Uma oficial do Corpo de Bombeiros, que se encontrava entre os 439 manifestantes presos durante a invasão do Quartel Central da corporação, no Rio de Janeiro, foi transferida neste domingo (5) para o 2º Grupamento de Bombeiro Militar, no Méier, zona norte da cidade. Outros quatro oficiais e cinco praças do grupo, que havia sido levado ontem (4) para a Corregedoria da Polícia Militar, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, foram transferidos para o Grupamento Especial Prisional (GEP) dos bombeiros, em São Cristóvão. Segundo informação da assessoria de imprensa da Polícia Militar, os demais manifestantes presos na Corregedoria estão sendo transferidos de forma gradativa para o Destacamento de Bombeiro Militar, situado no bairro de Charitas, em Niterói.
Ontem, o Bope (Batalhão de Operações Especiais) invadiu o Quartel Central pelos fundos, usando uma escada, e jogou bombas de efeito moral contra os cerca de 2.000 manifestantes, de vários batalhões da cidade, que ocuparam o local na noite de sexta-feira (3), para reivindicar melhores salários e condições de trabalho. Depois do tumulto provocado pela ação, os bombeiros foram presos e levados para a Corregedoria.
Lá, os manifestantes foram colocados em um campo de futebol, onde todos colocaram as mãos na cabeça e, num gesto de protesto, formaram a palavra SOS no campo, estendendo uma bandeira do Brasil dentro da letra O. Eles, que dizem receber o pior salário da categoria no país, reivindicam um aumento de R$ 950 para R$ 2.000.
"Vândalos"
Em entrevista coletiva dada ontem, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), chamou os bombeiros de "um grupo de vândalos, irresponsáveis". Ele, em seguida, anunciou a troca do comando da corporação devido "a um descontrole hierárquico absolutamente inconcebível". Na mesma hora, assumiu o coronel Sérgio Simões, que até então era secretário da Defesa Civil municipal, no lugar do coronel Pedro Machado.
Ele determinou a abertura de processo disciplinar contra os 439 bombeiros detidos (soldados rasos, cabos e sargentos) e pediu abertura de processo criminal ao Ministério Público. Segundo o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, o processo administrativo ?é que vai dizer se eles serão expulsos?.
Operação-padrão
Depois da prisão dos colegas, os bombeiros em serviço iniciaram na manhã de sábado (4) uma operação-padrão. Eles prometem ficar aquartelados e reduzir ao mínimo a saída para as ruas. Apenas chamadas de extrema urgência, como acidentes graves de trânsito ou incêndios de grandes proporções, serão atendidos.
No QG da corporação, entretanto, a informação é de que os serviços estão normalizados. Alguns bombeiros estão concentrados na escadaria da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e buscam adesão de populares para dar seguimento às manifestações de reivindicação por melhores salários.
Violência
Ontem, o presidente da Associação de Cabos e Soldados do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, Nilo Guerreiro, condenou a forma como a tropa de choque e o Bope invadiram o Quartel Central da corporação para dispersar a manifestação. Segundo ele, a entrada do Bope no quartel foi muito violenta.
?Esse é um sinal de que a segurança pública não está totalmente qualificada. Temos que estudar muito o assunto no Rio e no resto do país, porque foi uma demonstração de que não estamos realmente preparados para gerenciamento de crise", disse.
O presidente da entidade disse ainda que as associações de todo o país vão participar de uma reunião no Rio, na próxima segunda-feira (6), às 11h, para tomar uma posição conjunta de repúdio à iniciativa do governo estadual de invadir o quartel com uso da força.
?Tínhamos uma porta de diálogo aberta. Existe uma ala mais radical do Corpo de Bombeiros, que é o pessoal do Grupamento Marítimo, que realmente deveria ter um pouco mais de habilidade, mas que fez um trabalho praticamente isolado. Agora, as associações de classe deverão assumir definitivamente as negociações com o governo.?