pela violência, criminalidade e injustiças sociais, o grupo se reúne em um espaço modesto, resistindo ao calor e às adversidades da vida. Sob liderança dos professores Melque Gabriel e Jocerley Silva, esses meninos e meninas têm tudo para ir longe.
A Banda começou em 2018. Tanto Melque como Jocerley moravam no bairro Vale do Gavião, zona Leste de Teresina, e decidiram tocar o projeto através do apoio da comunidade. As aulas acontecem aos sábados, normalmente de 8h às 10h e de 14h às 16h, mas com o calor do B-R-Ó Bró, no momento, eles ensaiam apenas no turno da manhã.
O projeto começou com 30 alunos e 30 instrumentos, mas devido à pandemia alguns se afastaram, muitos instrumentos quebram e hoje 20 continuam com o sonho de se tornarem músicos. A exemplo da jovem Rebeca Prado, de 13 anos. Ela toca clarinete e sonha em se apresentar em grandes palcos. “Eu tenho muita vontade de tocar no Centro de Convenções. Sou apaixonada por música e seria um sonho para mim. Eu amo música, que é tudo para mim”, conta.
Projeto apoia carreira artística dos alunos
Ao som de músicas como Viva La Vida, do Coldplay, ou Yesterday, dos Beatles, eles dão show. Os jovens querem futuros tão brilhantes como o metal dos instrumentos que tocam. Maria Eduarda, de 16 anos, toca trompete. “Quero me profissionalizar e quero muito seguir a carreira musical. As músicas que mais gosto de tocar são as do Roberto Carlos”, aponta a jovem.
Já Melquesedeque Lopes está no projeto desde o início. “Eu gosto muito de tocar músicas com meus colegas e quero ser ator. Meu sonho é ir para os palcos, e a música também vai me ajudar nisso”, revela.
A ideia é levar os jovens onde o talento possa levá-los. “Nossa ideia é competitividade. Queremos inscrever eles em editais. Nosso papo aqui é esse. É melhorar ao máximo cada um, aproveitando o talento deles. Posso dizer que todos aqui têm capacidade para seguir profissionalmente na música”, revela o professor Melque Gabriel.
Repertório homenageia professora vítima da Covid-19
“Conheço seus olhos no sol da manhã. Sinto você me tocar na chuva que cai. E no momento que você vagueia pra longe de mim, eu quero sentir você em meus braços novamente. Quão profundo é seu amor?”. A bela canção entoada, ao início, por acordes de dó maior e notas de sétima, enchem o bairro como a potência sonora dos sentimentos dos alunos e professores da Banda do Vale do Gavião.
Em um dado momento, ao som de How Deep Is Your Love, do Bee Gees, uma homenagem. “Essa música era a favorita da professora Noélia Maranhão. Então, sempre que tocamos, lembramos dela. Era uma pessoa que incentivava muito o projeto e que sempre pedia para tocar. Ela faleceu de Covid-19, além do marido e uma filha. Então sempre homenageamos ela”, afirma Melque.
A escola contou também com o apoio de pessoas da sociedade civil, que ajudaram com os instrumentos. A maioria foi cedida pela Prefeitura de Teresina. “São jovens que precisam de atenção. Nós temos o maior cuidado porque sabemos que aqui é uma região onde eles podem encontrar caminhos errados”, avalia Antônio Marcos, líder comunitário que acompanha o projeto.
Entre saudade, dificuldades, devaneios oníricos provocados pelo torpor da música, a juventude passeia entre partituras alçando voos cada vez mais altos.