A Arábia Saudita tem uma nova ambição: quer ser maior destino turístico do planeta, com a meta de 100 milhões de visitantes anuais até 2030, ultrapassando a França, atual primeira colocada, segundo reportagem da revista francesa L’Express desta semana. A coluna do jornalista Alan Morici, do portal Último Segundo, conta porque o turismo virou a maior aposta do país, com 1 trilhão de dólares de investimentos apenas para suprir a receita da era pós-petróleo nos últimos 10 anos.
Hoje as receitas do petróleo são de mais de 250 bilhões de dólares anuais, e a intenção é de igualar ou até de superar este faturamento. Nas palavras do Príncipe Herdeiro e governante de 37 anos, Mohammed Ben Salmane, o Oriente Médio será a nova Europa. "Em cinco anos a Arábia Saudita será completamente transformada”, disse em 2018.
A aposta radical não é nova na região. Dubai e Abhu Dabbi vem percorrendo este caminho. O Qatar, que foi anfitrião da Copa de 2022, investiu para isso 250 bilhões de dólares. Os números são impressionantes. Israel tem o turismo consolidado e mesmo o Egito dá grandes passos, com megaprojetos, a despeito da instabilidade da região.
Na Arábia Saudita as transformações são velozes. O país está se abrindo, e um visto de turista agora sai imediatamente. Há canteiros de obras por todas as partes: uma cidade futurista, Neom, na região oeste do país; um complexo de 50 hotéis de luxo nas ilhas desertas do Mar Vermelho; uma renovação completa de Diriyad, berço histórico da família Saud, fundadora do regime saudita; mais investimentos ainda em AIUla, um oásis no meio do deserto cercado de sítios arqueológicos, que abrigará um aeroporto internacional com voos diretos de Paris – e, numa nota mais pessoal, entendo melhor, agora, o pedido de apoiou que nos foi feito, na condição de Ministro, pelo Governo Saudita ao Governo Temer, do valioso apoio que demos e votos que puxamos em favor de AIUla junto ao patrimônio da Unesco em Paris.
Nas palavras dos líderes turísticos do país, não se trata de emular o turismo de parques temáticos como a Disney, mas de fazer algo original, diverso, forte cultural e ambientalmente Também na área de eventos, o Grande Prêmio de Fórmula 1, festivais de cinema, bienais de arte islâmica e até um festival de música eletrônica exemplificam o esforço que também ocorre no futebol, com a contratação do jogador Cristiano Ronaldo e da mega oferta por Messi a um custo anual de um time inteiro do Real Madrid.
A esta altura podemos nos perguntar sobre as complexas questões políticas que ficaram fora deste artigo, e poderão gerar choques relevantes. Ao final, porém, pesou mais a questão econômica do pós-petróleo, e, a condição do Reino ampliar seu 'soft power'. Na opinião do especialista Robert Mogielnicki, do Instituto de Estudos em Arabia Saudita e Países do Golfo em Washington, para a L’Express: "esta abertura lhes dá o poder de modernizar sua imagem e de contar seu desejo de olhar para o futuro, e não mais ficarem presos ao passado".
De fato, a força da economia do turismo vai ainda mais além disso, quando se pensa na estabilidade futura de qualquer regime político, por ser o turismo o maior e mais previsível gerador de empregos dos próximos anos em um mundo em transformações. Enquanto escrevo este artigo, em Istambul, diretamente no celular, emulando um nômade tecnológico, observo o intenso movimento de barcos e navios de todos os portes singrando o Estreito de Bósforo.
Faz um lindo dia ensolarado na antiga Constantinopla, na mais antiga Anatolia. Estamos a 30 km do Mar Negro e a pouco mais 600 km da Crimeia, e da Guerra na Ucrânia.
Em Istambul, a cidade grandiosa está cuidada, segura, organizada e tem um modelo turístico cultural e natural de primeiro mundo; em hotéis e resorts por todo o país. Os turcos, como os árabes, hoje, ainda mais, tinham planos ambiciosos e tiveram e terão resultados excepcionais. Como tiveram os norte-americanos, os chineses e os europeus.
Nada mais natural nos perguntarmos, diante destes fatos relevantes, qual seria ambição do enorme e rico Brasil nestas megatendências da nova economia mundial do turismo global? A resposta que ouvimos dos maiores líderes das instituições do turismo mundial tem sido sempre a mesma: o Brasil não tem esta ambição.