O fechamento das fábricas da Ford no Brasil, anunciado na última segunda-feira, pegou de surpresa um importante cliente da montadora nos últimos tempos. No ano passado, ao menos 14 carros da marca norte-americana foram adquiridos pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional), órgão responsável pela segurança do presidente Jair Bolsonaro, do vice-presidente Hamilton Mourão e de seus familiares, para renovar a frota presidencial.
O modelo escolhido foi o Ford Fusion, todos da versão topo de linha Titanium, equipada com motor 2.0 turbo de 248 cv e trazem blindagem de nível III-A - padrão no mercado nacional, capaz de resistir a disparos de pistolas e até submetralhadoras.
Todos os blindados trazem pintura preta e são idênticos, de forma a dificultar a identificação de quais deles estão transportando as autoridades e seus parentes durante os deslocamentos da comitiva.
As informações referentes à frota de blindados que atende o presidente da República constam de edital aberto em agosto de 2020 pelo GSI para a contratação de seguro total dos veículos - incluindo a respectiva blindagem, com valor estimado de R$ 65 mil para cada carro, considerando os preços da época.
Também informa que cada sedã traz R$ 3,5 mil em equipamentos de sinalização visual e sonora.
O edital traz valor de referência de R$ 72.312,52 para a contratação da cobertura dos 14 automóveis blindados e esclarece que estes "atendem o Presidente e Vice-Presidente da República, bem como seus respectivos familiares", bem como pontua que os sedãs eram zero-quilômetro na época, pois foram então "recém-adquiridos".
O documento também justifica a contratação do serviço, alegando que "os veículos a serem cobertos pelo seguro total estão sujeitos a acidentes que podem causar danos ao patrimônio da União e a terceiros e que a contratação do seguro proporcionará maior segurança no caso de envolvimento em sinistros".
UOL Carros procurou a assessoria de comunicação do GSI, questionando o total de veículos que atualmente atendem a Presidência, bem como os respectivos modelos e quanto custaram. O órgão respondeu que "não se manifesta sobre detalhes operacionais envolvendo a segurança do Presidente da República, Vice-Presidente da República e familiares".
As informações solicitadas também não foram localizadas no site do Gabinete de Segurança Institucional.
Presidente critica Ford
Um dia após a Ford confirmar o fim da produção de veículos no Brasil, Jair Bolsonaro afirmou que a empresa não "falou a verdade" sobre a decisão. Segundo o presidente, a montadora queria subsídios para manter suas fábricas no País.
Bolsonaro disse, ainda, que a Ford recebeu R$ 20 bilhões de incentivos fiscais nos últimos anos.
"Mas o que a Ford quer? Faltou a Ford dizer a verdade, né? Querem subsídios. Vocês querem que eu continue dando R$ 20 bilhões para eles como fizemos nos últimos anos? Dinheiro de vocês, impostos de vocês, para fabricar carro aqui? Não", disse o mandatário para apoiadores.
Na ocasião, Bolsonaro também citou a concorrência chinesa.
"Queriam renovar subsídio para fazer carro para vender. Agora, tem a concorrência também. Chinesa, entre outras. Saiu porque, em um ambiente de negócio, quando você não tem lucro, você fecha", cravou.
O adeus do Fusion
Antes de a Ford anunciar nesta semana o fechamento das suas fábricas no Brasil, decretando a aposentadoria de Ka, Ka Sedan e EcoSport assim que terminarem os respectivos estoques, a montadora já tinha encerrado a oferta do Fusion em maio do ano passado. A decisão de aposentar o sedã executivo aqui e em outros mercados vai ao encontro da estratégia de focar em SUVs e utilitários, mais rentáveis para a companhia.
O Fusion foi lançado no Brasil em 2006, em substituição ao Mondeo, e até ser descontinuado aqui passou por duas gerações e algumas reestilizações.
Sempre importado do México, o sedã de porte grande para os padrões brasileiros chegou a fazer relativo sucesso, chegando a acumular mais de 4.000 emplacamentos anuais em concorrência direta com o Hyundai Azera.
Espaçoso e bem equipado, era vendido aqui com seis airbags de série e, na mais recente geração, contava até com airbags integrados aos cintos de segurança traseiros.
Até por conta da rivalidade com o Azera, ganhou ainda na primeira geração a opção de motor V6 com tração integral, substituído na seguinte pelo 2.0 turbo que equipa os carros que hoje atendem Jair Bolsonaro.
Foi também na primeira geração que o sedã passou a ser comercializado com versão híbrida, tornando-se um dos primeiros automóveis do País a contar com essa tecnologia - antecipando a onda de eletrificação na qual a Ford e praticamente todas as grandes montadoras têm investido.
Sua retirada do mercado brasileiro já era esperada, após a matriz da companhia nos EUA iniciar o movimento para descontinuar seus hatches e sedãs.
Aconteceu três meses antes de o Fusion deixar de ser fabricado no México, a fim de liberar a linha de produção para o Bronco Sport - que será exportado para o Brasil.