A Fundação Biblioteca Nacional (FBN), vinculada ao Ministério da Cidadania, é responsável pela guarda de parte significativa da memória do Brasil. São mapas, imagens, documentos, fotos, manuscritos, livros, jornais, revistas e arquivos sonoros que vão do século XV até os dias atuais. Para democratizar o acesso a toda essa riqueza, a instituição investe na digitalização do acervo. Já são mais de 2 milhões de itens disponíveis on-line no portal BN Digital, com acesso gratuito.
“Tudo que está na biblioteca digital é de livre acesso aos pesquisadores e à população em geral. Não é necessário cadastro. É só entrar lá, fazer a busca e encontrar o que quer”, destaca o coordenador de projetos da BN Digital, Vinicius Martins. A maior parte é composta por periódicos (livros e revistas). Parte deles já está em domínio público, ou seja, para o uso, não é necessário o pagamento de direitos autorais.
Na BN Digital, há coleções completas de revistas que marcaram época, como O Cruzeiro e Manchete, e jornais como o Jornal do Brasil, cuja versão impressa parou de circular em 2010. Nesses casos, as obras foram cedidas por seus titulares e ainda há algum tipo de restrição de uso. O próprio site informa o usuário sobre a questão.
Vinicius Martins explica que as Bibliotecas Nacionais, como é o caso da FBN, têm o papel de “preservar e dar acesso ao patrimônio bibliográfico e à memória nacional”. No entanto, até o início do ano 2000, quem precisasse ou quisesse ter acesso a algum material teria de ir pessoalmente à sede da BN, no centro do Rio de Janeiro. “Em um país de dimensões continentais como o Brasil, isso era um limitador. Com o advento da internet, se viu na Biblioteca a possibilidade de construir uma ferramenta capaz de dar conta desta questão do acesso de forma mais ampla, mais geral”, afirma.
A utilização da BN Digital vem crescendo ano a ano. Em 2018, foram contabilizados 20.483.646 de acessos. Em 2017, foram 20,1 milhões de acessos; em 2016, 15,6 milhões; em 2015, 11.543.019 e, em 2014, 6.039.063. No ano passado, as páginas visualizadas em cada acesso também passaram a ser contabilizadas: foram 53 milhões.
“Acesso praticamente todos os dias”
“Eu uso direto [a BN Digital] há uns três anos. Acesso praticamente todos os dias. Se eu fosse fazer [a pesquisa] no acervo físico, não daria conta, porque eu teria que procurar muito”, conta Luiza (Foto: Acervo pessoal)
Uma das pessoas que contribui para essas estatísticas é a historiadora Luiza Amador, que mora em Belém. Doutoranda da Universidade Federal do Pará, ela precisa pesquisar periódicos antigos para produzir sua tese, na qual retratará a prostituição na capital paraense durante a “Belle Époque”, de 1890 a 1920. “Eu fiz toda a minha pesquisa acessando jornais daqui do Pará. É muito legal porque você joga na busca a palavra ‘prostituição’ e ele varre tudo que tem de prostituição e te dá direto a notícia”, conta a pesquisadora.
A partir dos documentos que conseguiu na BN Digital, Luiza já registrou, no primeiro capítulo de seu trabalho, o trajeto dos promotores das prostitutas que vinham do exterior até o Norte do Brasil. “Eu uso direto [a BN Digital] há uns três anos. Acesso praticamente todos os dias. Se eu fosse fazer no acervo físico, não daria conta, porque eu teria que procurar muito”, avalia. “Era como se fosse procurar uma agulha no palheiro. É muito difícil de fazer essas conexões e, on-line, eu consegui. Joguei o nome do indivíduo e aí foi varrendo. Isso foi muito importante para a minha pesquisa”, ressaltou.
BN Digital por dentro
Inaugurada em 2006, a BN Digital foi ao ar com cerca de 3 mil itens. Hoje, uma equipe de 29 profissionais atua no tratamento, na curadoria e na divulgação do acervo a ser disponibilizado. Cada item leva em média de 15 a 30 dias para sair “da gaveta onde está guardado até estar disponível para o público na internet”.
Cada item é digitalizado com três tipos de qualidade: altíssima (que fica no acervo da BN), média (disponibilizada para publicações impressas) e baixa (apenas para visualização na internet).
Para serem digitalizados, os documentos passam por uma curadoria, que usa como critérios a raridade; o fato de serem peças únicas; se o material está em domínio público; e se os temas estão entre os de maior procura pelo público, como genealogia, futebol e questões do cotidiano.
Ao longo dos anos, parcerias com instituições públicas e privadas, como o Instituto Moreira Salles, a Fundação Casa de Rui Barbosa e o Departamento do Patrimônio Histórico da Marinha, aumentaram e qualificaram o acervo.
Vinicius Martins conta que, com a aproximação dos 200 anos da Independência do Brasil, os técnicos da FBN já estão buscando materiais relacionados ao assunto. “A curadoria é uma construção coletiva. A gente tenta sempre colocar disponível conjuntos integrais porque o documento solto, às vezes, não faz sentido para a pesquisa, e ficamos sensível ao que os usuários querem”, afirma. (Secretaria de Cultura)