Um avião com agentes da Força Nacional chegou a Fortaleza no fim da manhã desta quinta-feira (20). A aeronave partiu de Brasília por volta das 8h, atendendo ao pedido feito pelo governador do Ceará, Camilo Santana, ao Governo Federal, na quarta-feira (19), para reforçar a segurança do estado, após batalhões da Polícia Militar serem invadidos e carros da polícia terem os pneus esvaziados. Além das tropas federais, o governo cearense também enviou ofício solicitando apoio das forças armadas, por meio de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). As informações são do G1.
O envio da Força Nacional foi autorizado, na quarta, pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, após pedido de Camilo. Homens e mulheres da Força Nacional baseados na cidade pernambucana de Paulista já haviam se deslocado para o Ceará e chegaram à capital na manhã desta quinta-feira.
As tropas federais devem ficar no Ceará pelos próximos 30 dias. Um segundo voo da Força Nacional partindo de Brasília com destino a Fortaleza tem embarque marcado para as 15h. No total, serão 300 agentes da Força Nacional atuando no Ceará, além de um reforço de 212 policiais rodoviários federais.
Até o início desta tarde, o pedido de GLO feito por Camilo Santana ao presidente da República ainda não havia sido deliberado, segundo informou o governo do Estado. O G1 entrou em contato com a Presidência da República e aguarda um posicionamento.
Batalhões da polícia do estado foram atacados por pessoas encapuzadas entre a terça-feira (18) e a quarta (19). Segundo o governador, as ações de vandalismo foram provocadas por homens mascarados e "alguns policiais", além de "mulheres que se apresentam como esposas de militares". A Secretaria de Segurança Pública do Ceará (SSPDS) confirmou que mais de 300 PMs estão respondendo a inquéritos militares e procedimentos administrativos na Controladoria de Disciplina por envolvimento nos atos.
Também na quarta-feira, o senador licenciado Cid Gomes foi baleado durante uma manifestação de policiais na cidade de Sobral, interior do Ceará. Cid tentava entrar com uma retroescavadeira em um batalhão onde PMs estavam amotinados, quando foi atingido por dois disparos. Ele foi socorrido em um hospital do município e, após deixar a UTI, recebeu transferência para Fortaleza.
Camilo Santana comunicou que entrou em contato com ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, general Luiz Eduardo Ramos; e com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, para informar sobre a situação no estado e solicitar apoio de tropas federais.
"Estou fazendo tudo o que for necessário, dentro da lei, para garantir a segurança dos cearenses, e punir todos aqueles que busquem ameaçá-la", disse Santana.
Afastamento de policiais
O governador acrescentou que determinou o afastamento de policiais que forem identificados participando de "atos de indisciplina e vandalismo".
"Diante desses atos de indisciplina e vandalismo praticados por alguns grupos determinei, já ontem, que todos os policiais envolvidos em atos que configurem crime militar sejam afastados, respondam a Inquérito Policial Militar, instaurado pelos comandos; respondam também a processo administrativo disciplinar, instaurado pela CGD; e tenham o salário cortado imediatamente".
Além disso, batalhões amanheceram fechados nesta quinta-feira (19) em Fortaleza e no município de Caucaia.
Na tarde desta terça-feira (18), três policiais foram presos por atos grevistas em Fortaleza, contrariando a decisão da Justiça que determina a proibição de movimentos e protestos por reivindicação salarial de militares no Ceará.
Segundo o secretário da Segurança, André Costa, "são pessoas que se autointitulam como policiais militares. Parte já foi identificada e estamos trabalhando para identificar todos. Tem pessoas também se identificando como esposas de policiais e elas vão responder também por crimes, ninguém ficará de fora. Tem mulheres colocando até mesmo crianças na porta de um quartel. Elas (mulheres de PMs) podem responder a crimes de revolta e todas serão investigadas e, inclusive, por atos de vandalismo."
Batalhões invadidos
No 22º batalhão, 10 veículos da corporação foram levados de dentro do local por um grupo de cerca de 30 pessoas. Agentes que trabalham no local relataram que os homens não aparentavam estar armados e que não houve truculência na ação.
