A cidade de Amapá, situada a 312 quilômetros da capital Macapá, no Norte do Brasil, ganhou destaque nacional esta semana devido a imagens alarmantes de uma infestação de besouros que começaram a circular nas redes sociais.
Moradores compartilharam fotos e vídeos das ruas e calçadas tomadas por esses insetos. A prefeitura informou à Globo Rural que, embora a quantidade de besouros tenha diminuído consideravelmente, ainda são registrados avistamentos.
Alexandre Jordão, engenheiro-agrônomo e coordenador de Entomologia de Ecossistemas do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), explicou que a proliferação dos besouros na cidade ocorreu principalmente devido à iluminação.
“A cidade ficou tomada pelos besouros, principalmente debaixo de postes. Eles foram invadindo locais com luz. Uma senhora me falou que precisou apagar tudo em casa para o bicho não voar ali”, relatou.
Outro fator de atenção é a pecuária. A substituição de florestas por pastagens para atender à criação de gado de leite, gado de corte e búfalos gerou um desequilíbrio ambiental, segundo o especialista. Esses insetos se desenvolvem em material fecal e em ambientes de decomposição, semelhantes ao solo encontrado em fazendas locais.
Apesar da redução na quantidade de besouros em Amapá, a preocupação agora é evitar que a infestação se repita. Alexandre Jordão destaca a necessidade de estudos para identificar as quatro fases de metamorfose do besouro: ovo, larval, pupal e adulta.
O especialista sugere três formas de aproveitar os besouros após a infestação: utilizá-los para compostagem e adubação, transformá-los em farinha para alimentação de peixes e bovinos, ou até mesmo considerar o consumo humano. Esta última opção, baseada em estudos da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), busca explorar os insetos ricos em proteínas como uma alternativa alimentar para combater a fome e a pobreza global.
Apesar de inicialmente estranha, essa ideia tem respaldo em países que possuem laboratórios de pesquisa e produção de insetos para alimentação humana. Segundo a FAO, mais de 2 mil espécies de insetos eram consumidas por humanos em 140 países diferentes ao redor do mundo em 2022.
Quanto a preocupações com a saúde, o especialista assegura que os besouros, com mandíbulas quitinosas em seus aparelhos bucais, não têm a capacidade de transmitir doenças aos humanos, exceto em casos raros de alergia em pessoas sensíveis.