O papa Bento XVI evitou fazer uma referência direta ao escândalo de pedofilia que pesa sobre a Igreja Católica em sua tradicional mensagem e bênção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo) e disse que a humanidade vive uma profunda crise de conversão espiritual e moral neste domingo, 4.
Em pronunciamento a milhares de fiéis na Praça de São Pedro, no Vaticano, em seu discurso de Páscoa, o papa disse que a humanidade necessita "não apenas de retoques superficiais", mas de uma mudança na consciência. "Precisa da salvação do Evangelho para sair de uma crise profunda, e que pede mudanças profundas, começando pelas consciências", disse.
Mais cedo, na missa da Ressurreição, o decano do Colégio de Cardeais, Angelo Sodano, disse que os fiéis não foram afetados pela "fofoca mesquinha" do momento, em uma referência ao escândalo criado com alegações de abuso sexual de crianças por padres e sugestões de que houve acobertamento pela hierarquia da Igreja. Ao felicitar o papa pela Páscoa, ele disse que "todo o povo de Deus" apoia o Sumo Pontífice.
Alegações de abuso sexual por parte de padres - algumas supostamente ocorridas há décadas - surgiram recentemente em vários países, inclusive Suíça, Holanda, Áustria, Alemanha, EUA e Irlanda.
Pedido de perdão
Também neste domingo, em entrevista ao jornal Corriere della Sera, o pregador-chefe da Casa Pontifícia, padre Raniero Cantalamessa, pediu desculpas por ter comparado as críticas à Igreja ao antissemitismo. "Se - e não foi minha intenção - eu feri a sensibilidade de judeus e de vítimas de pedofilia, eu lamento verdadeiramente e peço perdão", disse.
O comentário foi condenado por grupos judaicos e de apoio a vítimas de pedofilia. O porta-voz do Vaticano disse que esta não era a posição oficial da Igreja.
O silêncio do papa sobre os escândalos pode desapontar muitos comentaristas e vítimas de abusos que esperavam algumas palavras sobre o assunto. "Depois da ressurreição, a Igreja sempre encontra a história cheia não apenas de alegria e esperança, mas também de dor e angústia", disse Bento XVI.
Na mensagem de Páscoa, o Sumo Pontífice orou pela paz no Oriente Médio, terra onde Jesus Cristo viveu, pelo fim do narcotráfico na América Latina e pelas vítimas dos fortes terremotos que abalaram o Haiti e o Chile. Ele rezou ainda pelo fim dos conflitos na África e pelos cristãos que são perseguidos por sua fé no Iraque e no Paquistão.
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