Muitas vezes abandonadas ainda na maternidade, entregues pelas mães ao Juizado de Menores ou mesmo encontradas em vias públicas ainda envoltas no cordão umbilical. A orfandade é o destino de muitas crianças recém-nascidas em Minas Gerais que, por motivos variados, após o nascimento perdem abruptamente qualquer laço afetivo com mãe, pai e familiares. Somente no ano passado em Belo Horizonte, 41 bebês foram abandonados e encaminhados ao Conselho Tutelar - dentre eles, 32 crianças chegaram ao juizado direto da maternidade, oito foram entregues pelas mães e uma encontrada em via pública.
No Cadastro Nacional de Adoção (CNA), as crianças recém-nascidas têm enorme valor. A procura por adoção em Minas Gerais, e Belo Horizonte em específico, é grande. Em todo o Estado, 4.610 pretendentes estão cadastrados. Na capital mineira, são 596 casais habilitados a adotar uma criança. E é comum entre a maioria dessas pessoas a ideia de que os recém-nascidos são as melhores adoções. Mesmo com tantos bebês abandonados pelas mães ao nascerem, a oferta ainda é pouca diante da demanda e origina filas de espera que podem demorar em média três anos para que o casal obtenha a guarda do filho pretendido.
A pedagoga Karinne Mendes, 37 anos, e o analista de sistemas Carlos Vieira, 34 anos, não escondem o desejo de ter uma criança recém-nascida. Eles entraram com o pedido de cadastro na CNA em agosto do ano passado e, depois de muitas avaliações, foram habilitados a adotar a partir de março deste ano. A pedagoga sabe que o perfil desejado pelo casal é bastante concorrido, mas corre em busca de um sonho. "O perfil que a gente quer é bebê, não definimos menino ou menina, mas escolhemos a cor branca. O critério é o que o casal tem de sonhos. Temos os nossos sonhos de vê-lo crescer juntos. Temos que conciliar a demanda e o nosso sonho", disse.
De acordo com a Comissão Estadual Judiciária de Adoção do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (Ceja-MG), no Estado, 617 crianças são aptas a adoção e 79 em Belo Horizonte. "As pessoas têm uma visão equivocada de que o processo é demorado. É importante ressaltar que não é isso. As pessoas procuram determinado perfil de bebês que são muito procurados. O que há de difícil é a ansiedade. É uma coisa que a gente não tem. Temos que criar essa maturidade e usar o tempo a nosso favor de crescimento enquanto pais para receber essa criança. Os casais sofrem muito em relação à ansiedade", disse o analista.
Mas vale a pena lembrar que existem outras possibilidades de encontrar a criança certa. O Grupo de Apoio a Adoção de Belo Horizonte foi criado para orientar, instruir e preparar os pretendentes que aguardam adoção. Através de palestrar com profissionais, entrevistas e debates, o grupo se reúne uma vez por mês para abordar diferentes temas referentes ao processo.
Segundo uma das coordenadoras do grupo, Rosália de Oliveira, 52 anos, a adoção tardia é uma opção. "Se optar por um perfil mais abrangente, é mais fácil, o tempo é menor. Isso é muito particular de cada casal. Trabalhamos na possibilidade na ampliação do perfil de adoção. Tentamos mostrar que a idade depende do casal. Cada casal ou pessoa vai ter que se perguntar o que realmente ela quer. Não existe um filho ideal. A adoção não é complicada como as pessoas pensam. É a forma de como é tratada. A criança precisa ser reconhecida como filha. O caminho é a conscientização a médio e longo prazo para essas crianças maiores", disse.
Karinne e Carlos não abrem mão do sonho, mas também são abertos a novas possibilidades. Tudo, segundo eles, se resume ao carinho e à educação que tem de ser proporcionada à criança escolhida. "Estamos também nos preparando para ter uma adoção diferente, tardia, com criança mais velha. Precisamos amadurecer psicologicamente para receber essa criança. Mas, primeiro, a gente tem que ver a nossa necessidade. Depende de cada pessoa. É o amor que você vai dar para ela, é o que vai mudar a vida dessa pessoa", completou.