Ativistas LGBT denunciam agressão após protesto contra homofobia em Botafogo

Ativistas LGBT denunciam agressão após protesto contra homofobia em Botafogo

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Promovido por ativistas do movimento LGBT carioca, o evento Beijo na Praça, que aconteceu na noite desta quarta-feira, em Botafogo, terminou em uma grande confusão. Já na madrugada desta quinta-feira, quando a maior parte da manifestação havia se dispersado, alguns participantes foram agredidos por funcionários do bar Durangos, na Rua Voluntários da Pátria, segundo relatos de organizadores do protesto e pelo menos uma testemunha. Frequentadores do estabelecimento também presentes na confusão, porém, contam que houve agressão dos dois lados.

A presidente do Grupo TransRevolução do Rio, Indianara Alves Siqueira, teria sido atingida por uma garrafa, e os manifestantes Lucas Pinheiro e Bruno Mattos teriam recebido pauladas, socos e chutes.

Fotos de Pinheiro com cortes nas mãos e hematomas no rosto foram publicadas no Facebook acompanhadas do depoimento da estudante de Letras Maria Clara Mangeth, que estava no local. Segundo a aluna da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um grupo que participou da manifestação parou em frente ao bar para um último ato antes de voltar para casa, por volta das 3h de quinta-feira. Mas um dos funcionários do estabelecimento teria se irritado com as palavras de ordem que Indianara proferia no megafone e dito à ativista que ela deveria se retirar.

Sem acatar a ordem, a ativista respondeu: “Vocês já silenciam nossas vozes todos os dias, mas, hoje não vão silenciar”, e puxou novos gritos de ordem. Foi então que o proprietário do bar e funcionários teriam atacado os manifestantes com cadeiras, paus e garrafas, de acordo com relatos.

— Tudo aconteceu muito rápido. De repente, um grupo de pessoas partiu para cima dos manifestantes. Cadeiras voaram, pessoas gritaram... De repente surgiram tocos enormes de madeira, um facão, garrafas quebradas e um urro: “Não suporto vocês aqui. Saiam!” — relatou a estudante de 22 anos. — Era muito ódio, muita intolerância.

A polícia foi acionada e o boletim de ocorrência foi registrado na 10ª DP, de Botafogo, pelas partes agredidas e mais quatro testemunhas, incluindo Maria Clara. Segundo a estudante, as pessoas machucadas não foram tratadas pelos policiais “com o mínimo de respeito à condição de vítima”.

— Eu e minhas amigas nos prontificamos a testemunhar, mas, na delegacia, tudo estava muito lento, até minha mãe, que é advogada, chegar e o processo melhorar levemente — afirmou Maria Clara, indignada porque outras testemunhas não quiseram prestar depoimento. — Eu não podia deixar isso passar, não podia me omitir como cidadã.

Thiago Bassi, organizador do protesto Beijo na Praça, reclamou da postura dos policiais. 

— O que vi foi uma covardia. Nós, os manifestantes, fomos agredidos com pedaços de madeira e garrafas quebradas. A Indianara foi jogada ao chão com um mata-leão, e outro rapaz recebeu vários chutes na cabeça — disse Bassi, que pretende acionar um dos Centros de Referência de Promoção da Cidadania LGBT para dar entrada nos processos legais contra o bar e denunciar a suposta negligência policial. — Não vamos deixar isso barato. O bar vai sofrer sanções e já estamos organizando um novo ato lá para esta semana.

No Rio, a Lei Municipal 2.475, de 1996, pune a discriminação praticada contra qualquer cidadão homossexual, bissexual ou transgênero em estabelecimentos comerciais, industriais e repartições públicas com multa e cassação do alvará. A reportagem não conseguiu entrar em contato com o proprietário da lanchonete.

OUTRO LADO DA HISTÓRIA

Clientes do bar presentes na hora da confusão contam uma versão diferente da briga. Segundo um jovem que preferiu não se identificar, o grupo de ativistas LGBT chegou ao bar de madrugada com o megafone e incomodando os fregueses. O proprietário da lanchonete teria pedido para os manifestantes se retirarem por conta do barulho. A troca de ofensas teria começado nesse momento e escalado até a violência física.

— Vi os dois lados se agredirem com garrafas, mas, como os manifestantes estavam em desvantagem numérica, levaram a pior — contou a testemunha, que, no entanto, viu funcionários do bar pegarem pedaços de pau para ameaçar os manifestantes. —O que aconteceu foi errado. A violência nunca é a saída, mas os funcionários do bar não atacaram aquelas pessoas. Foi uma agressão mútua que começou por conta do transtorno que o grupo estava causando. Não teve nada a ver com homofobia.

Outra frequentadora ressaltou que o bar recebe regularmente gays, lésbicas e transexuais, que são tratados da mesma maneira que os heterossexuais.

— O que aconteceu ontem foi uma confusão de bar, horrorosa, infeliz, desnecessária, de madrugada, de bêbados e pessoas irritadas e estressadas (...) Não foi um ato de homofobia — escreveu ela numa rede social.

Frequentadores do bar marcaram para o domingo um evento em apoio ao estabelecimento, às 19h. Segundo os organizadores, “não existe qualquer tipo de preconceito ou homofobia por parte do bar e/ou de seus atendentes”.

Em nota divulgada na página do Durangos em uma rede social, o proprietário do estabelecimento, Alexandre Flores, afirmou que não detalharia “como aconteceu e os prejuízos para todos”: “Um desvio no contexto pode se transformar em pretexto para a mentira e se transformar em verdade. Mas, neste ponto, deixo para as autoridades competentes apurarem e tomarem as medidas cabíveis aos lados envolvidos. Já que está anexado ao processo a gravação da ligação que fiz à Polícia Militar solicitando urgência para resguardar e zelar pela tranquilidade”. 

Ainda de acordo com a nota, Flores ressalta que o bar é “eclético e de livre expressão em todos os fundamentos”.

ATO FOI REAÇÃO A AGRESSÕES

O protesto em Botafogo, que começou por volta das 18h de quarta-feira, foi uma reação ao ataque sofrido por um casal gay que trocava beijos na Praça São Salvador, em Laranjeiras, na madrugada do dia 1º de março. Segundo os organizadores, dois rapazes trocavam carícias quando foram agredido com garrafas por frequentadores de um bar da região. Na ocasião, a polícia e os responsáveis pelo estabelecimento não teriam prestado auxílio.

Depois de uma manifestação pacífica na última sexta-feira, na própria Praça São Salvador, o núcleo organizador do evento, a Frente Beijo na Praça, marcou um novo ato para o dia 1º de abril, o Dia da Mentira, para “contrariar a máxima de que homofobia não existe”. O início da rua Voluntários da Pátria, conhecido como Baixo Botafogo devido a grande quantidade de bares, foi escolhido como palco do beijaço por conta de relatos de gays e lésbicas que dizem já ter sofrido assédio de funcionários e frequentadores dos estabelecimentos do local.

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