A ONG Rio da Paz fez, na manhã desta terça-feira (13), um ato em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), no Centro da cidade. Com pneus, o grupo fez uma réplica do chamado "forno micro-ondas", simbolizando as vítimas de desaparecimento que tiveram o corpo queimado. O ato foi realizado durante uma audiência pública sobre os casos dos desaparecidos no estado, criada pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj.
"Um manequim coberto com véu e com máscara foi levado para a sala onde estava sendo realizada a audiência como lembrança às autoridades públicas presentes da grave e inaceitável prática criminosa", contou o presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa.
Um pouco antes, um grupo de oito atores também fez uma encenação em frente à Alerj para alertar sobre as pessoas desaparecidas no estado. "A gente como artista quer chamar a atenção da população para este problema. É uma intervenção artística. O Amarildo teve muita
repercussão da mídia, mas há muitos desaparecidos", disse a atriz Thayla Ayala, que integra o grupo chamado "Fazer o certo", lembrando o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde o dia 14 de julho, após ser abordado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha.
A mulher de Amarildo, Elisabete Gomes da Silva, também está na Alerj para participar da audiência pública. "Eu só quero saber onde está o meu marido. Meu marido sumiu e não tenho nenhuma resposta, ninguém sabe de nada. Eu não tenho mais esperanças de que ele volte [vivo]. Ele sumiu, evaporou e ninguém sabe. Estou tendo forças para continuar e lutar com apoio de Deus e dos amigos", afirmou.
A irmã de Amarildo, Maria Eunice Dias Lacerda, também falou em nome de outros desaparecidos. "Não é só o Amarildo que está desaparecido. São muitos outros também. Precisamos dar um basta. A gente precisa se unir. Eu espero que essa audiência ajude a esclarecer o que a gente quer saber, que são esses crimes todos sem solução", disse.
"Sem informação não dá para avançar. É preciso ter uma política pública específica em relação a essas pessoas", afirmou o ator Pedro Valério, que também faz parte do grupo "Fazer o certo", que conta com cerca de 40 integrantes.
Segundo o presidente da ONG Rio de Paz, mais de 35 mil pessoas desapareceram no estado do Rio entre 2007 e 2013. "A dignidade da vida humana precisa ser respeitada. Temos medo que casos de homicídios sejam colocados no número de desaparecidos", afirmou Costa.
O presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj, deputado Marcelo Freixo (Psol), afirmou que foram quase seis mil pessoas desaparecidas em 2012. "A gente não tem política pública para isso. Queremos dados mais qualificados. A ausência destas informações não nos permite um avanço no diagnóstico", avaliou Freixo. "Essa audiência na Alerj já estava marcada antes do desaparecimento do Amarildo. A Secretaria de Seguranca falar apenas que são seis mil desaparecidos é muito preocupante", completou ele, lembrando ainda do caso do desaparecimento da engenheira Patricia Amieiro.
O empresário Adriano Amieiro, irmão de Patrícia, também participou da audiência. "O corpo da minha irmã foi alvejado de tiros e a gente aguarda o julgamento. Estamos nessa luta há cinco anos. Esperamos que as autoridades deem um novo rumo porque quando não há corpo, não há crime. A legislação para ocultação de cadáver tem que ser mais rígida", afirmou.