O arroz vermelho, desenvolvido pelos pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), vai ser lançado, nesta semana, no Piauí, durante a 68ª Exposição Agropecuária do Estado do Piauí (Expoapi), aberta na noite de domingo (02), no Parque de Exposição Agropecuária, na zona rural de Teresina.
A nova variedade, a primeira obtida a partir de cruzamento artificial no País, é indicada para cultivo nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Trata-se de uma opção para atender a nichos de mercado, podendo compor pratos típicos da Região Nordeste e receitas da alta gastronomia.
A produção de arroz vermelho no Brasil concentra-se nos estados da Paraíba, maior produtor e Rio Grande do Norte, mas ele é encontrado como cultura de subsistência no Ceará, Pernambuco, Minas Gerais e Espírito Santo, onde ainda é cultivado utilizando-se técnicas tradicionais. A produção desse arroz no País, em anos de safras normais (sem escassez de chuvas), é de cerca de dez mil toneladas, um terço do que era produzido há 50 anos.
“O arroz vermelho e arroz o preto são os arrozes mais antigos do mundo. O vermelho foi quem originou o arroz branco. O vermelho chegou ao Brasil no começo da colonização e o preto só recentemente, este introduzido pela Embrapa. Os dois podem ser cultivados em qualquer lugar do Brasil onde exista água disponível principalmente e clima, como o do Nordeste, por exemplo. São raros os agricultores que já cultivam o preto, mas o arroz vermelho é tradicionalmente plantado há dois séculos na Paraíba e Rio Grande do Norte. No passado, foi o principal arroz do Brasil e muito plantado no Maranhão onde não é mais encontrado. Na Paraíba e no Rio Grande do Norte, continua tendo a preferência dos consumidores, sobretudo, devido ao seu sabor diferenciado em relação ao arroz branco”,afirmou José Almeida Pereira, engenheiro agrônomo e pesquisadora da Embrapa Meio-Norte.
Segundo ele, o trabalho recente da pesquisa da Embrapa consistiu do resgate do cereal e da geração e disponibilização para os agricultores de uma variedade nova.
José Almeida Pereira disse que o arroz vermelho é mais saboroso e mais rico em ferro e zinco do que o arroz branco, sendo os tradicionais "arroz de leite", "arrubação" e "arroz de garimpeiro", os mais famosos na Paraíba, Rio Grande do Norte e Bahia.
O arroz vermelho tem também despertado o interesse de produtores do Sul e Sudeste, que utilizam alto padrão tecnológico em suas lavouras e também de uma parcela de consumidores dos centros urbanos que buscam novas opções gastronômicas.
As cultivares utilizadas nas lavouras de hoje foram selecionadas ao longo do tempo pelos próprios produtores e apresentam porte alto, folhas longas e são decumbentes (inclinadas). As plantas também mostram baixo potencial produtivo, alta suscetibilidade ao acamamento e baixo rendimento de grãos inteiros.
O desenvolvimento da nova cultivar visou à redução da altura da planta e ao aumento da produtividade de grãos e do porcentual de grãos inteiros após o beneficiamento. O trabalho de pesquisa começou com a caracterização e o estabelecimento de uma coleção de acessos com potencial para melhoramento genético. Esses cruzamentos artificiais, realizados no âmbito do programa de melhoramento genético de arroz da Embrapa, possibilitaram a geração de dezenas de linhagens de arroz vermelho com características agronômicas, industriais e culinárias de interesse para o programa. Foram oito anos de trabalho, desde a realização dos cruzamentos até a seleção e posterior registro da linhagem MNA 0901 no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que resultou na denominação da cultivar de BRS 901.
“Essa é a primeira cultivar de arroz vermelho melhorada disponibilizada para pequenos agricultores nordestinos que plantam ainda as mesmas cultivares introduzidas no período da colonização. É mais produtiva e possui maior resistência ao acamamento de plantas do que as cultivares tradicionais plantadas, além de maior rendimento de grãos inteiros por ocasião do beneficiamento”, explica o pesquisador da Embrapa Meio-Norte José Almeida Pereira que, com Orlando Peixoto de Morais, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão (GO), falecido em 2017, liderou a equipe responsável pelo processo de criação e desenvolvimento da nova cultivar.
Manejo é semelhante ao arroz branco
Segundo o pesquisador Carlos Santiago, da Embrapa Cocais (MA), não há diferenças entre o arroz vermelho e o arroz branco quanto ao manejo integrado. “O ciclo das variedades do tipo branco e do tipo vermelho são idênticos e a necessidade de água e de nutrientes também são iguais. A diferença entre elas é apenas a cor e formato do grão, no mais, o que se aplica a uma lavoura de arroz irrigado, se aplica a uma lavoura de vermelho”, esclarece.
Embora seja encontrado nas feiras em alguns estados do Nordeste, nas demais regiões, é possível encontrar o arroz vermelho em supermercados, na prateleira reservada aos arrozes especiais, com preço superior ao arroz branco, chegando ao dobro do valor.
Ultimamente, o grão tem se destacado na culinária gourmet, na elaboração de saladas, bolinhos e como acompanhamento de carnes brancas, como peixe e frango. Tem atraído também consumidores adeptos da alimentação mais natural, que buscam grãos integrais e produtos orgânicos.
O pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão (GO) José Manoel Colombari Filho, coordenador do Programa Nacional de Melhoramento Genético do Arroz, destaca a importância do arroz vermelho como alimento funcional. “A grande diferença entre o branco e o vermelho é que este último conta com a presença de compostos fenólicos, os mesmos que encontramos nas uvas e no vinho. Quando consumimos o grão integral, estes compostos trazem benefícios à nossa saúde, pois eles previnem doenças degenerativas e têm ação anti-inflamatória e hipoglicêmica. É, portanto, um alimento funcional, que se consumido costumeiramente, traz benefícios à nossa saúde”, destaca Colombari.
Pesquisas realizadas pela Embrapa apontam que o arroz vermelho apresenta três vezes mais ferro e duas vezes mais zinco do que o arroz branco. Por ser parcialmente polido, ele retém maior número desses nutrientes e é um importante alimento no combate à desnutrição.