Após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump reconhecer nesta quarta-feira (6) Jerusalém como a capital de Israel, Palestinos realizaram protestos nesta quinta-feira (7) pelas ruas da Cisjordânia e da faixa de Gaza contra a decisão.
Em diversos pontos da Cisjordânias houve confronto com as forças de segurança de Israel segundo alguns relatos. Autoridades falam em dezenas de feridos. Segundo o Crescente Vermelho, pelo menos 51 pessoas ficaram feridas nos vários protestos.
Em um ponto de checagem próximo a Ramallah, forças israelenses lançaram gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral contra centenas de manifestantes. Eles, por sua vez, colocaram fogo em pneus e lançaram pedras contra os soldados. Há relatos de feridos dos dois lados.
Nas cidades de Hebron e Al-Bireh, na Cisjordânia, milhares de manifestantes protestaram aos brados de "Jerusalém é a capital do Estado da Palestina", disseram testemunhas. Alguns palestinos atiraram pedras nos soldados.
Na faixa de Gaza, segundo o Exército israelense, várias bombas foram lançadas contra um posto militar. Em represália, "tanques do Exército e aviões da Força Aérea de Israel atacaram quatro postos militares do Hamas no norte da faixa de Gaza", disse o escritório de imprensa das Forças Armadas israelenses em comunicado.
O Exército responsabiliza o Hamas por "qualquer atividade hostil perpetrada contra Israel desde a faixa de Gaza". Por enquanto, nenhum grupo armado palestino da faixa reivindicou a autoria do ataque.
Ainda na faixa de Gaza, dezenas de manifestantes se reuniram perto da cerca da fronteira com Israel e atiraram pedras contra soldados do lado oposto. Dois deles foram feridos por munição letal e um está em estado grave, segundo médicos.
Lojas e escolas não estão fechadas nesta quinta-feira na Cisjordânia. Os palestinos em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental, estão monitorando a greve geral convocada em rejeição à decisão de Trump.
As facções islâmicas e laicas palestinas em Gaza convocaram ontem a greve geral e manifestações ao meio-dia para protestar contra o anúncio do presidente Trump, onde reconhece Jerusalém como a capital de Israel, segundo informaram em comunicado conjunto.
O ministro da Educação da Palestina, Sabri Saidam, respondeu à convocação decretando hoje o fechamento das escolas, e pediu para que professores e estudantes participassem das manifestações previstas na Cisjordânia, faixa de Gaza e zonas palestinas de Jerusalém.
Intifada
O movimento islamita Hamas convocou nesta quinta-feira uma nova rebelião palestina, conhecida como "intifada", para protestar contra o reconhecimento por parte dos Estados Unidos de Jerusalém como capital de Israel.
"Não se pode enfrentar a política sionista dos Estados Unidos mais do que lançando uma nova intifada", disse o chefe de Hamas, Ismail Haniyeh, em um discurso feito em Gaza.
Analistas e observadores temem que a decisão de Trump abra um novo conflito pelo status dessa cidade, onde há lugares santos judeus, cristãos e muçulmanos.
A decisão colocará a região "em um círculo de fogo", disse o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que quer mobilizar o mundo muçulmano. Até a Arábia Saudita, aliada dos Estados Unidos, criticou o ato, qualificando-o de "irresponsável".
O reconhecimento de Jerusalém enfureceu os líderes da Autoridade Palestina, a entidade reconhecida internacionalmente como prefiguração de um futuro Estado palestino independente.
O jornal libanês pró-Hezbollah al-Akhbar declarou "morte à América" em sua primeira página nesta quinta-feira, na reação mais forte de uma cobertura midiática libanesa totalmente crítica à decisão de Trump.Sayyed.
O Akhbar chamou a decisão de Trump do "novo Balfour da América", em referência à declaração de Balfour, na qual o Reino Unido apoiou o estabelecimento de uma pátria judaica no Oriente Médio há um século.
"Hoje, na Palestina, há uma resistência capaz e empoderada que possui milhares de foguetes que podem atingir Tel Aviv", disse.
O Hezbollah, uma organização política e militar fortemente armada, tem lutado em diversos conflitos contra Israel desde sua formação em 1982.
Já o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu saudou o "dia histórico". "O presidente Trump entrou para sempre na história de nossa capital", disse na quinta-feira.
A decisão coloca em xeque o papel histórico de mediador dos Estados Unidos como mediador de paz, disse o presidente palestino Mahmud Abbas.
Em sua chegada à Casa Branca, Trump prometeu buscar um acordo diplomático, mas os esforços de sua administração não tiveram resultado até agora.
"Os Estados Unidos continuam determinados a ajudar a facilitar um acordo de paz aceitável para as duas partes", disse Trump.
"Como eu poderia me sentar à mesa com aqueles que me impõem o futuro de Jerusalém como capital de Israel?", disse o secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erakat.
Trump disse que reconhecer Jerusalém como capital não significa pronunciar-se sobre o "status final" da cidade em negociações com os palestinos.
Trump declarou iniciados os preparativos para a mudança da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, mas ao mesmo tempo assinou um adiamento por seis meses, como têm feito todos os presidentes dos EUA desde Bill Clinton em 1995. Ele não estipulou prazos e pode voltar a adiar o processo.
Na prática, nada muda. Trump ressalta que a definição das fronteiras sob soberania israelense deve ser objeto das negociações de paz israelo-palestinas e pede que a cidade fique aberta para "todas as fés"; segundo o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, o status dos locais sagrados será mantido.