SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Quem olhar de fora o avião presidencial de Vladimir Putin pouco verá de diferente para um avião comercial comum. Notará que é grande, que falta a marca de uma companhia aérea e que a pintura leva as cores da Rússia e uma bandeira do país.
Trata-se de um Ilyushin IL-96-300 PU, modelo inicialmente projetado para voos comerciais, mas que foi modificado para garantir o transporte de um dos chefes de Estado mais poderosos do mundo.
Hoje, ao que se sabe, tem de assentos de couro ao temido botão nuclear que dispara as poderosas ogivas do Exército russo -além, é claro, de tecnologia de segurança de ponta.
Apelidada de "Kremlin voador", a aeronave é equipada para que Putin possa comandar todo o país em pleno voo, mesmo em caso de uma guerra, como a que o país empenha na Ucrânia.
A escolha da aeronave de fabricação russa, ela não é produzida em série (como modelos da Boeing, responsável pelo Air Force One, avião do presidente dos Estados Unidos), mas sob demanda. E as letras "PU", do nome da aeronave, significam que o modelo foi feito com modificações especiais para atender à frota presidencial.
Há uma mensagem diplomática em sua escolha: não só de orgulho de um produto nacional, mas também algum status de exclusividade, já que, segundo o site especializado CH-Aviation, atualmente há apenas cinco modelos dessa aeronave ativos no mundo -e só um usado para voos comerciais, em Cuba.
O avião fez seu primeiro voo em 1998 e, desde então, o que se tornou um problema para as companhias aéreas virou uma solução para a Força Aérea russa.
O fato de o IL-96 ter quatro turbinas faz com que seu custo com manutenção e combustível seja muito maior. Por outro lado, garante não só maior autonomia, como mais segurança (seria possível pousá-la, de forma emergencial, inclusive com apenas um dos motores funcionando).
A versão comercial tem uma autonomia de voo de quase 12 mil quilômetros, considerando sua capacidade máxima (300 passageiros). Com muito menos gente e ainda modificada para ter mais combustível, a versão presidencial certamente pode voar muito mais tempo sem parar para abastecer.
Poucas pessoas no mundo já entraram no Ilyushin presidencial de Vladimir Putin. Por isso, é praticamente impossível conhecer seu interior em detalhes -até porque a aeronave passa constantemente por melhorias e modificações.
Uma das poucas coisas que o público em geral consegue ver é o lado de dentro da porta do avião, graças à tradicional cerimônia de embarque e desembarque de chefes de Estado.
E mesmo por fotos já é possível notar que esse pequeno pedaço da aeronave muda de tempos em tempos –há imagens em que ele é de madeira e com uma alavanca de ouro, outras em que é totalmente branco.
O que se sabe por meio de fotos, vazadas ou divulgadas, é que a aeronave presidencial esbanja luxo e pode servir de moradia por bastante tempo em caso de necessidade –por exemplo, em uma guerra.
Há salas de reunião com símbolos da Rússia, assentos de couro e um banheiro com uma pia de ouro –o Kremlin diz que esse detalhe pertenceria a uma versão antiga da aeronave. A decoração em estilo neoclássico é de autoria do pintor russo Ivan Glazunov, filho de Ilia Glazunov, um dos artistas mais condecorados do país e que já foi reitor da Academia de Belas Artes de Moscou.
Além de um enorme quarto para descansar, Putin também tem a seu dispor uma academia completa.
O custo de cada aeronave é incerto. Segundo o site especializado Simple Flying e a revista americana Newsweek, foi de US$ 504 milhões (R$ 2,4 bilhões, na cotação atual). Mas é impossível saber quanto mais teria sido gasto para personalizar seu interior e, principalmente, construir seu sistema de segurança.
Reza a lenda que, sempre que Putin viaja, dois aviões iguais são totalmente preparados e ele escolhe em qual vai voar no momento em que chega para o embarque. Os dois decolam, um com o ilustre passageiro, outro para despistar inimigos ou para tomar o lugar do primeiro em caso de necessidade.
Segundo o ex-piloto de Putin Konstantin Tereschenko disse à agência Gazeta Russa, há também um "grupo avançado" de técnicos que viaja e tem a "capacidade para até desmontar e remontar todo o avião" se for preciso.
O certo é que o presidente tem ao seu dispor um aparato com o qual é capaz de governar o país mesmo em deslocamento e apertar o "botão nuclear" para disparar algumas das ogivas de maior poder de destruição que a humanidade já viu.
Também existiriam mecanismos para tornar o avião invisível para radares, sistemas de defesa contra mísseis aéreos e uma cápsula de fuga, para o caso de tudo isso falhar.
Uma frota de caças acompanharia a aeronave sempre que ela inicia voo, mesmo em espaço aéreo russo.