Ainda pouco recente em um ambiente escolar, falar sobre diversidade deveria ser mais comum, sendo o Brasil um dos países mais intolerantes do mundo quando se trata de diversidade sexual. A discriminação não poupa nem mesmo as escolas. Diante de um preconceito que mata, é urgente discutir o assunto dentro de sala de aula. E quem leva o discurso da diversidade através da literatura é o diretor de teatro Roberto Muniz Dias. A escola estadual Benjamin Baptista, localizada no centro de Teresina, teve um dia inteiro dedicado ao assunto.
Na manhã de ontem (20), 700 alunos da escola, junto a professores e coordenadores, participaram do bate-papo sobre questões de gênero, violência sexual e a sensibilização do outro. O dramaturgo e mestre em Literatura teresinense, Roberto Muniz, foi contemplado com uma bolsa pelo Ministério da Cultura, há três anos, com o projeto "Literatura e diversidade sexual", que em resumo, pretendia fomentar a leitura e a discussão sobre diversidade sexual e de gênero. O projeto, que nasceu no Piauí, deu tão certo que já percorreu seis capitais brasileiras.
"Em 2016, nasceu o projeto e a bolsa ajudou nisso. Meu trabalho contempla a cultura LGBT na escrita, na ficção, no teatro, e então levei o projeto para seis capitais, levando as oficinas sobre o que é gênero, diversidade, orientação sexual nas escolas, e buscamos orientar e olhar o outro respeitando suas diferenças. Manaus foi a terceira cidade a receber o projeto, e ganhou uma dimensão maior, onde começamos a trabalhar capacitando pessoas", disse.
A escola estadual Benjamim Baptista tem 46 anos de existência e vê a diversidade com bons olhos. O perfil de estudante do Benjamim Baptista tem muito a contribuir para a diversidade dos debates em sala de aula, ainda que traga dificuldades iniciais de aprendizagem por problemas de formação básica. É o que aponta o diretor da escola, professor Evandro Sousa. "Não podemos fechar os olhos para essa realidade. Quando recebemos o projeto do professor, abraçamos porque contempla o acolhimento à diversidade religiosa, de gênero e racial. Uma parcela dos alunos da escola se identifica com a temática LGBT", argumenta o diretor da escola, que possui 1.107 alunos.
O aluno transgênero, de iniciais V. L., que é menor, chegou na escola este ano e elogiou o projeto, que é considerado uma ferramenta necessária de inclusão. "O projeto teve um incentivo do diretor, visto que muita gente não encontra o acolhimento em casa, mas sim na escola e nas universidades. Quando não temos esse acolhimento, ficamos muito para baixo e desistimos dos estudos. Queremos um lugar que nos sentimos bem para estudar", conta.
Quem teve contato pela primeira vez com o tema foi o estudante do 2º ano do Ensino Médio, Emanuel Rodrigues, 16 anos. "Não conhecia o assunto e acho importante. Temas como esse ajudam a combater a discriminação", afirmou o aluno.
Educação é pluralidade
No artigo n° 206 da Constituição Federal, além da liberdade de aprender e de ensinar, o texto estabelece o pluralismo de ideias. Já a Lei de Diretrizes e Bases para Educação (LDB) de 1996 coloca entre os princípios da Educação, o respeito à liberdade e o apreço à tolerância.
Tratar da diversidade na escola não é, portanto, apenas uma forma de atender ao princípio constitucional de pluralismo de ideias. Significa promover a tolerância entre as diversas maneiras de se de expressar e os diferentes pensamentos e modos de viver presentes na nossa sociedade. Para o dramaturgo, o bate-papo cumpre o papel de divulgar essas novas expressões de gênero.Roberto Muniz abordou a questão da diferença sexual fazendo também uma reflexão aos próprios estudantes.Na ocasião, os alunos receberam livros criados pelo próprio programa e cartilhas com um glossário constando dúvidas e informações pertinentes sobre esse debate.