Jovem tenta retomar a vida após receber 370 pontos pelo corpo

Depois de ter alta, o jovem ganhou abrigo na casa de uma juíza, no bairro de Quarenta Casas, onde trabalha como caseiro

Júlio Luiz Gonçalves Carreiro Júnior, morador de Teresópolis, que sobreviveu à enxurrada de lama | Rafael Spuldar
Siga-nos no Seguir MeioNews no Google News

Um morador de Teresópolis tenta retomar a vida normal após ser arrastado por 2 quilômetros em uma enxurrada de lama, levar 370 pontos em todo o corpo, perder a casa e sofrer a perda da namorada grávida e sua filha de 3 anos, desaparecidas nas enchentes que acabam de completar um ano.

Júlio Luiz Gonçalves Carreiro Júnior, 19 anos, era morador do bairro do Caleme, um dos mais atingidos pela enchente e pelos deslizamentos registrados em Teresópolis em 12 de janeiro do ano passado.

O jovem afirma ter acordado no meio da madrugada com o barulho da chuva. "Quando vi, a água do córrego tinha subido e tomado todo o primeiro piso da minha casa, e estava chegando até quase a minha janela, no segundo", disse à BBC Brasil.

Com medo de que sua casa desabasse, o morador decidiu pular em plena correnteza, deixando tudo para trás. Segundo seu relato, corroborado por outros moradores do Caleme, a enxurrada o carregou por cerca de 2 km, em meio a pedras, pedaços de pau, água e barro.

"O lugar onde eu parei era um lago de lama, que parecia areia movediça", afirma.

Júlio diz que teve todas as suas roupas arrancadas pela força da enxurrada, além de sofrer inúmeros cortes e contusões pelo corpo.

O jovem diz que andou por três horas para conseguir voltar ao local onde ficava sua casa, que, a essa altura, já havia desabado. Júlio afirma ter visto inúmeros corpos em seu caminho.

"Eu caminhei tudo aquilo de volta e não senti dor nenhuma. Foi a adrenalina, o meu sangue estava quente", afirma.

Júlio diz que foi colocado em uma maca improvisada e levado até um hospital, onde ficou internado por dois meses. "Eu vivia dopado, para aguentar a dor."

370 pontos

Ao mostrar suas inúmeras cicatrizes, o jovem diz que, segundo os médicos, levou 370 pontos em todo o corpo.

Uma de suas cicatrizes, enorme e esbranquiçada, resultado de um corte profundo, fica no pé esquerdo. "Dava para ver o osso, era tudo branco", diz.

"Quando cheguei (na vizinhança), lavei o pé com água e sabão. Depois, um médico disse que foi isso que me salvou de arrancar ele fora. Quem tinha ferimentos como o meu no hospital, acabou amputado", afirma Júlio.

No desastre, sua filha de 3 anos e sua namorada, grávida de três meses, desapareceram, além de vários amigos e vizinhos.

Depois de ter alta, o jovem ganhou abrigo na casa de uma juíza, no bairro de Quarenta Casas, onde trabalha como caseiro.

"Quero conseguir um bom emprego, comprar uma casa nova. Já trabalhei com tudo, posso aprender o que for", afirma Júlio.

Depois de tudo que passou, o jovem diz que consegue dormir tranquilamente à noite, embora admita ficar preocupado sempre que chove.

"Eu volto no Caleme tranquilo, meu avô ainda mora lá. Mas quando chove, eu fico "bolado". Não tem jeito, a coisa é assim. Hoje dou mais valor à vida."

Veja Também
Tópicos
SEÇÕES