No 17º batalhão, cerca de 20 suspeitos mascarados invadiram o pátio e rasgaram, com facas, os pneus de carros da polícia e de veículos particulares de agentes.
Durante a manhã desta quarta-feira (19), outro batalhão foi atacado. Viaturas oficiais tiveram pneus furados no 18º Distrito Policial, que fica no Bairro Antõnio Bezerra, em Fortaleza.
Ação parecida foi registrada nesta terça-feira (18) no 12º batalhão de Caucaia (na Região Metropolitana da capital cearense), quando homens esvaziaram os pneus de veículos da PM. No local, estavam agentes de segurança de plantão, além de mulheres e familiares de policiais que protestam por aumento salarial para a categoria. Segundo um policial ouvido pelo G1, também não houve confronto na unidade.
Representantes da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SPPDS) se reuniram nesta quarta-feira (19) com o governador do Estado, Camilo Santana, para definir ações relacionadas aos atos. O órgão ainda não divulgou um posicionamento oficial sobre o que ocorreu nos Batalhões.
As três ações foram realizadas após o início da tramitação, na Assembleia Legislativa do Ceará, da proposta de reajuste salarial de policiais e bombeiros militares do estado, na terça-feira (18). O projeto tem gerado crise entre parte da categoria e o governo estadual.
De acordo com decisão da Justiça do Estado do Ceará (TJCE), agentes de segurança que promoverem manifestações e paralisações poderão ser presos. Ao todo, 150 policiais já tiveram inquéritos instaurados e três foram presos por furar pneus de carros da PM.
Policiais presos
Na tarde desta terça-feira (18), três policiais foram presos por atos grevistas. Armados e com balaclavas, eles esvaziaram pneus de viaturas e abandonaram um carro da polícia no cruzamento das avenidas Sargento Hermínio e Coronel Carvalho, no Bairro Antônio Bezerra, em Fortaleza.
Os soldados, que atuam no 14º Batalhão da PM, em Maracanaú, na Grande Fortaleza, foram presos em flagrante por equipes do Comando de Polícia de Choque (CPChoque).
A Justiça determinou na segunda-feira (17) que os policiais não podem realizar protestos e atos grevistas. Também ficou decidido que, em caso de manifestação por aumento salarial, os policiais podem ser presos.
Inquéritos contra policiais envolvidos em crimes
O Governo do Ceará informou, na noite desta terça-feira (18), que irá instaurar inquérito policial militar, bem como processos administrativos disciplinares, contra todos os agentes de segurança que se envolverem em atos que configurem crime militar. Somente nesta terça, 150 policiais já tiveram inquéritos instaurados.
Ainda de acordo com o Governo, os policiais que abandonarem o serviço também passarão por todas as sanções previstas em lei, além da exclusão da folha de pagamento pela Secretaria de Planejamento. "Os comandos não irão tolerar atos de indisciplina e quebra de hierarquia", diz nota enviada pelo governo.
Conforme a decisão da Justiça, fica determinado:
- que as associações se abstenham de atuar ou promover reuniões voltadas para discussão de melhorias salariais;
- que se abstenham de financiar ou de participar de assembleias para debater greve da categoria;
- que, em caso de paralisação da Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros Militar, as associações demandadas abstenham-se de promover, de atos grevistas.
- A decisão da Justiça ocorre em meio a atos de policiais que reivindicam uma reestruturação salarial da categoria. A proposta foi enviada à Assembleia Legislativa pelo governador do Ceará, Camilo Santana, na semana passada.
- Conforme a proposta, o salário-base de um soldado será de R$ 4,5 mil, com aumento progressivo até 2022. O salário atual da categoria é de R$ 3,2 mil. A proposta inicial, rejeitada pelos policiais, era aumento para R$ 4,2 mil até 2022.
Polícia Civil nas ruas
No início da noite desta terça-feira (18), cerca de 21 equipes formadas por inspetores, escrivães e delegados de Polícia Civil passaram a reforçar a segurança, de forma ostensiva e preventiva, no Estado. A operação terminou às 6h desta quarta-feira (19).
Os agentes atenderam à convocação do governador do Estado, Camilo Santana, para realizar ações preventivas na capital cearense, Região Metropolitana e acidades do interior, como Juazeiro do Norte e Sobral.